O nó de um aeroporto que trava o país
PS e PSD parecem duas crianças a discutir quem é culpado
pela travessura – a indecisão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa.
Manuel Carvalho
19 de Junho de
2022, 21:30
https://www.publico.pt/2022/06/19/politica/editorial/aeroporto-trava-pais-2010581
Há mistérios na
história do novo aeroporto de Lisboa inalcançáveis pela inteligência comum.
Para percebermos o que está em causa é necessário destapar a hipocrisia e a
mesquinhez que encobrem as manobras da pequena política. O PS está aflito com
os custos da bagunça que se regista nas chegadas internacionais semana após
semana e suplica ao PSD para que o apoie numa decisão; o PSD ignora os danos de
imagem e outros prejuízos que as intermináveis filas de espera causam ao país e
aproveita a fragilidade do Governo assobiando para o lado, enquanto se empenha
em denunciar a sua “incompetência”. Parecem duas crianças a discutir quem é
culpado pela travessura.
Jamais haverá
consenso sobre uma localização, como décadas de intermináveis discussões
comprovam, embora a sensibilidade do estuário do Tejo justifique todas as
dúvidas. Também por isso, compreende-se a importância de um acordo entre os
dois principais partidos. De resto, a história começou bem, com António Costa a
não desfazer a opção de Pedro Passos Coelho pelo Montijo. Mas desde 2015 deixou
sempre a sensação de que o avanço da obra não estava apenas dependente dos
estudos. Os cortes drásticos no investimento público para acomodar as contas
certas e o equilíbrio precário da “geringonça” recomendavam o adiamento.
A prova dessa
gestão displicente do novo aeroporto vê-se na incúria com que o anterior
Governo deixou encalhar a decisão num veto de autarcas sobre o Montijo –
perante todos os sinais, teria sido fácil revogar a lei que a autoriza. Ou na
facilidade com que aceitou uma nova manobra dilatória de Rui Rio – mais uma
avaliação ambiental estratégica. Ou nos quase dois anos que, entretanto, se
passaram, nos quais se escolheram entidades para realizar o estudo num processo
sujeito a críticas e a suspeitas de incompatibilidades. Ou ainda no novo e
pungente apelo para que o PSD o salve da polémica.
Com o regresso da
bagunça ao Aeroporto Humberto Delgado, a questão ganhou outra vez relevância política.
E, para desgraça do país, tudo continua como sempre: entre a displicência, a
birra partidária e a paralisia política. O ministro da Administração Interna
tenta colar os cacos com planos de contingência ou impondo, e bem, a autoridade
do Estado aos inspectores do SEF, mas o caos está para continuar. A imagem do
país degrada-se e o fluxo de turistas está ameaçado com o cancelamento de voos.
Em vez de
respostas, de pressa e de sentido de Estado, o Governo escuda-se no consenso
político e o PSD enche-se de ares para o deixar mergulhado na ressaca da sua
negligência. Pressa, decisão, sentido de Estado e foco nas prioridades do país
continuam a aterrar em parte incerta.


Sem comentários:
Enviar um comentário