domingo, 6 de maio de 2012

Como um frigorifico iluminado de porta escancarada num salão ... por António Sérgio Rosa de Carvalho. 22/01/2012





 O Chiado está em transformação determinada por ciclos económicos e sociológicos …Outrora Zona Chic de Comércio de Alta Qualidade e de Identidade Local em dialéctica permanente com sinergias Literárias e Culturais … Zona de Cafés e Clubes … de Tertúlias e compras Bon Chic Bon Genre … está agora a substituir esta Identidade Centenária por um novo ciclo comercial conduzido por cadeias internacionais dispostas a pagar quantias altíssimas por alugueres.
São as “leis do mercado”dirão muitos … e é verdade que a dinâmica financeira da Oferta-Procura-Oferta determina as transformações …
No entanto, em todas as Cidades Europeias existem Zonas onde estão situados estabelecimentos de valor Patrimonial-Arquitectónico insubstituível, e que precisamente, no seu conjunto, garantem e contribuem para o Carácter e Identidade - Prestigio que definem a Zona e o seu Valor Comercial.
Ora … é aqui que entra como factor determinante o conceito de uma Visão Estratégica, aquilo que se chama Internacionalmente , Urbanismo Comercial.
Não se trata de substituir ou apropriar-se das sinergias comerciais … mas, de estratégicamente aconselhar, estimular pedagógicamente, acompanhar com verdadeiro interesse , ao mesmo tempo que se garante e salvaguarda o Património de interiores e exteriores de importantes e insubstituíveis estabelecimentos Históricos.
Vejamos o caso da antiga Alfaiataria Piccadilly que foi substituida por uma loja de sandes e respectivo conceito de interiores e imagem de Marca …
O contraste com a zona é ilustrativo … e esse contraste não é determinado pela actividade, … mas pela forma de como a actividade quis de forma insensivel, manter a sua imagem de brancura absoluta- higiénica-híbrida-clinica, num contexto e envolvente determinados, até agora, por um carácter radicalmente oposto.
O Resultado é especialmente à noite : Como um frigorifico iluminado de porta escancarada num salão.
Independentemente das quantias mensais avultadissimas, que em termos de rendas, anularam outros possiveis candidatos com actividades mais apropriadas, o que é nítido aqui … é que não houve nem interesse, nem acompanhamento da parte da C.M.L. e do seu Departamento de urbanismo Comercial sobre a responsabilidade do Vereador Manuel Salgado.
Era possivel ter a mesma actividade, mas com uma imagem integrada na envolvente e no carácter da Zona … repare-se que este aspecto é fundamental, precisamente para manter o Prestigio e as “Características-Ambientes” que garantem esse Prestigio e consequentemente o seu valor comercial … senão estaremos mais uma vez a “matar a Galinha de ovos de Ouro”.
No entanto Manuel Salgado afirmava em entrevista ao Público no passado:
“Mais do que planos que funcionem como instrumentos de polícia, necessitamos de outra cultura de abordar a cidade. Por exemplo, a loja Casa (Vida) Portuguesa afirma-se pela valorização dos móveis antigos, das estantes antigas, de um determinado carácter que distingue a loja, para além dos produtos que vende. A Confeitaria Nacional está impecável. Isto parte muito da cultura dos próprios comerciantes.
Mas se essa cultura não existe...
Também é difícil impô-la.”
(in Público, entrevista de Ana Henriques)

E … o Director do Departamento de Urbanismo comercial da C.M.L. :
"Não há enquadramento legal para a câmara poder definir quotas por áreas de actividade", responde o director do departamento de urbanismo comercial da autarquia, Pedro Milharadas. Este e outros assuntos, como a requalificação do comércio da Baixa, "estão a ser pensados" ou "vão ser estudados", até porque uma medida deste tipo pode pôr em causa o princípio da livre concorrência, acrescenta.
Questionado sobre quais são, afinal, as funções dos funcionários deste departamento, responde: "Há bastantes anos que o departamento estagnou em matéria de estudos. O que faz é licenciamentos [de lojas]." In “Na Baixa de Lisboa umas lojas alargam horários, outras encolhem-nos”
Por Por Ana Henriques in Cidades / Publico

Passemos agora a outro caso que é imperativo acompanhar com o maior rigor e atenção … ou seja Grande Vigilância Preocupada … a ourivesaria Aliança.
As imagens falam por si …
Há uns anos, através da C.M.L. e do Núcleo de Estudos do Património, tentei uma classificação mais "forte" dos interiores da Ourivesaria Aliança , e recebi como resposta do então IPPAR que cabia a esta instituição a sua classificação (!?!)”
Este Estabelecimento esteve para ser classificado pelo Igespar como Imóvel de Interesse Público mas depois o caso foi “arrumado” e arquivado, com o argumento de que ele ja estava protegido por força do estatuto Baixa-Chiado
Entretanto foi Aprovada em sessão de CML de Janeiro de 2010 a transformação em hotel do prédio da Rua Garrett, nº42-52 (592/EDI/2009), com uma memória descritiva onde o promotor jurava a pés juntos que tudo era para manter porque a ourivesaria era uma mais valia para o hotel.
A Ourivesaria declara entretanto em informação clara e visivel, que encerra definitivamente a partir do dia 15 de Fevereiro . A questão reside na palavra DEFINITIVAMENTE … Vão os interiores ser mantidos com uma nova função ? O que se passa ?



Incluo uma imagem muito recente de outro caso no Chiado, onde um novo estabelecimento que foi ocupar o local de outra antiga Ourivesaria, soube adoptar a sua imagem de forma inteligente ao Contexto,Envolvente e Carácter da Zona, aproveitando elementos dos interiores e mobiliário da antiga Ourivesaria.
E isto … apesar de a “Globe”pertencer a uma cadeia Internacional …













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