CARRIS
ACCEPTED COMPANIES WITHOUT QUALIFICATIONS AND CHOSE MNTC FOR SUBMITTING A
PROPOSAL 42% BELOW THE BASE PRICE
Elevador
da Glória: maintenance company didn't even have a license (or experience) when
it applied for the 2022 public tender
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Pedro
Almeida Vieira and Elisabete Tavares
|
08/09/2025
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The
Carris Administration accepted that MNTC - the company that has ensured, in the
last three years, the maintenance of the Glória, Lavra, Bica and Santa Justa
Elevator lifts - would compete in the public tender launched in 2022 without
even having, at the time, the mandatory EMIE permit, issued by the
Directorate-General for Energy and Geology (DGEG), which certifies the
technical aptitude to carry out maintenance work on lifting facilities. In
other words, in the last three years, Lisbon's elevators have literally been in
the hands of a 'new company'.
The
requirement for a permit, provided for by law for the overwhelming majority of
the most complex economic activities, aims precisely to ensure that only
companies with recognized skills and qualified teams can intervene in vertical
transport equipment, whose safety depends on strict maintenance procedures.
However,
according to information obtained by PÁGINA UM, MNTC would only obtain the
license for the lifting equipment maintenance sector on June 29, 2022 – about
three weeks after the deadline for submitting proposals for the tender, which
had opened on May 11 of that year. In other words, at the time of the
application, MNTC had no history or certified experience in the lift
maintenance sector. Before, MNTC only had public contracts for the maintenance
of swimming pools and the overhaul of electric vehicles. ↓
However, in 2022, the Carris Administration, already chaired by Pedro Bogas, thought that it was not necessary for competitors to still have certification or other qualification to submit proposals. At the time of the tender, according to DGEG records, there were exactly 100 companies in Portugal with a valid EMIE permit, so it cannot be claimed that there was a lack of supply in the market.
Despite
this, Carris allowed companies without a permit, and therefore with zero
experience, to submit proposals for the maintenance of Lisbon's four public
lifts – equipment classified as National Monuments or of high historical and
tourist value.
Glória
elevator disaster: 'sudden' cable collapse casts doubt on maintenance quality.
The
tender specifications did not give any weight to the experience or technical
curriculum of the tenderers: the award criterion was exclusively the price.
Thus, in a decision that today proves to be catastrophic, Carris chose the
cheapest proposal, regardless of the lack of track record or proven capacity of
the contractor.
In the
2022 tender, whose award was decided on July 21, MNTC presented a price of only
995,515 euros for a three-year contract, a value that represents about 58% of
the base price set by Carris, which was 1,728,000 euros. Or, from another
perspective, 42% below the base price. The difference was overwhelming and made
it virtually impossible for companies with track record and experience to
compete on a level playing field.
It should
be noted that MNTC was not the only company without a license that Carris
allowed to compete. Among the four competitors – MNTC, Gasfomento, GMF and
Liftech – only the latter held an EMIE licence and consolidated experience in
the sector.
Pedro
Bogas, president of Carris: in 2022 he accepted that companies with no
experience and no active license could compete for the maintenance of
elevators.
Liftech –
which belonged to the Efacec Group until 2002 – is, in fact, a reference in the
maintenance of lifts, funiculars and cable cars in Portugal, with in its
portfolio the Guindais funicular, in Porto, the Penha cable car, in Guimarães,
the Viseu funicular, the São João da Malta funicular, in Covilhã, and the Santa
Luzia funicular, in Viana do Castelo,
among others.
In
Lisbon, this company was also responsible for the installation of the Graça
funicular, managed by Carris and inaugurated last year, having even received
the Valmor Architecture Prize. Liftech was also, due to its experience in the
rehabilitation of historic equipment, responsible for the deep refurbishment of
the Santa Justa elevator also in 2024. It also has relevant contracts with
public entities, including the maintenance of elevators in Gebalis' social
housing, a contract that was renewed in April this year for 4.6 million euros.
Carris'
option, in 2022, to choose exclusively based on price, without any appreciation
of technical competence or accumulated experience, is all the more serious as
the specifications allowed the "checks" to be merely visual.
There was
no obligation for mechanical tests or non-destructive tests on the traction
cables, and the contract limited itself to providing for companies to deliver
daily, weekly, monthly and half-yearly verification reports – reports that, as
it turned out, were often reduced to records with the word "OK".
.
What then
seemed to be a good deal for the administration presided over by Pedro Bogas
proved to be ruinous. The tragic derailment of the Elevador da Glória last
Wednesday, which caused 16 deaths and more than two dozen injuries, made it
evident that the option for minimum price maintenance may have compromised
safety.
The
disaster also resulted in irreversible damage to one of the vehicles, the
indefinite suspension of the operation of Lisbon's four lifts – all of them
profitable and important for the city's mobility and tourism – and a serious
reputational crisis for Carris, Lisbon and tourism in Portugal.
In the
end, what was supposed to be a public procurement procedure aimed at ensuring
the best value for money for a critical security service ended up turning into
a choice based solely on price, ignoring the qualification and track record of
the companies. Today, with an elevator destroyed, four lifts stopped, dozens of
victims and incalculable reputational damage, the decision two years ago proves
to be a paradigmatic example of what happens when savings are confused with
efficient management.
CARRIS
ACEITOU EMPRESAS SEM HABILITAÇÕES E ESCOLHEU MNTC POR APRESENTAR PROPOSTA 42%
ABAIXO DO PREÇO BASE
Elevador
da Glória: empresa de manutenção nem sequer tinha licença (nem experiência)
quando se candidatou ao concurso público de 2022
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Pedro
Almeida Vieira e Elisabete Tavares
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08/09/2025
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A
Administração da Carris aceitou que a MNTC – a empresa que assegurou, nos
últimos três anos, a manutenção dos ascensores da Glória, Lavra, Bica e do
Elevador de Santa Justa – concorresse ao concurso público lançado em 2022 sem
sequer possuir, na altura, o obrigatório alvará EMIE, emitido pela
Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), que certifica a aptidão técnica
para executar trabalhos de manutenção de instalações de elevação. Ou seja, nos
últimos três anos, os elevadores de Lisboa estiveram literalmente nas mãos de
uma ‘empresa novata’.
A
exigência de alvará, prevista na lei para a esmagadora maioria das actividades
económicas mais complexa, visa precisamente garantir que apenas empresas com
competências reconhecidas e equipas qualificadas possam intervir em
equipamentos de transporte vertical, cuja segurança depende de rigorosos
procedimentos de manutenção.
Porém, de
acordo com informação obtida pelo PÁGINA UM, a MNTC só viria a obter o alvará
para o sector da manutenção de equipamentos de elevação no dia 29 de Junho de
2022 – cerca de três semanas depois de terminado o prazo de apresentação de
propostas para o concurso, que fora aberto em 11 de Maio desse ano. Ou seja, à
data da candidatura, a MNTC não tinha qualquer histórico ou experiência
certificada no sector de manutenção de ascensores. Antes, a MNTC somente tinha
contratos públicas para manutenção de piscinas e de revisão de veículos
eléctricos. ↓
Contudo,
em 2022, a Administração da Carris, já então presidida por Pedro Bogas, achou
que não era necessário que os concorrentes tivessem ainda certificação ou outra
habilitação para apresentarem propostas. À data do concurso existiam, segundo
os registos da DGEG, exactamente 100 empresas em Portugal com o alvará EMIE
válido, pelo que não se pode alegar falta de oferta no mercado.
Apesar
disso, a Carris permitiu que empresas sem alvará, e portanto com experiência
nula, apresentassem propostas para a manutenção dos quatro ascensores públicos
de Lisboa – equipamentos classificados como Monumentos Nacionais ou de elevado
valor histórico e turístico.
Desastre
do elevador da Glória: colapso ‘repentino’ do cabo coloca dúvidas sobre
qualidade da manutenção.
O caderno
de encargos do concurso não atribuía qualquer ponderação à experiência ou ao
currículo técnico das concorrentes: o critério de adjudicação era
exclusivamente o preço. Assim, numa decisão que hoje se revela catastrófica, a
Carris escolheu a proposta mais barata, independentemente da falta de historial
ou de capacidade comprovada do adjudicatário.
No
concurso de 2022, cuja adjudicação foi decidida a 21 de Julho, a MNTC
apresentou um preço de apenas 995.515 euros para um contrato de três anos,
valor que representa cerca de 58% do preço base fixado pela Carris, que era de
1.728.000 euros. Ou, noutra perspectiva, 42% abaixo do preço base. A diferença
foi esmagadora e tornou praticamente impossível às empresas com histórico e
experiência competir em igualdade de circunstâncias.
Importa
referir que a MNTC não foi a única empresa sem alvará que a Carris deixou
concorrer. Entre as quatro concorrentes – MNTC, Gasfomento, GMF e Liftech –,
apenas esta última detinha o alvará EMIE e experiência consolidada no sector.
Pedro
Bogas, presidente da Carris: em 2022 aceitou que empresas sem experiência e sem
licença activa pudessem concorrer para a manutenção dos elevadores.
A Liftech
– que pertenceu até 2002 ao Grupo Efacec – é, de facto, uma referência na
manutenção de ascensores, funiculares e teleféricos em Portugal, contando no
seu portefólio com o funicular dos Guindais, no Porto, o teleférico da Penha,
em Guimarães, o funicular de Viseu, o funicular de São João da Malta, na
Covilhã, e o funicular de Santa Luzia, em Viana do Castelo, entre outros.
Em
Lisboa, esta empresa foi ainda responsável pela instalação do funicular da
Graça, gerido pela Carris e inaugurado no ano passado, tendo mesmo recebido o
Prémio Valmor de Arquitectura. A Liftech foi também, pela sua experiência de
reabilitação de equipamentos histórica, a responsável pela remodelação profunda
do elevador de Santa Justa também em 2024. Tem ainda contratos relevantes com
entidades públicas, incluindo a manutenção de elevadores nos bairros sociais da
Gebalis, contrato esse renovado em Abril deste ano por 4,6 milhões de euros.
A opção
da Carris, em 2022, de escolher exclusivamente com base no preço, sem qualquer
valorização da competência técnica ou da experiência acumulada, é tanto mais
grave quanto o caderno de encargos permitia que as “verificações” fossem
meramente visuais.
Não havia
qualquer obrigatoriedade de ensaios mecânicos ou testes não destrutivos aos
cabos de tracção, limitando-se o contrato a prever que as empresas entregassem
relatórios de verificações diárias, semanais, mensais e semestrais – relatórios
que, como se veio a verificar, se resumiam muitas vezes a registos com a
palavra “OK”.
.
Aquilo
que então parecia ser um bom negócio para a administração presidida por Pedro
Bogas revelou-se ruinoso. O trágico descarrilamento do Elevador da Glória na
passada quarta-feira, que provocou 16 mortes e mais de duas dezenas de feridos,
tornou evidente que a opção por uma manutenção de preço mínimo pode ter
comprometido a segurança.
O
desastre resultou também em danos irreversíveis num dos veículos, na suspensão
por tempo indeterminado da operação dos quatro ascensores de Lisboa – todos
eles rentáveis e importantes para a mobilidade e o turismo da cidade – e numa
crise reputacional grave para a Carris, para Lisboa e para o turismo de
Portugal.
Convém
ainda sublinhar que o processo de obtenção do alvará EMIE não é complexo: é um
procedimento administrativo, praticamente automático para empresas já
detentoras de certificação de qualidade ISO 9001, não exigindo auditorias nem
verificações prévias da existência de técnicos qualificados para o serviço.
Este dado reforça a estranheza de a MNTC só ter obtido o alvará depois de
concorrer e não antes, bem como a permissividade da Carris em aceitar uma
proposta de quem ainda não tinha sequer dado esse passo formal.
No final,
o que deveria ser um procedimento de contratação pública destinado a assegurar
a melhor relação qualidade-preço para um serviço de segurança crítica acabou
por se transformar numa escolha baseada exclusivamente no preço, ignorando a
qualificação e o histórico das empresas. Hoje, com um elevador destruído,
quatro ascensores parados, dezenas de vítimas e danos reputacionais
incalculáveis, a decisão de há dois anos revela-se um exemplo paradigmático do
que acontece quando se confunde poupança com gestão eficiente.

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