terça-feira, 29 de outubro de 2019

Lisboa: um retrato dos “engarrafamentos turísticos” por um ex-condutor de tuk-tuk



“Os moradores de Lisboa estão fartos. À porta de suas casas há enchentes de pessoas de auscultadores nos ouvidos a tirar fotografias.”

FOTOGRAFIA
Lisboa: um retrato dos “engarrafamentos turísticos” por um ex-condutor de tuk-tuk

Durante dois anos, Janine Barreto foi guia turístico e condutor de tuk-tuk e fotografou o que viu. “Corremos o risco de Lisboa se transformar apenas numa montra sem identidade.”

P3 22 de Outubro de 2019, 13:23

“Há dias em que chegam a Lisboa, ao mesmo tempo, dois ou três cruzeiros. De repente, dez mil turistas entram na cidade de uma só vez e tudo se transforma no caos.” Janine Barreto, ex-guia turístico e ex-condutor de tuk-tuk em Lisboa, recorda a azáfama vivida no centro da cidade quando trabalhava no sector. “Tudo cheio. Ao ponto de considerar que a cidade estava no limite da sua capacidade.” Em 2017, ainda havia espaço para todos os profissionais, o trabalho era mais rentável e mais desafogado, explica. No ano seguinte, surgiram mais empresas turísticas, “muito mais concorrência”. E a resposta da autarquia, no que toca a infra-estruturas, manteve-se igual. “Tornou-se manifestamente insuficiente. Havia, por exemplo, muito mais tuk-tuks do que lugares de aparcamento para os mesmos.”

Janine Barreto regressou à Figueira da Foz, de onde é natural, no início de 2019. Abandonou a área, tornou-se num céptico do turismo de massas. “Os moradores de Lisboa estão fartos. À porta de suas casas há enchentes de pessoas de auscultadores nos ouvidos a tirar fotografias.” Por isso, durante os dois anos de trabalho, retratou quem visitava Lisboa para lançar um alerta: “tem de haver regras, tem de haver limites”. “Sobretudo para proteger quem vive em bairros típicos, como Alfama, Mouraria, para que os locais não fiquem descaracterizados, para que não percam o que está no interior. Corremos o risco de Lisboa se transformar apenas numa montra sem identidade.”

Janine, hoje com 31 anos, recorda a sua própria vida, em Belém, entre a enchente de turistas. “Enquanto morador, chateava-me o tempo que perdia nas deslocações, nas filas. Incomodavam-me os transportes sempre a abarrotar, as filas intermináveis para os pastéis de nata, para a entrada no Mosteiro dos Jerónimos.” “Verdadeiros engarrafamentos turísticos”, que hoje recorda sem saudade.



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