BCE. Previsões de crescimento deste ano caem para quase
metade e as de inflação triplicam
Cenário de recessão ou estagnação da zona euro por causa
desta nova crise "está longe", mas economia está a perder gás a olhos
vistos e inflação não dá tréguas, indica um estudo do BCE. Incerteza
disparou.
Luís Reis Ribeiro
23 Junho 2022 —
00:15
Desde janeiro
deste ano até ao início do corrente mês de junho foram realizadas dezenas de
previsões por dezenas de equipas de economistas e peritos do setor privado
(como os que integram gabinetes de estudos de bancos e consultoras financeiras)
e a tendência é inequívoca: em menos de seis meses, o panorama esperado para a
retoma europeia em 2022 degradou-se de forma severa e a expectativa de inflação
mais do que triplicou, indica o Banco Central Europeu (BCE) num artigo do
boletim económico de junho, ontem divulgado.
Em menos de seis
meses, e com uma guerra a rebentar pelo meio, a 24 de fevereiro, a previsão
média de crescimento do produto interno bruto (PIB) da zona euro que resulta
dos estudos analisados pelo BCE caiu de quase 4% para 2,5%.
O ritmo esperado
para a retoma anual esvaiu-se para quase metade e a tendência é para que venha
a piorar por a guerra da Rússia contra a Ucrânia não dar sinais de que vá
terminar em breve.
No caso dos
preços praticados no consumidor final (o custo que as famílias enfrentam quando
compram bens e serviços), o cenário anual aparece muito pior agora do que se
calculava em janeiro.
Segundo o banco
central liderado por Christine Lagarde, a previsão média de inflação em 2022
apurada pelos peritos do "setor privado", que no início do ano estava
pouco acima dos 3%, supera hoje os 7%. Ou seja, mais do que duplicou.
E existem sinais
de que o custo pode aumentar ainda mais.
Este mês, o BCE
previu uma retoma anual (para 2022) de apenas 2,8% e uma inflação média que
poderá andar perto dos 6,8%.
No entanto,
quando divulgou estes dados na reunião de aviso de que as taxas de juro vão
subir em julho e, provavelmente, várias vezes este ano depois das férias,
Frankfurt alertou que a guerra pode não terminar este ano, como se deseja, e
entrar por 2023 a dentro.
Neste cenário
ainda mais negativo, a economia cresce 1,3% em 2022, caindo em recessão (-1,7%)
no próximo ano. A inflação dói ainda mais, claro: os preços sobem 8% em 2022 e
6,4% no ano que vem.
Neste cenário mau
significa que, estando a inflação muito acima do que o BCE pode admitir (cerca
de 2%), está também garantida a continuação da subida de taxas de juro em 2023
para arrefecer os preços.
Para famílias,
empresas e países mais endividados (como é o caso da realidade portuguesa), são
más notícias, sempre.
Então, será que a
Europa está a caminho de uma nova crise? Estará na rota da estagflação, um
quadro parecido com o que aconteceu na década de 70 do século passado, quando a
inflação disparou e as economias estagnaram e entraram em recessão? O BCE
conclui que ainda não.
"As
previsões atuais dos peritos continuam longe de um cenário de estagflação.
Isto, apesar de os mais recentes inquéritos a analistas profissionais de abril
e maio de 2022 - como por exemplo o Consensus Economics, o Barómetro da zona
euro, o Inquérito a Analistas Monetários do BCE e o Inquérito a Previsores
Profissionais do BCE - apresentarem previsões mais elevadas de inflação e
previsões de crescimento real mais baixas, tanto para 2022 como para 2023,
quando comparado com o início deste ano", observa o BCE.
"As revisões
das previsões são mais acentuadas para 2022 do que para 2023", mas por
enquanto, no que respeita a 2023, "a previsão de crescimento real do PIB
da Consensus Economics permanece acima dos 2% e apenas três estudos esperam um
crescimento inferior a 1%".
O BCE ainda
defende que, embora as previsões feitas desde o início da guerra apontem para
uma inflação "superior a 2%, em média, em 2023", a maioria dos
especialistas espera que a inflação desça abaixo dos 2% na segunda metade de
2023".
Problema: nestes últimos
tempos "a incerteza aumentou e a dispersão das previsões também".
"Os
coeficientes de variação tanto para as previsões de inflação como para as de
crescimento dilataram mais de 30% e 50%, respetivamente, desde o início da
guerra. É a incerteza a alastrar.
Isto significa
que a amplitude do intervalo de previsão em que o ponto central dá, por
exemplo, 7% de inflação em 2022, está cada vez mais dilatada. E que, portanto,
a probabilidade de a inflação final poder vir a ser muito maior do que 7% é
também ela superior, por exemplo.
Segundo o BCE,
não existe uma definição única para estagflação, mas é consensual que ela
existe quando a economia estagna ou se retrai, ao mesmo tempo que a inflação
muito alta persiste (no caso da zona euro, muito acima da meta de 2% do BCE) e
que esta situação se prolonga por, "pelo menos, dois anos". Ainda não
é o caso nos cenários de base.
Luís Reis Ribeiro
é jornalista do Dinheiro Vivo
.jpg)
Sem comentários:
Enviar um comentário