sexta-feira, 30 de abril de 2021

“Nós bem tínhamos avisado”, dizem representantes da população de Montalegre

 




AMBIENTE

“Nós bem tínhamos avisado”, dizem representantes da população de Montalegre

 

Movimento Montalegre com Vida ficará satisfeito se em Agosto se confirmar a perda da licença de exploração para a Lusorecursos. Mas já está a temer o que vem a seguir. Ambientalistas alertam: “Níveis de exigência não podem baixar”.

 

Luísa Pinto

29 de Abril de 2021, 6:18

https://www.publico.pt/2021/04/29/economia/noticia/bem-tinhamos-avisado-representantes-populacao-montalegre-1960421?fbclid=IwAR1aFUOEIn4__im50Ne72s3Ta03AsZsJozCGG4mrPyia3JxDjYvJPOhI2-U

 

Armando Pinto, líder do Movimento Montalegre Com Vida

 

“Nós bem tínhamos avisado”. O presidente da Associação Montalegre com Vida reage, assim, à notícia que dá conta dos alertas do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, para a possibilidade de a empresa Lusorecursos não conseguir manter a licença da mina de lítio que pretendia explorar em Sepeda, no concelho de Montalegre. “Nós nunca vimos a empresa no terreno a fazer estudo nenhum. Nunca cá andaram a fazer medições de nada, como é que se faz um estudo de impacto ambiental assim?”, começa por questionar Armando Pinto.

 

A Associação Montalegre com Vida contesta a atribuição desta licença desde o início – e chegou a mover uma acção administrativa no Tribunal de Mirandela para pedir a anulação da licença, mas que não teve provimento. E, agora, confirma Armando Pinto, não vai ficar de braços cruzados à espera de Agosto e de saber se a licença é retirada à Lusorecursos, como se tal significasse o fim das preocupações.

 

“Tememos, muito, o que vem a seguir. Não dão à Lusorecursos e vão dar a licença a quem? Às tantas ainda querem meter esta área do Barroso no concurso do lítio. Temos todos de estar preocupados”, insiste. O concurso do lítio mencionado refere-se às oito áreas estratégicas reservadas pelo Estado e que estão a ser alvo de uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), antes de ser lançado um concurso público internacional. O Barroso estava fora deste concurso, porque duas áreas já estavam atribuídas, em Boticas (à Savannah) e em Montalegre (à Lusorecursos).

 

Francisco Ferreira, dirigente da Zero, também manifesta preocupações. “O território do Barroso tem questões muito importantes em termos sociais, do património agrícola e da paisagem. Estes assuntos têm de ser estudados de uma forma muito séria. E nós estamos a fazer o nosso papel, estamos a fazê-lo para nos pronunciarmos sobre estes projectos oportunamente”, afirmou o ambientalista.

 

A exigência de qualidade que o ministro do Ambiente invocou, para antecipar o cenário de a empresa não conseguir cumprir os prazos do projecto a que se vinculou por contrato, é “saudada com satisfação” por parte de Francisco Ferreira. Mas este dirigente não deixa de considerar que “a APA é habitualmente permissiva no que à qualidade dos projectos diz respeito”. “Muito gostaríamos nós que o Ministério do Ambiente tivesse dúvidas noutros projectos”, diz Francisco Ferreira, lembrando que o projecto da mina de lítio de Boticas acabou de entrar em consulta pública. Na semana passada, soube-se da declaração de conformidade ambiental do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) promovido pela Savannah – a declaração que, diz Matos Fernandes, a Lusorecursos viu recusada por duas vezes.

 

“Este é um processo extremamente importante e melindroso, onde não pode haver falhas nos procedimentos e conteúdos em discussão pública e que vão ajudar a suportar a decisão”, diz Francisco Ferreira. Se o projecto da Lusorecursos não passou no crivo, o dirigente da Zero diz que só espera que o Governo “faça um acompanhamento sério” do projecto e “que o aproximar do prazo para entrega do EIA não seja justificação para diminuir a exigência no processo”.

 

“Os níveis de exigência não podem baixar”, apela o ambientalista, lamentando que o Governo esteja a promover conferências sobre green mining [mineração verde] quando, no limite, “só poderia estar a falar de mineração responsável”. “A mineração nunca é verde”, afirma, fazendo coro com os movimentos cívicos e associações que convocaram para o próximo dia 5 uma manifestação à porta do Centro Cultural de Belém. “A Associação Montalegre com Vida é uma das organizadoras”, confirma Armando Pinto, assegurando que a população não descansará enquanto não tiver a certeza de que não vai ter minas à porta, em território que é património agrícola mundial.

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