sexta-feira, 3 de outubro de 2025

‘Flop’: 99% dos adolescentes não querem ler jornais portugueses… nem de borla / 'Flop': 99% of teenagers don't want to read Portuguese newspapers... Not even for free

 


NUM UNIVERSO DE 418.682 JOVENS, SÓ HÁ 4.442 ADESÕES ÀS ASSINATURAS DIGITAIS 'OFERECIDAS' PELO GOVERNO

‘Flop’: 99% dos adolescentes não querem ler jornais portugueses… nem de borla

 

Author avatar

Pedro Almeida Vieira e Elisabete Tavares

|

29/09/2025

https://paginaum.pt/2025/09/29/flop-99-dos-adolescentes-nao-querem-ler-jornais-portugueses-nem-de-borla

 

Nem dado. O programa de ofertas digitais de jornais para jovens entre os 15 e os 18 anos está a revelar-se um rotundo fracasso, de contornos pouco abonatórios tanto para o Governo, que o concebeu, como para as empresas de comunicação social, que se revelaram incapazes de despertar o interesse de uma geração inteira que já nasceu em plena era digital.

 

Prometido em Outubro do ano passado por Pedro Duarte, então ministro dos Assuntos Parlamentares e hoje candidato social-democrata à Câmara do Porto, o programa, gerido pela Estrutura de Missão para a Comunicação Social (#PortugalMediaLab), pretendia oferecer gratuitamente até 400 mil assinaturas digitais, por um prazo de dois anos, a jovens entre os 15 e os 18 anos, em jornais ou revistas digitais de informação geral ou económica. A ideia era ambiciosa: aproximar adolescentes do jornalismo profissional e fomentar hábitos de leitura informativa.

 

Contudo, a execução ficou muito aquém das intenções. Os jornais interessados tinham de ter periodicidade semanal ou inferior e subscrições pagas, o que automaticamente excluiu o PÁGINA UM, por ser um projecto de acesso livre, mas também outros órgãos que não trabalham com sistemas de paywall. ↓

 

 O programa arrancou em Maio deste ano, permitindo a cada jovem escolher apenas uma publicação, entre os títulos aderentes, através de inscrição online no portal gov.pt, presencialmente ou por via telefónica. Apesar da simplicidade prometida, o processo revelou-se burocrático, com validações sucessivas, códigos de activação e pouca divulgação fora dos canais institucionais.

 

Cinco meses depois, o resultado é desolador: apenas 4.442 jovens activaram assinaturas digitais, segundo dados oficiais. Tendo em conta que, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, existiam 418.682 adolescentes na faixa etária abrangida, significa que apenas 1,06% aderiu ao programa — ou seja, menos de 11 por cada mil potenciais beneficiários. A esmagadora maioria ignorou a oferta, mesmo sendo gratuita, o que levanta sérias dúvidas sobre a eficácia das políticas públicas de incentivo à leitura mediática.

 

Num cenário negro, o Expresso lidera procura jovem com 1.592 assinaturas digitais, mas não se sabe a percentagem destes acessos que acabam usados pelos pais.

 

Os dados por publicação são ainda mais reveladores do desinteresse. O Expresso ‘lidera’ com apenas 1.592 assinaturas, embora nada garanta que sejam efectivamente lidas por jovens e não pelos pais, que poderão ter aproveitado a oportunidade. Esse impacto, aliás, nunca foi avaliado pelo programa. O Observador surge em segundo lugar, com 1.066 assinaturas, seguido do Público com 911, número simbólico face aos custos do desenvolvimento da plataforma GenP, criada para atrair novos leitores.

 

Nas restantes publicações, o panorama é quase residual. A Visão regista 382 subscrições, a Sábado 132 e o Jornal de Notícias 121. Abaixo das 100 adesões estão o Correio da Manhã (94), o Diário de Notícias (50), o Jornal Económico (47), o Eco (35) e a Vida Económica (11). No conjunto, estas cifras representam receitas mensais inferiores a 500 euros por título, tornando a participação no programa marginalmente relevante do ponto de vista financeiro.

 

“Na fase actual considera-se uma adesão inferior à esperada”, admite uma fonte governamental ao PÁGINA UM, sublinhando que a avaliação ainda não permite identificar as causas concretas do insucesso. A dúvida divide-se entre a falta de interesse dos jovens em consumir informação jornalística e a ausência de uma estratégia de divulgação eficaz. Na prática, a maioria das publicações não investiu em promover a iniciativa, talvez antecipando o seu desfecho.

 

Segundo a mesma fonte, o Governo aguarda o fim do período eleitoral para “avaliar o impacto da medida e a sua divulgação”, lembrando que nos últimos meses estava legalmente impedido de lançar campanhas institucionais devido às restrições impostas pelas eleições legislativas e europeias. O programa prolonga-se até 31 de Dezembro.

 

Diário de Notícias, liderado por Filipe Alves, fechou o primeiro trimestre de 2025 com 723 assinaturas digitais. Com o programa de incentivo à literacia mediática para jovens conseguiu 50 assinaturas.

 

No entanto, essa justificação dificilmente explica um desastre desta dimensão, tanto mais que o público-alvo é altamente digitalizado e deveria ser fácil de alcançar através de redes sociais, escolas e parcerias educativas.

 

A ironia é evidente: um programa concebido para aproximar os jovens dos media acabou por expor o fosso geracional e a irrelevância crescente da imprensa tradicional junto das novas gerações. Se nem quando o jornal é oferecido de graça o público juvenil se mostra interessado, a crise estrutural do sector assume contornos ainda mais graves — não apenas financeiros, mas também culturais e democráticos.


IN A UNIVERSE OF 418,682 YOUNG PEOPLE, THERE ARE ONLY 4,442 ADHESIONS TO THE DIGITAL SUBSCRIPTIONS 'OFFERED' BY THE GOVERNMENT

'Flop': 99% of teenagers don't want to read Portuguese newspapers... Not even for free

 

Author avatar

Pedro Almeida Vieira and Elisabete Tavares

|

29/09/2025

https://paginaum.pt/2025/09/29/flop-99-dos-adolescentes-nao-querem-ler-jornais-portugueses-nem-de-borla

 

Not even a given. The program of digital newspaper offers for young people between 15 and 18 years old is proving to be a resounding failure, with unflattering contours both for the Government, which conceived it, and for the media companies, which have proved incapable of arousing the interest of an entire generation that was born in the middle of the digital age.

 

Promised in October last year by Pedro Duarte, then Minister of Parliamentary Affairs and now a Social Democrat candidate for Porto City Hall, the program, managed by the Mission Structure for Social Communication (#PortugalMediaLab), intended to offer up to 400 thousand digital subscriptions free of charge, for a period of two years, to young people between 15 and 18 years old,  in newspapers or digital magazines of general or economic information. The idea was ambitious: to bring teenagers closer to professional journalism and foster informative reading habits.

 

However, the execution fell far short of intentions. Interested newspapers had to have weekly or lower periodicity and paid subscriptions, which automatically excluded PÁGINA UM, as it is a free access project, but also other bodies that do not work with paywall systems. ↓

 

 The program started in May this year, allowing each young person to choose only one publication, among the participating titles, through online registration on the gov.pt portal, in person or by telephone. Despite the promised simplicity, the process proved to be bureaucratic, with successive validations, activation codes and little dissemination outside institutional channels.

 

Five months later, the result is heartbreaking: only 4,442 young people have activated digital signatures, according to official data. Taking into account that, according to the National Institute of Statistics, there were 418,682 adolescents in the age group covered, it means that only 1.06% joined the program — that is, less than 11 for every thousand potential beneficiaries. The overwhelming majority ignored the offer, even though it was free, which raises serious doubts about the effectiveness of public policies to encourage media reading.

 

In a dark scenario, Expresso leads youth demand with 1,592 digital subscriptions, but it is not known what percentage of these accesses end up being used by parents.

 

The data per publication are even more revealing of the lack of interest. Expresso 'leads' with only 1,592 signatures, although there is no guarantee that they will actually be read by young people and not by parents, who may have taken advantage of the opportunity. This impact, by the way, was never evaluated by the program. Observador comes in second, with 1,066 subscriptions, followed by Público with 911, a symbolic number compared to the costs of developing the GenP platform, created to attract new readers.

 

In the other publications, the panorama is almost residual. Visão registers 382 subscriptions, Sábado 132 and Jornal de Notícias 121. Below 100 adhesions are Correio da Manhã (94), Diário de Notícias (50), Jornal Económico (47), Eco (35) and Vida Económica (11). Taken together, these figures represent monthly revenues of less than EUR 500 per title, making participation in the programme marginally financially relevant.

 

"At the current stage, a lower than expected adhesion is considered", admits a government source to PÁGINA UM, stressing that the evaluation still does not allow the identification of the concrete causes of failure. The doubt is divided between the lack of interest of young people in consuming journalistic information and the absence of an effective dissemination strategy. In practice, most publications did not invest in promoting the initiative, perhaps anticipating its outcome.

 

According to the same source, the Government is waiting for the end of the electoral period to "assess the impact of the measure and its dissemination", recalling that in recent months it was legally prevented from launching institutional campaigns due to the restrictions imposed by the legislative and European elections. The program runs until December 31.

 

Diário de Notícias, led by Filipe Alves, closed the first quarter of 2025 with 723 digital subscriptions. With the program to encourage media literacy for young people, he got 50 signatures.

 

However, this justification hardly explains a disaster of this magnitude, especially since the target audience is highly digitized and should be easy to reach through social networks, schools and educational partnerships.

 

The irony is evident: a program designed to bring young people closer to the media ended up exposing the generational gap and the growing irrelevance of the traditional press to the new generations. If not even when the newspaper is offered for free the young public is interested, the structural crisis of the sector takes on even more serious contours — not only financial, but also cultural and democratic.

Sem comentários: