Lisboa e Porto
têm mais turistas por residente do que Londres e Barcelona
Em Lisboa há nove
turistas por cada residente, no Porto há oito. Em Albufeira, no Algarve, há 39
turistas por morador. Londres recebe apenas quatro visitantes por cada
residente e Barcelona cinco.
PÚBLICO 4 de
Abril de 2018, 8:36
Em Lisboa, cidade
que recebe 4,5 milhões de turistas por ano, há nove turistas por cada
residente. Ao Porto chegam 1,6 milhões de turistas por ano, e, por cada
morador, há oito visitantes. Os números são do Instituto do Planeamento e
Desenvolvimento do Turismo (IPDT), que calculou a pressão turística sobre as
cidades portuguesas e as comparou a outras cidades europeias. Os resultados do
estudo são avançados pelo Jornal de Notícias e são apresentados oficialmente
nesta quarta-feira, em Gaia, no Fórum Internacional do Turismo.
“Perante as
discussões recentes sobre se há ou não turismo a mais, quisemos estudar o
assunto de uma forma desapaixonada e fornecer dados capazes de orientar
decisões informadas, para que o turismo possa continuar a crescer e a
beneficiar o país com resultados e harmonia”, disse o presidente do IPDT,
António Jorge Costa, ao JN.
O IPDT calculou o
número de turistas em simultâneo, por dia, em cada destino, tendo em
consideração o número de chegadas aos aeroportos e a média de estadia em cada
destino.
O Porto recebe
4500 turistas por dia e a estada média de cada um faz com que, em simultâneo,
se concentrem 9041 visitantes diariamente na Invicta. Os números assemelham-se
aos de Dubrovnik, na Croácia, que recebe 9194 turistas em simultâneo. A cidade
croata, património da Humanidade, teve que impor, por conselho da UNESCO, um
limite de 4000 visitantes por dia.
Em Londres, por
cada morador há apenas quatro turistas. É um dos destinos mais procurados na
Europa, mas os 470 mil turistas que recebe diariamente não requerem medidas
especiais.
No Porto, a
maioria dos turistas concentra-se numa área de “dois ou três quilómetros”,
conforme explica o presidente do IPDT ao JN, “dos Aliados à Praça Carlos
Alberto e até ao rio”. A concentração de turistas por quilómetro quadrado é um
dos maiores desafios das cidades portuguesas. Mostram os números que, no Porto,
há 228 turistas por quilómetro quadrado. Em Lisboa, o número ascende aos 300
turistas por quilómetro quadrado. Em Albufeira, no Algarve, são 158 turistas
por quilómetro quadrado.
É na cidade
algarvia que o despovoamento dos centros históricos mais se acentua. É que ao
contrário do que acontece em Lisboa e Porto, Albufeira tem 39 turistas por cada
um dos seus 40 mil residentes. Por contraste, em Barcelona e Praga há cinco
turistas por residente. Já Veneza, que perdeu 41% dos residentes entre 1980 e
2016, tem 177 visitantes por morador.
Apesar do
despovoamento, há pontos positivos. Por exemplo, em Portugal, a taxa de
desemprego baixou quando os proveitos da hotelaria aumentaram. O valor do
limiar da pobreza também aumentou de 4937 euros para 5442 euros anuais.
“Ninguém vai querer matar a galinha dos ovos de ouro do turismo, porque,
comprovadamente, diminui o desemprego e eleva o limiar da pobreza”, considera o
líder do IPDT.
Bye, bye Lisboa!
A Câmara de
Lisboa abdicou da sua responsabilidade planeadora e reguladora, abrindo a caixa
de pandora.
ANTÓNIO SÉRGIO
ROSA DE CARVALHO
13 de Setembro de
2015, 5:38
Em 1990 Barcelona
com 1,5 milhões de habitantes atraiu 1,7 milhões de Turistas. Em 2014 Barcelona
recebeu 7,5 milhões de Turistas. Rendimento anual através do Turismo atingiu os
12 mil milhões de euros.
Nas Ramblas, em
cada 10 transeuntes, 9 são turistas. 1991: 23,7191991 dormidas; 2003: 37,224
dormidas; 2013: 69,128 dormidas.
Assistiu-se
assim, à tranformação de toda a cidade num Parque Temático Turístico e à
redução de todas as actividades a uma única, omnipresente e obsessiva
Monocultura. O Turismo.
Todo e qualquer
sentido do Viver e Habitar quotidiano foi dominado e reduzido à erosão
permanente do visitar, do residir temporário, do permanente happening nocturno
e da festa contínua.
Ao permitir este
consumir de forma erosiva, predadora e esgotante, de todas as características
que, precisamente, constituíram o atractivo e o motivo da vinda e,
originalmente, o apelo de vísita, Barcelona cada vez mais, e paradoxalmente,
foi transformada num local onde Turistas apenas encontram outros Turistas. Uma
plataforma globalizada, esvaziada dos seus conteúdos, dos seus moradores e
autenticidade original.
Tudo isto levou a
uma crescente revolta local, com movimentos cívicos e crescentes manifestações
de rua, culminando este processo com a eleição de Ada Colau para presidir o
Município.
A primeira medida
de Colau foi instalar uma moratória durante 1 ano, de todo o licenciamento para
novos projectos turísticos, incluindo hóteis, hostels, reconversões para
alojamentos temporários, etc.
Levou também à
produção do já famoso Documentário “Bye Bye Barcelona”, no qual, todas estas
situações e desafios são ilustrados.
Entretanto, Colau
entrou em confronto directo com a airbnb e a Booking.com, exigindo destas
organizações especialistas em estadias temporárias, a relação completa das
moradas e registos de ofertas dos seus sites.
A todos os
endereços ilegais serão impostas multas de 15.000 a 90.000 euros, oferecendo
Colau como alternativa ao pagamento das multas pelos proprietários destes
alojamentos, a disponibilização pelos mesmos, destas moradas durante três anos,
como habitaçào social, para os residentes locais.
A recusa das
organizações referidas de disponibilizar as informações exigidas, poderá levar
à proibição de acesso a estes sites especializados em oferta de alojamentos
temporários, em todo o território da Catalunha.
Alfama recebeu
recentemente, a visita do Secretário de Estado do Turismo e do Ministro da
Economia, que triunfalmente e com um distanciamento “blasé” em relação a um
possível papel regulador, equilibrador, planeador, recusaram qualquer reflexão
ou dúvida quanto ao crescimento avassalador da oferta e transformação de todas
as residências, em alojamentos temporários, sem qualquer tipo de regulamento ou
limites, dedicados ao Turismo.
Nesta irrealista
e irresponsável atitude caracterizada por um “laissez faire, laisser aller” in
extremis, até criticaram uma tímida e tardia preocupação, formulada por um dos
grandes responsáveis por esta ausência de gestão e planeamento, Manuel Salgado.
Com efeito,
Manuel Salgado ao anunciar em 2008 “A Baixa nunca será um bairro residencial” e
ao propor exclusivamente um investimento na hotelaria, residências
universitárias e alojamentos de curta e média permanência, entregando a
dinâmica do investimento únicamente às exigências dos “mercados”, abdicou da
sua responsabilidade planeadora e reguladora, abrindo a caixa de pandora.
No início do
processo, antes da crise e respectiva transformação, motivada pela mesma crise,
da cidade num gigantesco negócio de estadias temporárias, e acima de tudo, do
exôdo maciço de toda a juventude Portuguesa, estes, naturalmente os potenciais
habitantes de uma Baixa ainda vazia , ainda teria sido possível planear /
estabelecer um equilíbrio.
Assim também, a
possível inserção da totalidade da Baixa num regulamento de rigor Patrimonial
determinado pela Unesco não convinha à liberdade de manobra de intervenção e
licenciamento de Manuel Salgado, pois iria impedir a sua política de
“fachadismo” e de destruição sistemática dos Interiores Pombalinos pelos
“investidores”.
Agora, dramaticamente é tarde, e provavelmente
de forma irreversível Manuel Salgado e os dois ilustres visitantes de Alfama
vão acabar perversamente por “ter razão” na sua irresponsável atitude e
ausência de visão.
Entretanto,
brevemente, em frente a Alfama vai surgir o novo terminal de Cruzeiros,
aumentando o “potencial” e alargando, através das respectivas intervenções e
arranjos da envolvente incluindo possivelmente a desejada desactivação da
estação de Santa Apolónia, a plataforma da Monocultura.
Bye Bye Lisboa!
Historiador de Arquitectura
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