sexta-feira, 23 de abril de 2021

TAP, o pior está para vir

 


EDITORIAL

TAP, o pior está para vir

 

As injecções de capital público, a espera por Bruxelas e os adiamentos têm criado a ilusão de que o problema está controlado. Não está. Os prejuízos anunciados esta semana são apenas um indício de que o problema da TAP apenas está a começar.

 


Manuel Carvalho

22 de Abril de 2021, 21:14

https://www.publico.pt/2021/04/22/economia/noticia/tap-pior-1959685

 

Já se sabia, mas, a cada dia que passa, vai ficando mais claro que a reestruturação da TAP não será nem simples nem isenta de dor. Já se tinha percebido que uma redução tão brutal de postos de trabalho como a que consta no plano entregue a Bruxelas exigiria coacção, poder, resistência e sofrimento. O Governo, para já, negoceia, dilata prazos, faz apelos pungentes para a realidade dramática da companhia, mas sabe, como todos sabemos, que o emagrecimento da empresa vai dar origem a um dos mais dramáticos conflitos laborais do país em muitos anos. Não há cortes sem danos, principalmente quando quem os faz está sujeito à pressão política de sindicatos ou da esquerda parlamentar, como é o caso.

 

Pode-se assumir que as greves ou os protestos que estão para vir quando o Governo tiver esgotado o tempo das negociações para a saída de trabalhadores são inevitáveis. Quer fechasse a companhia, quer a vendesse, ou, como escolheu, a salvasse numa versão mais reduzida, o Governo teria sempre em mãos este drama. O problema da TAP é antigo e a pandemia sublinhou-o com o traço da ruína. Mas uma reestruturação feita por um conselho de administração de uma empresa ou por um Governo de direita é uma coisa; um despedimento assinado por um Governo e, em particular, por um ministro de esquerda é outra coisa muito diferente.

 

Dizer que a companhia, tal como está, não é viável, recordar que não há dinheiro, que a transportadora não pode ser um sorvedouro de impostos serão, neste contexto, argumentários racionais, mas pouco útieis. Os trabalhadores não têm culpa dos erros de gestão anteriores, nem da pandemia, nem da carência financeira do país. Os momentos de ansiedade que eles e as suas famílias vivem merecerão apoio e compreensão. Entre a razão e a emoção, entre a pressão para acabar com uma companhia ruinosa e os apelos à justiça ou à defesa de postos de trabalho, será impossível formar consensos. Mesmo que optem pelas melhores soluções possíveis, a TAP está condenada a ser um espinho cravado na agenda do Governo e nas ambições de Pedro Nuno Santos.

 

O que se vislumbra, portanto, é um cenário preocupante. Em Julho último, escrevemos neste espaço que, “no meio de uma crise terrível como a que vivemos, o Governo ficar no comando de uma empresa falida e sujeita a uma reestruturação dolorosa é meio caminho andado para o desastre”. As injecções de capital público, a espera por Bruxelas e os adiamentos têm criado a ilusão de que o problema está controlado. Não está. Os prejuízos anunciados esta semana são apenas um indício de que o problema apenas está a começar.

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