João Miguel Tavares
OPINIÃO
O regime está podre – e Marcelo é cúmplice
Marcelo é tão responsável pela nomeação de José Tavares
para o Tribunal de Contas como António Costa. O contínuo apodrecimento do
regime democrático português é um trabalho que está a ser feito a duas mãos.
7 de Outubro de
2020, 11:18
https://www.publico.pt/2020/10/07/opiniao/opiniao/regime-podre-marcelo-cumplice-1934275
De António Costa
já se sabe que podemos esperar cada vez menos. Após um primeiro mandato em que
ele, por causa do impacto da Operação Marquês e das próprias características da
“geringonça”, fez algum esforço por se afastar da cultura socrática que afundou
moralmente a democracia portuguesa e arrastou o país para a bancarrota, aquilo
a que temos assistido nos últimos tempos é pouco menos do que um filme de
terror.
Tenho
obsessivamente chamado a atenção para isso nesta página. Por vezes são casos
que ganham alguma dimensão pública, como o da procuradora Ana Mendes de
Almeida, afastada por opção do Governo de um concurso europeu importantíssimo
que ganhou por mérito próprio. Outras vezes são casos que passam praticamente
despercebidos, mas cuja relevância é gigantesca, como a nomeação de Vítor
Escária para seu chefe de gabinete. Há ainda casos clássicos de velhos boys
preparados para todos os fretes ao poder, como está a acontecer com a
destruição da independência do Conselho Geral Independente da RTP.
A conjugação
destas histórias dispersas não deixa margem para dúvidas: o PS entrou em modo
bulímico, açambarcando tudo o que pode, controlando tudo o que mexe e não
deixando ponta solta se puder atá-la. O cheiro dos milhões da bazuca cruzado
com o cheiro da crise fez disparar a pituitária socialista, que age como um
vampiro que há muitos anos não vê pescoço. O objectivo é sempre o mesmo:
controlo, controlo, controlo. O padrão é evidente: poder, poder, poder.
Às vezes Marcelo
parece que está a brincar connosco. Na terça-feira ao final da tarde deixava um
recado no Expresso: dizia que Vítor Caldeira tinha sido “um óptimo presidente
do Tribunal de Contas”, que o elogiou “várias vezes”, e que aguardava que
António Costa lhe propusesse um novo nome dentro “da mesma linha” e
“exactamente com o mesmo grau de exigência”. Na terça-feira ao início da noite estava
a nomear José Tavares.
Ainda que em
Belém possam faltar bons conselheiros a Marcelo Rebelo de Sousa, imagino que
pelo menos não lhe falte internet. Tendo em conta a sensibilidade na escolha do
novo nome para o Tribunal de Contas, podia ao menos ter pesquisado um bocadinho
– e, como não o tenho por conta de político amador, acho obviamente que pesquisou
Assim que recebi
a notícia, a primeira coisa que fiz foi googlar “conselheiro José Tavares”. E a
única coisa que me apareceu, acerca da sua intervenção pública no reino de
Portugal nos últimos anos, foram notícias em que o seu nome aparece cruzado com
o de Paulo Campos, com o de Mário Lino, com o de Guilherme Dray e com essa
monumental desgraça que foram as PPP rodoviárias no tempo de José Sócrates –
todos juntinhos (inclusive ao fim-de-semana) num cambalacho para garantir que
as subconcessões rodoviárias recebiam o visto favorável do Tribunal de Contas.
Entretanto, Luís Rosa já contou a edificante história no Observador.
Ainda que em
Belém possam faltar bons conselheiros a Marcelo Rebelo de Sousa, imagino que
pelo menos não lhe falte internet. Tendo em conta a sensibilidade na escolha do
novo nome para o Tribunal de Contas, podia ao menos ter pesquisado um bocadinho
– e, como não o tenho por conta de político amador, acho obviamente que
pesquisou. Donde, Marcelo é tão responsável por esta nomeação como António
Costa. O contínuo apodrecimento do regime democrático português é um trabalho
que está a ser feito a duas mãos.
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