domingo, 9 de junho de 2024

“A morrer do seu sucesso”. Assim é vista Lisboa pelo ‘El País’

 


“A morrer do seu sucesso”. Assim é vista Lisboa pelo ‘El País’

 

Tornou-se “meca do turismo internacional” mas tudo tem um preço. No caso de Lisboa, é a gentrificação e a “perda das suas essências”, escreve o jornal espanhol ‘El País’.

 

Rute Barbedo

Escrito por Rute Barbedo sexta-feira 31 maio 2024

https://www.timeout.pt/lisboa/pt/noticias/a-morrer-do-seu-sucesso-assim-e-vista-lisboa-pelo-el-pais-053124

 

"O símbolo de Lisboa, romantismos à parte, é o tuk-tuk." Assim começa o jornal El País uma reportagem sobre a transformação da cidade sobretudo nos últimos dez anos, à boleia do crescimento do turismo. Publicada a 29 de Maio, a peça recai sobre as perdas de autenticidade, em troca da proliferação de cadeias de marcas internacionais e de lojas descaracterizadas naquele que foi considerado o melhor destino urbano europeu de viagem na edição deste ano dos World Travel Awards, os "óscares do turismo".

 

O "melhor" contempla infinitas variações e é, por isso, sempre relativo. Pode ser uma cidade onde há "decorações florais de plástico" e tigres nos tejadilhos dos tuk-tuks o melhor destino turístico? Talvez, se considerarmos que "Lisboa entrou para o clube das cidades carismáticas que já só fazem os visitantes felizes". A questão agudiza-se, no entanto, quando um lugar deixa também de fazer felizes os próprios turistas, como arrisca uma moradora da zona do Castelo, Tânia Correia, abordada pelo jornal espanhol. Se a gentrificação atinge os locais, a "perda de essências" afecta também os visitantes.

 

A "Lisboa cool" que perdeu 30% da população

"A Lisboa cool de roupas penduradas, azulejos e fachadas coloridas" é também a que "perdeu perto de 30% da população desde 2013", aponta o diário, arriscando projectar a cidade no futuro: "Se o ritmo de expulsão dos locais não parar, dentro de alguns anos os turistas só poderão ver-se uns aos outros quando subirem Alfama." No passado recente, enumera o El País, perderam-se vizinhos, mercearias tradicionais, associações de bairro e a vida colectiva.

 

Indo ao detalhe, a reportagem elenca casos recentes de fechos, como a Livraria Ferin ou a Casa Senna, ou de casas históricas que vivem sob a ameaça de ficar sem tecto, como a Academia dos Amadores de Música. "Talvez sem a Academia não tivessem existido os Madredeus, o grupo que triunfou em todo o mundo com a sua reivindicação da música tradicional à margem do fado, já que tanto a vocalista Teresa Salgueiro como o guitarrista Pedro Ayres Magalhães foram formados na escola." As palavras de Pedro Martins Barata, presidente da Academia, ajudam a descrever a transformação: "A ideia que havia do Chiado como centro da vida cultural lisboeta já desapareceu. Exceptuando os teatros e museus, que não se podem alterar, quase tudo são lojas de marcas internacionais ou de souvenirs. O turismo dizimou tudo."

 

Nada de novo para os lisboetas, habituados a lidar com perdas, mas dissonante, esta reportagem, de muitas outras peças que têm sido publicadas sobre a cidade nos últimos anos, qualificando-a como o destino mais cool ou apetecível da Europa.

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