quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Câmara de Lisboa sobre JMJ: “Não aceitamos mais pretensos coordenadores que não fazem nada”

 


LISBOA

Câmara de Lisboa sobre JMJ: “Não aceitamos mais pretensos coordenadores que não fazem nada”

 

Vice-presidente da autarquia manda recado a José Sá Fernandes sobre Jornada Mundial da Juventude

 


Luciano Alvarez

31 de Janeiro de 2023, 18:25

https://www.publico.pt/2023/01/31/local/noticia/oposicao-acusa-cml-falta-transparencia-jornada-juventude-2037111

 

O BE e o PS acusaram nesta terça-feira o executivo da Câmara Municipal de Lisboa (CML) de “não prestar informações” e de “falta de transparência” relativamente à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que se vai realizar na capital de 1 a 6 de Agosto deste ano.

 

O tema começou por ser evocado pela bloquista Isabel Pires durante a reunião da Assembleia Municipal de Lisboa. Para esta deputada, a “indignação” que os portugueses têm manifestado recentemente sobre os custos da realização da JMJ é “expectável”. Lembrou mesmo que o executivo camarário tem orçamentado “42 milhões de euros em quatro anos para habitação municipal e vai gastar 35 milhões numa semana” com a realização da jornada.

 

Isabel Pires repetiu várias vezes que “faltam explicações” do executivo sobre a JMJ, lembrando que o BE já pede documentos e explicações há oito meses. E, logo a seguir, lançou várias questões: porque optou o executivo “pelo financiamento público”, lembrando que outros países que organizaram a jornada no passado o fizeram sem dinheiro dos contribuintes. Questionou também o facto de estarem a ser aprovados projectos por ajuste directo “que podem chegar aos cinco milhões de euros”.

 

Pediu ainda explicações sobre os custos dos palcos-altares que vão ser montados no Parque Tejo, este orçado em cerca de 5,5 milhões de euros, e no Parque Eduardo VII, que pode custar entre 1,5 e 2 milhões de euros.

 

Isabel Pires questionou também os responsáveis da autarquia sobre o que está a ser feito “para acautelar o impacto que a cidade vai ter com a visita de cerca de dois milhões de pessoas” durante os seis dias da jornada.

 

“Pedimos, como o já fizemos em Junho do ano passado, que seja facultado à assembleia municipal toda a documentação sobre a JMJ. O executivo está a ser pouco transparente. Tem da haver respeito pela transparência quando se fala da utilização de dinheiros públicos”, afirmou a bloquista.

 

Às críticas do BE juntou-se logo a seguir o PS. O deputado Manuel Lage começou por dizer que nada tem contra a jornada, lembrou mesmo que, com a sua abstenção, o PS já tinha viabilizado o pedido de empréstimo bancário de 15,3 milhões para despesas relativas à jornada em reunião privada da CML, e que o também o viabilizará na votação da AML, mas insistiu na “falta de transparência” do executivo.

 

O socialista afirmou que, apesar de Carlos Moedas ter dito ao PS para se dirigir à Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) para obter documentação sobre a JMJ, esta não prestou qualquer esclarecimento.

 

Manuel Lage lembrou ainda declarações de Carlos Moedas na noite de segunda-feira em Vila Nova de Gaia, em que afirmou que, a partir de agora seria ele a “coordenar directamente tudo aquilo que será feito” para a JMJ. “Soubemos que há agora um novo coordenador. O senhor vice-presidente [Filipe Anacoreta Ribeiro] deixou de ter este pelouro. (…) É o desnorte total”, afirmou.

 

Moedas em vez de Sá Fernandes

A resposta ao BE e PS foi dada por Filipe Anacoreta Ribeiro. O vice-presidente da CML negou qualquer falta de transparência e garantiu que o executivo “sempre esteve empenhado em que o projecto [da jornada] fosse de diálogo”.

 

O autarca lembrou que a candidatura de Lisboa à JMJ começou em 2018 e foi ganha em 2019 e diz nunca ter visto “nenhuma agitação do BE”, lembrando que ele apoiava o anterior executivo do PS.

 

Em resposta ao PS, manifestou-se “espantado” que os socialistas não se tenham manifestado “sobre as suspeitas e buscas de que a CML tem sido alvo” relativamente a alegados actos levados a cabo pelo anterior executivo. “Aqui o PS não se preocupa com a transparência? (…) A corrupção não os preocupa?”, perguntou.

 

Sobre as acusações á falta de informação da SRU, Anacoreta Correia afirmou que esta sociedade recebeu um pedido de um partido e que o reencaminhou para o executivo, que o está a analisar.

 

Sobre as declarações de Moedas em Vila Nova de Gaia, afirmou que estas significam que será a CML “a coordenar todo o processo”, garantindo que este “vai ser um sucesso”.

 

“Quando o presidente da câmara diz ‘eu agora é que coordeno’, o que está a dizer é que nós não aceitamos mais pretensos coordenadores que não fazem nada e que não ajudam a resolver nada. A câmara municipal é que coordena, a câmara municipal é que vai fazer”, afirmou o vice-presidente da autarquia, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), referindo-se ao coordenador do grupo de projecto para a Jornada Mundial da Juventude, José Sá Fernandes.

 

“Realmente, um processo onde há tanta gente, pretensos porta-vozes de projectos que em nada acrescentam, a câmara municipal tomou uma deliberação e seremos nós a coordenar aquilo que depende da câmara municipal com a Igreja, falando com a Igreja, resolveremos estes assuntos”, acrescentou.

 

Mais à frente, sublinhou que Carlos Moedas lhe garantiu que ele não perdeu o pelouro de coordenação das jornadas.

 

Durante o debate, outros partidos da oposição juntaram-se amiúde às críticas ao executivo sobre a sua coordenação da JMJ. “Teremos total transparência. Estarei sempre disponível para prestar contas”, afirmou diversas vezes Filipe Anacoreta Correia.

 

O vice-presidente da autarquia voltaria a referir-se a José Sá Fernandes afirmando: “O Governo nomeou um coordenador para a Jornada Mundial da Juventude, assim chamado, e ele vai ficar em funções - o Papa sai em Agosto -, mas esse coordenador vai ficar até Dezembro de 2024, mais um ano e meio. Seguramente, ficará para trabalhar, para apresentar contas, apresentar relatórios. Chamaram a isso transparência.”

 

Já perto do final da reunião, a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou propostas do BE e do PAN que recomendam à câmara “maior transparência” na preparação da Jornada Mundial da Juventude e rejeitou a ideia de "consulta pública aos munícipes” para futuros eventos religiosos.

 

Na ordem de trabalhos do encontro, estava prevista a discussão e votação da proposta da câmara de contratação de um empréstimo de médio e longo prazo, até ao montante de 15,3 milhões de euros, para financiar investimentos no âmbito da JMJ, mas a mesma foi adiada para a próxima sessão da assembleia por falta de tempo, tendo o grupo municipal do PS já assumido que irá viabilizar o documento do executivo.

 

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