( … ) “No mesmo ano a arquitecta Alexandra Gesta é destacada pela Câmara Municipal para dirigir esse gabinete e
definir o seu programa de actuação, convidando-se Fernando Távora para assessorar esse novo Gabinete.
Inicia-se de imediato, em estreita articulação entre autor (Távora) e a equipa do futuro GTL, uma prática de desenvolvimento de projectos de exemplaridade – por exemplo, o restauro e adaptação da Casa da Rua Nova, o início do projecto da Praça do Município (com desenvolvimento e pormenorização pelo GTL). Os limites da área de intervenção abrangem, nesse tempo, os antigos tecidos históricos “intra-muros” (áreas já classificadas),
zonas de expansão do período da revolução industrial e alguns tecidos envolventes dos anos 30-40.
O Município inicia a gradual transferencia de um poder administrativo cada vez mais amplo para o futuro GTL, o qual estabelece desde logo algumas claras regras de gestão, sobretudo no que se refere aos licenciamentos, procurando potenciar pela positiva as iniciativas particulares, negociando com os proprietários e com os autores dos projectos, interditando o demolir para reproduzir em betão e assim recusando o fachadismo que, ainda hoje,
é tomado por muitos como a solução “tipo” de projecto a aplicar em Centros Históricos.
O GTL recusa intervenções com excesso de projecto, provenientes de um forte intervencionismo público (expropriações sistemáticas que esgotam a capacidade pública, como em Bolonha ou no Porto) ou com a excessiva latitude das actuações privadas que introduz mecanismos expulsivos (como sucedeu no Le Marais).
A lógica de intervenção nos edifícios privados é, sobretudo, a de um restauro filológico e beneficiação cautelosa, evitando a renovação excessiva. Ao contrário de outras cidade portuguesas, o município não se substituiu à economia privada, comprando para alugar ou para (re)vender. Fora raras excepções – resultantes de posses administrativas de edifícios particularmente degradados -, Guimarães não se tornou gestora de um parque
habitacional imenso, que acaba por consumir (na manutenção desse mesmo parque) os recursos necessárias à continuidade de novas operações de conservação (tarefa por si só infinita).
Actua-se lote a lote, e evita-se o reordenamento cadastral que, alterando dramaticamente a tipologia parcelária, inicia (como há muito estudou Giovannone) rápidos processos de adulteração e de transformação do património urbano. Essa medida, associada ao condicionamento das possibilidade de aumento volumétrico, torna
económica e arquitectonicamente lógica a continuidade do existente. A intervenção torna-se, assim, um processo de manutenção, e não de substituição, do existente.
A aprendizagem faz-se in loco, em espaços públicos seleccionados e em obras particulares de proprietários e inquilinos sem grandes capacidades económicas. O grau da intervenção nas edificações particulares, na perspectiva da sua reabilitação, depende directamente do estado de conservação, assim como da capacidade de investimento do proprietário e da solvência do inquilino.
Procurando modelos de referencia, privilegiam-se actuações em espaços urbanos coerentes e unitários, potenciando unidades coerentes de projecto urbano, (como certas praças, alguns eixos prioritários e de maior visualidade, edifícios arquitectonicamente estratégicos,etc.), intervenções para as quais se procura mobilizar os privados, um a um.
Perante dificuldades no recurso a mão de obra tradicional, capaz de trabalhar com tecnologias ancestrais – as melhores para levar a cabo um projecto que é, cada vez mais, de “restauro urbano” – iniciam-se cursos de formação em construção tradicional (canteiros, carpinteiros, pintores, calceteiros, trolhas, jardineiros, etc.).
Procurando reduzir os efeitos destas carências cria-se uma equipa municipal de operários, sob directo controlo em obra do GTL, para executar intervenções prioritárias e em casos estratégicos.”
O essencial sobre a estratégia de actuação do GTL de Guimarães, na sua primeira fase, encontra-se descrito em: Alexandra Gesta,
Relatório de Estágio, Porto, ESBAP, 1987.
( José Aguiar in A experiência de reabilitação urbana do GTL de Guimarães )
P.S. Ver filme ilustrativo-intervenção de Alexandra Gesta em baixo.
As Gloriosamente conservadas e Restauradas Janelas de Guimarães, são apenas um símbolo e uma parcela de um grande e abrangente trabalho mas, ilustram aquilo a que se chama Ourivesaria Patrimonial … conceito exepcional em Portugal … mas a atitude - referência nos Centros Históricos das Cidades Europeias .
Foi todo o processo descrito no texto anterior que tornou possível a Classificação como Património Mundial de Guimarães, e consequentemente, agora, a sua digna e merecida representação de Portugal como Capital Europeia da Cultura.
A pergunta que temos, retóricamente , que fazer a seguir é :
Poderia Lisboa representar Portugal a este nível no Presente ?
A resposta não seria negativa apenas no Presente … mas em função do que está a ser desenvolvido no Presente e preparado em direcção ao Futuro ( PDM, PPBC ), seria categóricamente e definitivamente … um grande NÃO !
Trata-se de uma questão de perspectiva mental e interpretação cultural dos desafios, urgências e prioridades estratégicas de uma Cidade e das fórmulas e conceitos a aplicar, determinadamente, pacientemente e coerentemente … para lhes dar resposta.
Tomemos como exemplo o último caso de Violação Consciente do PDM por parte do Vice-Presidente da C.M.L. e Vereador do Urbanismo , Manuel Salgado, para - forçar- impor – a aprovação do pedido de informação prévia da Fundação EDP para construir um centro cultural à beira-rio, em Belém.
Este caso, juntamente com o da construção da sede da EDP na Avenida 24 de Julho que também pode ser considerado “ilegal” na sua aprovação sem consenso ( a "ilegalidade" da falta do contrato de urbanização, que "visa apressar a intervenção da EDP" sem acautelar interesses municipais ) ilustram uma grande e imprudente ‘pressa’,e uma sofreguidão de decisão …
Mas acima de tudo em tempo de austeridade financeira, uma atitude imprudente, prepotente e arrogante, quando Lisboa ainda está sem solução para outro Elefante Branco, o Novo Museu dos Coches …
Para a própria imagem da EDP e do respectivo António Mexia ( ainda vítima-imagem de uma “certa” auréola financeira ), este processo não contribui para uma boa imagem … e só confirma a tal atitude mental de “Torre de marfim”; de isolamento irreal e dicotomia mental com realidades da Cidade e das suas verdadeiras necessidades …
Isto, quando mesmo ao lado da Zona da 24 de Julho, o Largo de S. Paulo, arquétipo do Pombalino, continua a apodrecer, e o Mercado da Ribeira a aguardar decisões ( Além do resto da Baixa Pombalina )
Tanto Manuel Salgado como António Mexia, revelam-se como mentes prisioneiras de perspectivas megalómanas , irreais e insensíveis ao verdadeiro estado de degradação e decadência da Cidade e ainda agarradas ao sindrome do Grande Gesto, de Babel e de Arquitectos – Magos .
António Sérgio Rosa de Carvalho
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