terça-feira, 30 de abril de 2024

Chega de dar razões ao Chega para ter razão / António Sérgio Rosa de Carvalho / 4 de Abril de 2023

 



 OPINIÃO

Chega de dar razões ao Chega para ter razão

 

Num momento em que o resto da Europa impõe condições, Portugal transformou-se numa irresponsável “fábrica de legalizações” e num exportador de imigração ilegal para os países de Schengen.

 

António Sérgio Rosa de Carvalho

4 de Abril de 2023, 6:21

https://www.publico.pt/2023/04/04/opiniao/opiniao/chega-dar-razoes-chega-razao-2044760

 

Repentinamente o invisível Moedas manifestou-se com uma frase cheia de razão.

 

Eu já me tinha também manifestado aqui no PÚBLICO, de forma crítica sobre as capacidades de Moedas para dirigir uma cidade,(1) portanto estou à vontade para reconhecer que Moedas, ao fazer um apelo para quantificar e regular, alertando para a “política” de portas abertas desenvolvida pela antiga "geringonça" e actual Governo e para a (ir)responsabilidade de António Costa na mesma, teve razão.

 

No seguimento, um editorial do PÚBLICO apelava ao debate. Só um colunista teve a coragem intelectual para o fazer: António Barreto.(2)

 

Numa série magistral de sólida argumentação fundamentada em longa experiência de análise sociológica e política, António Barreto publicou uma série de artigos, alertando para as forças democráticas reconhecerem que o problema existe, assim como existem forças políticas que irão tirar grandes vantagens através do “voto de protesto” deste “limbo” intelectual e desta implícita proibição para pensar e reconhecer, de forma sensata, o problema.

 

O último grave acontecimento do ataque no Centro Ismaili,(3) independentemente das conclusões da investigação, veio ilustrar uma precipitação neutralizadora de conclusões, equivalente a uma antecipação inibidora do pensamento e discernimento que vai muito além da prudência exigida neste casos.

 

Mais uma vez, só Maria João Marques (4) teve a coragem intelectual para denunciar isto num artigo de Opinião, aqui no PÚBLICO.

 

Em 25 de Maio de 2021, eu já tinha publicado, (5) quando da extinção do SEF, e da nova lei da Imigração, um artigo sobre o complexo problema, que tem duas vertentes: por um lado Portugal encontra-se num ciclo de emigração no qual centenas de milhares de jovens diplomados saíram do país; e em que os que ficaram, confrontados com uma vida sem perspectiva profissional e financeira são obrigados a permanecerem em casa dos pais num mercado de habitação absolutamente proibitivo.

 

Num Portugal com um grande problema demográfico estes jovens não podem constituir família e só sonham em partir.

 

Simultaneamente foram dadas vantagens fiscais a grupos crescentes de investidores Internacionais, ‘Expats’ e nómadas digitais, em profundo contraste com a pesada carga fiscal dos portugueses.

 

O efeito perverso no preço da habitação já não precisa de ser explicado.

 

A outra vertente do problema reside em leis da imigração que permitem a qualquer pessoa instalar-se em Portugal durante seis meses à procura de trabalho. Junto a isto através de acordos, é garantido de forma automática um visto aos países da CPLP.

 

Os novos bairros da lata começam a ressurgir nas periferias de Lisboa.

 

Num momento em que no resto da Europa os países impõem condições, exigem regulamentos, desenvolvem estratégias, Portugal transformou-se numa irresponsável “fábrica de legalizações” e exportador de imigração ilegal para os países de Schengen.

 

Um paraíso para as máfias da imigração, bem ilustrado nos grupos crescentes de jovens vindos da Índia, Nepal e Paquistão, bem visíveis no espaço público determinados a utilizar Portugal como trampolim para a Europa.

 

Se não começarmos a debater estes desafios integrando-os no espaço democrático corremos o risco de que este “limbo” frustrante se transforme num perigoso e fértil potencial irracional de voto de protesto.

 

Termino com a frase como concluía o meu artigo de 25 de Maio de 2021: ( …) Senão, podemos estar perante um outro e grave paradoxo: as mesmas forças políticas que vociferam indignações e rasgam continuamente as vestes pelos Direitos Humanos e a Justiça Social transformaram-se nos principais coveiros da democracia!

 

Historiador de Arquitectura

 

        (1)       https://www.publico.pt/2022/03/19/opiniao/opiniao/afinal-onde-moedas-1999375

 

       (2)      https://www.publico.pt/autor/antonio-barreto

 

        (3)      https://www.publico.pt/2023/03/29/sociedade/noticia/pj-ataque-centro-ismaili-estao-afastados-sinais-terrorismo-2044244

 

       (4)        https://www.publico.pt/2023/03/29/opiniao/opiniao/atentado-criminoso-fofinho-2044201

 

       (5)           https://www.publico.pt/2021/05/25/opiniao/opiniao/apelo-revisao-nova-lei-imigracao-reposicao-sef-1963951

Sem comentários: