LISBOA
Câmara de Lisboa sobre JMJ: “Não aceitamos mais pretensos
coordenadores que não fazem nada”
Vice-presidente da autarquia manda recado a José Sá
Fernandes sobre Jornada Mundial da Juventude
Luciano Alvarez
31 de Janeiro de
2023, 18:25
O BE e o PS
acusaram nesta terça-feira o executivo da Câmara Municipal de Lisboa (CML) de
“não prestar informações” e de “falta de transparência” relativamente à Jornada
Mundial da Juventude (JMJ), que se vai realizar na capital de 1 a 6 de Agosto
deste ano.
O tema começou
por ser evocado pela bloquista Isabel Pires durante a reunião da Assembleia
Municipal de Lisboa. Para esta deputada, a “indignação” que os portugueses têm
manifestado recentemente sobre os custos da realização da JMJ é “expectável”.
Lembrou mesmo que o executivo camarário tem orçamentado “42 milhões de euros em
quatro anos para habitação municipal e vai gastar 35 milhões numa semana” com a
realização da jornada.
Isabel Pires
repetiu várias vezes que “faltam explicações” do executivo sobre a JMJ,
lembrando que o BE já pede documentos e explicações há oito meses. E, logo a
seguir, lançou várias questões: porque optou o executivo “pelo financiamento
público”, lembrando que outros países que organizaram a jornada no passado o
fizeram sem dinheiro dos contribuintes. Questionou também o facto de estarem a
ser aprovados projectos por ajuste directo “que podem chegar aos cinco milhões
de euros”.
Pediu ainda
explicações sobre os custos dos palcos-altares que vão ser montados no Parque
Tejo, este orçado em cerca de 5,5 milhões de euros, e no Parque Eduardo VII,
que pode custar entre 1,5 e 2 milhões de euros.
Isabel Pires
questionou também os responsáveis da autarquia sobre o que está a ser feito
“para acautelar o impacto que a cidade vai ter com a visita de cerca de dois
milhões de pessoas” durante os seis dias da jornada.
“Pedimos, como o
já fizemos em Junho do ano passado, que seja facultado à assembleia municipal
toda a documentação sobre a JMJ. O executivo está a ser pouco transparente. Tem
da haver respeito pela transparência quando se fala da utilização de dinheiros
públicos”, afirmou a bloquista.
Às críticas do BE
juntou-se logo a seguir o PS. O deputado Manuel Lage começou por dizer que nada
tem contra a jornada, lembrou mesmo que, com a sua abstenção, o PS já tinha
viabilizado o pedido de empréstimo bancário de 15,3 milhões para despesas
relativas à jornada em reunião privada da CML, e que o também o viabilizará na
votação da AML, mas insistiu na “falta de transparência” do executivo.
O socialista
afirmou que, apesar de Carlos Moedas ter dito ao PS para se dirigir à Sociedade
de Reabilitação Urbana (SRU) para obter documentação sobre a JMJ, esta não
prestou qualquer esclarecimento.
Manuel Lage
lembrou ainda declarações de Carlos Moedas na noite de segunda-feira em Vila
Nova de Gaia, em que afirmou que, a partir de agora seria ele a “coordenar
directamente tudo aquilo que será feito” para a JMJ. “Soubemos que há agora um
novo coordenador. O senhor vice-presidente [Filipe Anacoreta Ribeiro] deixou de
ter este pelouro. (…) É o desnorte total”, afirmou.
Moedas em vez de Sá Fernandes
A resposta ao BE
e PS foi dada por Filipe Anacoreta Ribeiro. O vice-presidente da CML negou
qualquer falta de transparência e garantiu que o executivo “sempre esteve
empenhado em que o projecto [da jornada] fosse de diálogo”.
O autarca lembrou
que a candidatura de Lisboa à JMJ começou em 2018 e foi ganha em 2019 e diz
nunca ter visto “nenhuma agitação do BE”, lembrando que ele apoiava o anterior
executivo do PS.
Em resposta ao
PS, manifestou-se “espantado” que os socialistas não se tenham manifestado
“sobre as suspeitas e buscas de que a CML tem sido alvo” relativamente a
alegados actos levados a cabo pelo anterior executivo. “Aqui o PS não se
preocupa com a transparência? (…) A corrupção não os preocupa?”, perguntou.
Sobre as
acusações á falta de informação da SRU, Anacoreta Correia afirmou que esta
sociedade recebeu um pedido de um partido e que o reencaminhou para o
executivo, que o está a analisar.
Sobre as
declarações de Moedas em Vila Nova de Gaia, afirmou que estas significam que
será a CML “a coordenar todo o processo”, garantindo que este “vai ser um
sucesso”.
“Quando o
presidente da câmara diz ‘eu agora é que coordeno’, o que está a dizer é que
nós não aceitamos mais pretensos coordenadores que não fazem nada e que não
ajudam a resolver nada. A câmara municipal é que coordena, a câmara municipal é
que vai fazer”, afirmou o vice-presidente da autarquia, Filipe Anacoreta
Correia (CDS-PP), referindo-se ao coordenador do grupo de projecto para a
Jornada Mundial da Juventude, José Sá Fernandes.
“Realmente, um
processo onde há tanta gente, pretensos porta-vozes de projectos que em nada
acrescentam, a câmara municipal tomou uma deliberação e seremos nós a coordenar
aquilo que depende da câmara municipal com a Igreja, falando com a Igreja,
resolveremos estes assuntos”, acrescentou.
Mais à frente,
sublinhou que Carlos Moedas lhe garantiu que ele não perdeu o pelouro de
coordenação das jornadas.
Durante o debate,
outros partidos da oposição juntaram-se amiúde às críticas ao executivo sobre a
sua coordenação da JMJ. “Teremos total transparência. Estarei sempre disponível
para prestar contas”, afirmou diversas vezes Filipe Anacoreta Correia.
O vice-presidente
da autarquia voltaria a referir-se a José Sá Fernandes afirmando: “O Governo
nomeou um coordenador para a Jornada Mundial da Juventude, assim chamado, e ele
vai ficar em funções - o Papa sai em Agosto -, mas esse coordenador vai ficar
até Dezembro de 2024, mais um ano e meio. Seguramente, ficará para trabalhar,
para apresentar contas, apresentar relatórios. Chamaram a isso transparência.”
Já perto do final
da reunião, a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou propostas do BE e do PAN
que recomendam à câmara “maior transparência” na preparação da Jornada Mundial
da Juventude e rejeitou a ideia de "consulta pública aos munícipes” para
futuros eventos religiosos.
Na ordem de
trabalhos do encontro, estava prevista a discussão e votação da proposta da
câmara de contratação de um empréstimo de médio e longo prazo, até ao montante
de 15,3 milhões de euros, para financiar investimentos no âmbito da JMJ, mas a
mesma foi adiada para a próxima sessão da assembleia por falta de tempo, tendo
o grupo municipal do PS já assumido que irá viabilizar o documento do
executivo.
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