OPINIÃO
O meu partido é Lisboa (2)
As únicas forças verdadeiramente e antecipadamente
vencedoras das próximas eleições autárquicas são as forças da cidadania activa
e participativa.
António Sérgio
Rosa de Carvalho
22 de Abril de
2021, 17:20
https://www.publico.pt/2021/04/22/opiniao/noticia/partido-lisboa-2-1959644
O número 2 neste
título refere o facto de ele ser utilizado pela segunda vez. Com efeito, ele
foi utilizado anteriormente por mim numa análise crítica do percurso político
de António Costa ( 1 ) ilustrado pelo título do
seu livro Caminho Aberto. Tratava-se de um cargo como presidente da autarquia
constituir apenas um ‘trampolim’ para “voos mais altos”, como, aliás, se veio a
confirmar.
O que se pretende
de um candidato à Câmara Municipal de Lisboa? Um genuíno interesse e apelo
baseado num conhecimento profundo dos verdadeiros desafios da cidade adquirido
por anos de observação, reflexão e participação. Tudo isto, traduzido numa
grande capacidade de gestão consciente e cuidada junto a efectiva visão
estratégica, equilibrada entre desenvolvimento e salvaguarda, também com
adequada sensibilidade para as questões sociais e a urgência no campo da
habitação.
Ora, Carlos
Moedas ( 2 ) apresentou uma declaração de amor à
cidade baseada ‘numa mão cheia de nada’ incapaz de nos convencer da sua
maturidade de conhecimento dos verdadeiros desafios da cidade no presente e no
futuro. Ficámos com a impressão de que ele constitui apenas o candidato de
forças políticas moribundas, que assim e desesperadamente procuram um
renascimento.
Fica-se
nitidamente com a impressão de que, em essência, não se trata de uma ‘Fénix’,
mas de uma inefectiva e mera jogada política definida pelo vazio de um falso
mérito passado.
Ou não perceberam
ainda os chamados ‘liberais’ devastados por anos e anos de materialismo feroz e
ganancioso que Joe Biden revelou-se fortemente não apenas como o candidato
anti-Trump, mas também, e cada vez mais, como o anti-Reagan? O seu novo “New
Deal” é baseado na consciência de que a sensibilidade das classes trabalhadoras
e populares ao populismo irracional surge das profundas desigualdades criadas
pelo neoliberalismo.
Os ‘35 anos a
bazucar’ (título de Miguel Sousa Tavares 3 )
ilustraram perfeitamente e dramaticamente as teias e ‘polvos’ desenvolvidos por
toda uma geração a que podemos chamar a geração do ‘Compromisso Portugal’ com
políticos, gestores, empresários, banqueiros que nos levaram agora às
encruzilhadas sucessivas e inefectivas da justiça e ao impasse de uma classe
política cada vez mais desprestigiada.
As únicas forças
verdadeiramente e antecipadamente vencedoras das próximas eleições autárquicas
são as forças da cidadania activa e participativa. No entanto, estas forças,
constituídas por grupos heterogéneos e flutuantes de cidadãos, unidos apenas
por temas, mas com diferentes, variadas e pluralistas motivações e convicções,
mantêm-se exteriores às definições de campos políticos.
Não nos espantemos, portanto, que nós, como votantes,
sejamos também ‘órfãos políticos’ sem candidatos que nos representem, capazes
de nos libertarem do ‘limbo’ a que fomos condenados
Daí os partidos
políticos tentarem ‘agarrar’ e conduzir este autêntico potencial com promessas
aliciantes aos ‘independentes’.( 4 ) Disso, já tivemos com fartura com Sá Fernandes
e Helena Roseta, que viabilizaram constantemente e sistematicamente a gestões
de Costa e de Medina.
Com os tais 35
anos criámos legiões de órfãos. Toda uma juventude licenciada mas exilada, numa
gigantesca diáspora.( 5 )
Não nos
espantemos, portanto, que nós, como votantes, sejamos também ‘órfãos políticos’
sem candidatos que nos representem, capazes de nos libertarem do ‘limbo’ a que
fomos condenados.
E isto numa
Lisboa que até ao ciclo corona estava prisioneira de monoculturas destruidoras
(turismo de massas, omnipresente alojamento local, crise da habitação,
omnipotente imobiliário especulativo, monocultura exclusiva dos hotéis., etc..)
e terá que enfrentar profundos, e até agora incertos, desafios futuros no
período pós-corona.
Um é claro e
sobrepõe-se a todos os outros: as alterações climáticas.
Sim, quando
caoticamente a caixa de Pandora foi aberta, e tudo se escapou e diluiu num
ápice, como neve derretida sobre o Sol, a única coisa que ficou foi a
esperança.
A minha esperança
vai para uma cidadania cada vez mais activa, maduramente crítica e
verdadeiramente independente.
Como já afirmei
anteriormente: a cidadania exerce-se. A cidadania não vai a votos! ( 6 )
Historiador de Arquitectura
( 1 ) https://www.publico.pt/2014/08/06/politica/opiniao/o-meu-partido-e-lisboa-1665458
( 3 ) https://expresso.pt/opiniao/2021-03-05-35-anos-a-bazucar
( 6 ) https://www.publico.pt/2009/07/19/jornal/uma-questao-de-promiscuidades-17324530


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