domingo, 12 de junho de 2022

O SNS não pode fechar

 



 EDITORIAL

O SNS não pode fechar

 

Faltam médicos em Portugal? A Ordem dos Médicos insiste que não. Faltam médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em determinadas especialidades? É inegável que sim.

 

Amílcar Correia

11 de Junho de 2022, 19:53

https://www.publico.pt/2022/06/11/sociedade/editorial/sns-nao-fechar-2009721

 

O Hospital de Braga fechou a urgência de obstetrícia por falta de médicos em número suficiente para assegurar uma escala de serviço. Pelas mesmas razões, hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo anunciaram que iriam ter constrangimentos no funcionamento neste fim-de-semana dos serviços de obstetrícia e ginecologia. Nesta semana, um bebé morreu no decurso de uma cesariana de emergência no hospital das Caldas da Rainha, cujas urgências de obstetrícia estavam fechadas por não existirem, igualmente, profissionais em número suficiente.

 

Faltam médicos em Portugal? A Ordem dos Médicos insiste que não. Faltam médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em determinadas especialidades? É inegável que sim. Não existem médicos nos centros de saúde em quantidade suficiente, por exemplo, para garantir uma cobertura total da população. O número de portugueses sem médico de família, de resto, tem vindo a crescer.

 

Estes últimos anos reforçaram a importância do Serviço Nacional de Saúde e mostraram a tibieza do sector privado em se associar à resposta à pandemia. Mas também expuseram as queixas de falta de condições de trabalho, bem notórias no facto de mais de 2500 médicos e enfermeiros terem saído do sistema, ora porque os contratos expiraram, ora porque optaram por rescindir a relação com o Estado. Muitos deles saíram do serviço após o fim do estado de emergência, quando terminou a imposição do Governo que limitava as saídas do SNS.

 

A preferência de muitos profissionais pela medicina privada ou pelo trabalho no estrangeiro, na ausência de carreiras convincentes, tem vindo a acentuar-se com toda a naturalidade. Um relatório da OCDE, que comparava a evolução das remunerações de médicos e enfermeiros em 11 países, concluía que aqueles profissionais de saúde tinham perdido salários durante sete anos, entre 2010 e 2017, ao contrário do que tinha acontecido em vários países. Acrescente-se o envelhecimento da classe: cerca de 1700 médicos reformam-se, em média, todos aos anos, e há mais médicos em funções com mais de 65 anos do que com idades inferiores a 31.

 

A ministra da Saúde já prometeu criar novas carreiras e reforçar as existentes. Convém que o faça prontamente. Caso contrário, o Estado corre o risco de não conseguir reter no SNS, com condições de trabalho e remunerações adequadas, os profissionais de que o sistema necessita para assegurar a sua função. Se não faltam médicos no país, no mínimo, falta melhor organização.

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