sexta-feira, 3 de outubro de 2025

O que acontece se uma historiadora espalha ódio e informações falsas? / What happens if a historian spreads hate and false information?

 

Irene Pimentel 

VISÃO DA GRAÇA

O que acontece se uma historiadora espalha ódio e informações falsas?

Author avatar

Elisabete Tavares

|

02/10/2025

https://paginaum.pt/2025/10/02/o-que-acontece-se-uma-historiadora-espalha-odio-e-informacoes-falsas

 

Tenho abordado aqui, no PÁGINA UM, a temática das notícias falsas ou enviesadas divulgadas pelas agências noticiosas e pelos media ditos de referência, não só portugueses mas também internacionais.

 

Se jornalistas difundem notícias falsas ou distorcidas, obviamente que tem impacto e as consequências são devastadoras, sobretudo para os próprios jornalistas e para os meios onde divulgaram essa desinformação. A sua credibilidade fica posta em causa. E e confiança e credibilidade são a “moeda”, o valor do negócio da comunicação social. Mas também tem impacto na opinião pública.

 

Mas qual o impacto e as consequência que surgem quando um historiador decide partilhar informação falsa ou distorcida? ↓

 

Vem este artigo a propósito de uma publicação que a historiadora portuguesa Irene Pimentel fez na rede social Facebook, na sequência do homicídio, nos Estados Unidos, do jovem conservador e cristão Charlie Kirk.

 

Na sua publicação [cujo link opto intencionalmente por não colocar aqui, para não espalhar informação falsa], a prestigiada historiadora faz acusações falsas e cita afirmações truncadas e fora de contexto.

 

A sua publicação chegou-me às mãos na sequência de uma notícia que publicámos no PÁGINA UM com o título “Onda de desinformação diaboliza Charlie Kirk e glorifica o homicida como um ‘jovem anti-fascista’“.

 

 

Pimentel escreveu que Kirk era um “simpatizante nazi”, o que é obviamente falso. Kirk jamais apoiou a causa nazi ou o que defendia. Ademais, Kirk era um cristão devoto e os valores cristãos estavam presentes no seu discurso e no seu pensamento. Defendia a igualdade e a tolerância e promovia o diálogo com todos.

 

Mas o que mais chocou foi ver a historiadora a atribuir a Kirk uma ideia falsa e uma frase truncada. Pimentel afirmou que Kirk era contra a democracia. Escreveu isso por má-fé ou porque nem sequer foi à fonte, como deve fazer qualquer historiador mediano. Na realidade, num interessante debate de ideias (que pode ser visto em baixo), aquilo que Kirk afirmou foi que a palavra “democracia” não consta na Constituição dos Estados Unidos.

 

Esse diálogo é, aliás, um exemplo fascinante daquilo que Kirk promovia: o confronto entre concepções distintas, neste caso do governo nos Estados Unidos: uma baseada no republicanismo clássico e outra no ideal democrático moderno. E Kirk está, neste debate, a ser factual: do ponto de vista técnico, a Constituição dos Estados Unidos nunca utiliza a palavra democracia. De facto, “Founding Fathers“, sobretudo James Madison e Alexander Hamilton, alertaram repetidamente contra a democracia pura, que associavam ao domínio das massas, à instabilidade e à tirania da maioria.

 

No Federalista n.º 10, ensaio dedicado à salvaguarda de facções e insurreições domésticas, Madison distingue claramente entre “democracia pura” (em que os cidadãos decidem directamente) e república, que define como um sistema de representação e deliberação destinado a proteger as minorias e promover decisões ponderadas.

 

Assim, o modelo preferido pelos fundadores dos Estados Unidos era o de uma república constitucional, estruturada com freios e contrapesos, federalismo e separação de poderes, de forma a conter os impulsos majoritários. Foi isso que Charlie Kirk disse e manifestou que era “a favor de um governo representativo”, ou uma democracia representativa, como a que existe nos Estados Unidos e em Portugal. Irene Pimentel preferiu ignorar tudo isto, transformando alguém que trocava ideias, mesmo que de forma assertiva, num radical anti-democrata. Um absurdo.

 

Pimentel também chamou Kirk de “misógino, racista e criminoso”, o que é falso, e acusou-o de ser um organizador da invasão do Capitólio. Mas Kirk era um pacifista. Defendia a igualdade e a tolerância. Era cristão e conservador.

 

Pergunto-me: de onde vem o ódio expressado por esta historiadora por um jovem de 31 anos que deixa um legado em prol do diálogo e da paz entre pessoas com diferentes visões do mundo?

 

Quando li a publicação de Irene Pimentel surgiu-me, de imediato, a seguinte questão: como é que um historiador ignora os factos, trunca frases, faz acusações falsas?

 

Pensei na gravidade do caso e também questionei o seguinte: será que a reputada historiadora cometeu os mesmos pecados no desempenho do seu trabalho?

 

Porque Irene Pimentel não é uma historiadora qualquer. Foi galardoada com o Prémio Pessoa em 2007. É investigadora do Instituto de História Contemporânea, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É doutorada em História Institucional e Política Contemporânea e mestre em História Contemporânea (século XX). O seu trabalho centrou-se, sobretudo, sobre a ditadura e o Estado Novo. É também autora de vários livros, incluindo um sobre “Informadores da PIDE”.

 

Então, como é que uma historiadora tão experiente e prestigiada confunde um cristão devoto e conservador com um “simpatizante nazi”. Ou será que, hoje, um cristão e conservador é “um simpatizante nazi” na visão de alguns?

 

Kirk não era da extrema radical. Nem da extrema-direita. Não era racista, nem misógino. Todas as frases que vi nos media, incluindo no The Guardian, e que eram citadas como “prova” de que ele era racista, homofóbico ou misógino, estavam truncadas ou foram retiradas do seu contexto. Qualquer jornalista verifica facilmente as frases de Kirk. Há muitos vídeos dos seus debates disponíveis na Internet e também estão disponíveis os vídeos do seu programa.

 

Se para um cidadão comum é fácil verificar isso, para um jornalista também é. E também para um historiador.

 

A pergunta sobre se Irene Pimentel também reflectiu no seu trabalho passado as mesmas falhas que a levaram a difamar Kirk, ficou a ressoar na minha mente. E outras perguntas surgiram, como esta: e no caso de outros historiadores, será que sucede o mesmo; será que a sua ideologia ou religião os “desvia” na sua busca e análise de factos históricos?

 

Um jornalista espalhar informação falsa é grave. Mas pode ser um erro ocasional ou falta de tempo na investigação jornalística. Mas se um historiador faz o mesmo, tem toda uma outra dimensão e implicações. Faz-nos questionar a metodologia do seu trabalho. Afinal, não sabe aplicar a metodologia rigorosa exigida a um cientista? Não sabe que deve apenas usar fontes credíveis e, de preferência, primárias, caso seja possível?

 

Será que os cientistas, estudiosos e “guardiões” do nosso passado colectivo contaminaram o seu trabalho — e a nossa visão de acontecimentos históricos — com falhas na análise de fontes?

 

Ou será que, hoje, ser cristão e ser conservador é ser um “ditador, simpatizante nazi”? Será que existe uma febre anti-cristã e anti-conservadora? Uma espécie de nova histeria colectiva de caça às bruxas, em que conservadores e cristãos são “os maus nazis a abater”?

 

Não concordo com muitas das ideias de Kirk, mas tendo assistido a muitos dos vídeos dos seus debates, compreendo que o seu pensamento se enquadrava numa visão cristã e conservadora do mundo.

 

Acontece que a democracia vive da diversidade de pensamento, do diálogo e da fundamental liberdade de expressão. Se historiadores querem tornar “ilegal” e começar a atribuir o carimbo de extremista a cada cristão e conservador do mundo ocidental, então temos um sério problema. Um problema de radicalismo, pensamento anti-democrata que incentiva uma nova caça às bruxas ao desumanizar uma significativa parte da população. Se a historiadores, juntarmos jornalistas tornados activistas, políticos e comentadores, então enquanto sociedade democrática e plural, temos mesmo um sério problema.


VISION OF GRACE

What happens if a historian spreads hate and false information?

Author avatar

Elisabete Tavares

|

02/10/2025

https://paginaum.pt/2025/10/02/o-que-acontece-se-uma-historiadora-espalha-odio-e-informacoes-falsas

 

I have addressed here, at PÁGINA UM, the issue of false or biased news disseminated by news agencies and the so-called reference media, not only Portuguese but also international.

 

If journalists spread false or distorted news, it obviously has an impact and the consequences are devastating, especially for the journalists themselves and for the media where they spread this disinformation. Its credibility is called into question. And trust and credibility are the "currency", the value of the media business. But it also has an impact on public opinion.

 

But what is the impact and consequences that arise when a historian decides to share false or distorted information? ↓

 

This article comes about a publication that the Portuguese historian Irene Pimentel made on the social network Facebook, following the murder, in the United States, of the young conservative and Christian Charlie Kirk.

 

In her publication [whose link I intentionally choose not to put here, so as not to spread false information], the prestigious historian makes false accusations and cites truncated and out-of-context statements.

 

Its publication came to my hands following a news article we published on PÁGINA UM with the title "Wave of disinformation demonizes Charlie Kirk and glorifies the murderer as a 'young anti-fascist'".

 

 

Pimentel wrote that Kirk was a "Nazi sympathizer," which is obviously false. Kirk never supported the Nazi cause or what he stood for. Moreover, Kirk was a devout Christian and Christian values were present in his speech and thinking. He defended equality and tolerance and promoted dialogue with all.

 

But what shocked me the most was to see the historian attributing to Kirk a false idea and a truncated phrase. Pimentel said that Kirk was against democracy. He wrote this in bad faith or because he did not even go to the source, as any average historian should do. In fact, in an interesting debate of ideas (which can be seen below), what Kirk said was that the word "democracy" is not in the United States Constitution.

 

This dialogue is, in fact, a fascinating example of what Kirk promoted: the confrontation between different conceptions, in this case of government in the United States: one based on classical republicanism and the other on the modern democratic ideal. And Kirk is, in this debate, being factual: from a technical point of view, the United States Constitution never uses the word democracy. In fact, the Founding Fathers, especially James Madison and Alexander Hamilton, repeatedly warned against pure democracy, which they associated with the rule of the masses, instability and the tyranny of the majority.

 

In Federalist No. 10, an essay devoted to safeguarding factions and domestic insurrections, Madison clearly distinguishes between "pure democracy" (in which citizens decide directly) and republic, which he defines as a system of representation and deliberation designed to protect minorities and promote thoughtful decisions.

 

Thus, the model preferred by the founders of the United States was that of a constitutional republic, structured with checks and balances, federalism and separation of powers, in order to contain the majoritarian impulses. This is what Charlie Kirk said and said that he was "in favor of a representative government", or a representative democracy, like the one that exists in the United States and Portugal. Irene Pimentel preferred to ignore all this, transforming someone who exchanged ideas, even if assertively, into an anti-democratic radical. An absurdity.

 

Pimentel also called Kirk a "misogynist, racist and criminal," which is false, and accused him of being an organizer of the invasion of the Capitol. But Kirk was a pacifist. He defended equality and tolerance. He was a Christian and a conservative.

 

I ask myself: where does the hatred expressed by this historian for a 31-year-old young man who leaves a legacy in favor of dialogue and peace between people with different visions of the world come from?

 

When I read Irene Pimentel's publication, the following question immediately arose in me: how can a historian ignore the facts, truncate sentences, make false accusations?

 

I thought about the seriousness of the case and also questioned the following: did the renowned historian commit the same sins in the performance of her work?

 

Because Irene Pimentel is not just any historian. She was awarded the Pessoa Prize in 2007. She is a researcher at the Institute of Contemporary History, Faculty of Social Sciences and Humanities of the New University of Lisbon. She holds a PhD in Institutional History and Contemporary Politics and a Master's degree in Contemporary History (twentieth century). His work focused mainly on the dictatorship and the Estado Novo. She is also the author of several books, including one on "PIDE Informers".

 

So how does such an experienced and prestigious historian mistake a devout, conservative Christian for a "Nazi sympathizer." Or is it that, today, a Christian and conservative is "a Nazi sympathizer" in the view of some?

 

Kirk was not the extreme radical. Nor from the extreme right. He was not racist, nor misogynist. Every sentence I saw in the media, including in The Guardian, that was cited as "proof" that he was racist, homophobic or misogynistic, was garbled or taken out of context. Any journalist easily verifies Kirk's sentences. There are many videos of his debates available on the Internet and the videos of his program are also available.

 

If it is easy for an ordinary citizen to verify this, for a journalist it is too. And also for a historian.

 

The question of whether Irene Pimentel also reflected in her past work the same flaws that led her to defame Kirk, resonated in my mind. And other questions arose, such as this: and in the case of other historians, is the same; Does their ideology or religion "divert" them in their search and analysis of historical facts?

 

A journalist spreading false information is serious. But it could be an occasional mistake or lack of time in journalistic investigation. But if a historian does the same, it has a whole other dimension and implications. It makes us question the methodology of his work. After all, don't you know how to apply the rigorous methodology required of a scientist? Don't you know that you should only use credible sources and, preferably, primary sources, if possible?

 

Have scientists, scholars, and "guardians" of our collective past tainted their work—and our view of historical events—with flaws in source analysis?

 

Or is it that, today, to be a Christian and to be conservative is to be a "dictator, Nazi sympathizer"? Is there an anti-Christian and anti-conservative fever? A kind of new collective witch-hunt hysteria, in which conservatives and Christians are "the bad Nazis to be slaughtered"?

 

I don't agree with many of Kirk's ideas, but having watched many of the videos of his debates, I understand that his thinking fit into a Christian and conservative view of the world.

 

It turns out that democracy lives on diversity of thought, dialogue and fundamental freedom of expression. If historians want to make it "illegal" and start labeling every Christian and conservative in the Western world as an extremist, then we have a serious problem. A problem of radicalism, anti-democratic thinking that encourages a new witch hunt by dehumanizing a significant part of the population. If we add to historians, we add journalists turned activists, politicians and commentators, then as a democratic and plural society, we really have a serious problem.

Sem comentários: