Covid-19:
Este é o momento para uma nova economia, dizem ambientalistas
Lusa
15:20
5 de junho de 2020
As
associações ambientalistas apostam no “agora ou nunca”. Este é o momento de
Portugal optar por uma nova economia e escolhas que levem à luta contra as
alterações climáticas e respeito pela natureza
A
propósito do Dia Mundial do Ambiente, criado pela ONU para se assinalar a 5 de
junho, a Lusa perguntou a várias associações de defesa do ambiente se a
recuperação económica depois da crise da pandemia de Covid-19 poderia por em
causa as metas sobre ambiente e alterações climáticas. Todas admitiram esse
medo, mas também que esta é a grande oportunidade para mudar de vida.
Catarina
Grilo, diretora de Conservação e Políticas da Associação Natureza Portugal, que
trabalha em parceria com a internacional World Wide Fund For Nature (WWF),
lembra o tema deste ano para a efeméride, “Tempo para a Natureza” e um dos seus
motes, “para cuidarmos de nós temos de cuidar da natureza”, para recordar que a
pandemia de Covid-19 veio mostrar claramente a ligação entre perda de
biodiversidade, zoonoses (doenças provocadas por micro-organismos e
transmitidas pelos animais ao Homem) e saúde pública.
E avisa:
“As escolhas que o Governo fizer agora para fomentar a recuperação económica
irão determinar a trajetória do nosso país na próxima década, considerada
decisiva para fazer face às alterações climáticas e para travar a perda de
biodiversidade”.
Um alerta
semelhante de outro deixado por Paula Nunes da Silva, presidente em exercício
da Quercus. Diz a responsável que as decisões no curto prazo têm de ser
coerentes com as metas para 2030 e 2050, no âmbito do Plano Nacional de Energia
e Clima, e em linha com o exigido no Acordo de Paris, “para travar as
alterações climáticas, que são a maior ameaça à humanidade”.
Ou também
de Ana Paz, membro da Direção Nacional da LPN, que em discurso direto é também
ela direta: “Não podemos aceitar que se continue a promover o crescimento
económico, quando sabemos que os recursos terrestres não o podem suportar e
quando sabemos que não serve a melhoria na qualidade de vida das populações.
Precisamos de uma economia estável, justa e verdadeiramente sustentável, o que
não é possível com base num crescimento eterno”. Basicamente, defende a
responsável, os orçamentos dos Estados deviam ser baseados na qualidade de vida
e não no crescimento do PIB.
Quando os
países ocidentais estão a começar a emergir de uma crise sanitária, que, além
de milhares de mortos e milhões de infetados, devastou as economias, e quando
tanto se fala na recuperação económica, é também um alerta que deixa Susana
Fonseca, da direção da associação Zero. “É fundamental tornar a sociedade
portuguesa mais resiliente às diferentes crises que poderemos/teremos que
enfrentar no futuro”, e não voltar ao “normal”, quando o “normal” assenta numa
economia que destrói o ambiente e abre a porta a futuras pandemias.
E depois
lembra que com a crise provocada pela covid-19 não desapareceram as crises
climática, a da escassez de recursos ou a da perda de biodiversidade.
“Os
indicadores são claros nas consequências muito graves que irão resultar para
todos nós, caso não promovamos uma relação mais harmoniosa entre o nosso modelo
económico e os limites do Planeta”.
É por
isso que a Zero entende que a crise atual é a oportunidade para avançar “de
forma clara” na luta contra as alterações climáticas e para refletir no papel
de todos os humanos na existência da pandemia, “devido à degradação ambiental”
que o modelo de produção e consumo fomenta.
E é por
isso que defende que não se podem promover políticas e medidas que perpetuem
vulnerabilidades. “Não aproveitar esta oportunidade em que se irão injetar
milhões de euros na sociedade” para prevenir consequências de futuras
pandemias, ou de alterações climáticas, “só pode ser entendido como uma enorme
irresponsabilidade política e deixará claro que os atuais líderes políticos não
estão à altura dos desafios”, diz Susana Fonseca.
Catarina
Grilo afirma também que não se pode apostar na “velha economia”, que esgota
recursos naturais e degrada a biodiversidade, que é poluente e geradora de
elevadas emissões de gases com efeito de estufa. Fazê-lo é dar continuidade ao
“business as usual” que nos trouxe até aqui, afirmou à Lusa.
O que é
preciso, acrescentou, é “orientar os apoios públicos para setores, atividades e
projetos que são bons para o planeta e para a economia”, como a democratização
do acesso a energias renováveis, a renovação de edifícios (mais eficiência
energética), a aposta na ferrovia e acabar com “aberrações” como um novo
aeroporto ou voos com menos de 01:30 de duração.
A direção
da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) lança mais desafios,
começando por lembrar que Portugal, com mais de 20% do território classificado
como Rede Natura 2000, “só pode beneficiar com políticas que apoiem a
biodiversidade, com a criação de novas áreas de negócio e novos empregos na
gestão das áreas protegidas, na conservação e recuperação dos habitats naturais
e na dinamização do turismo de natureza e do território”.
E depois,
num país com tanto mar e tanta agricultura tradicional, devem valorizar-se
políticas que favoreçam a pesca e a produção agrícola sustentáveis.
“Os
nossos governantes têm de estar conscientes deste enorme potencial de Portugal
e trabalhar mais com as organizações não governamentais de ambiente”, diz a
SPEA.
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