terça-feira, 12 de agosto de 2025

Lei de estrangeiros: vice-presidente do TC sugere que decisão baseou-se em convicções pessoais / Foreigners law: TC vice-president suggests that decision was based on personal convictions

 


Política

Lei de estrangeiros: vice-presidente do TC sugere que decisão baseou-se em convicções pessoais

 

Também outros votos de vencido de magistrados dão a entender que houve maior ponderação política do que jurídica na decisão de considerar normas inconstitucionais.

 

DN/Lusa

Publicado a:

08 Ago 2025, 23:04

Atualizado a:

08 Ago 2025, 23:04

https://www.dn.pt/pol%C3%ADtica/lei-de-estrangeiros-vice-presidente-do-tc-sugere-que-decis%C3%A3o-baseou-se-em-convic%C3%A7%C3%B5es-pessoais

 

O vice-presidente do Tribunal Constitucional (TC) criticou esta sexta-feira, 8 de agosto, a declaração de inconstitucionalidade da lei de estrangeiros, considerando que as medidas do decreto são “perfeitamente razoáveis”, e sugeriu que a decisão baseou-se em convicções pessoais.

 

Numa declaração de voto conjunta anexa ao acórdão do TC que declarou inconstitucional cinco normas da lei de estrangeiros, o vice-presidente do tribunal, Gonçalo Almeida Ribeiro, e o juiz conselheiro José António Teles Pereira dizem ter discordado dessa decisão.

 

Para os dois juízes, apesar de algumas das normas constantes no decreto “serem polémicas e discutíveis”, são “perfeitamente razoáveis e legítimas”, constituindo “uma expressão normal da arbitragem democrática do dissenso político”.

 

“A legislação numa democracia constitucional não deve ser produto de uma transação entre as preferências políticas da maioria parlamentar e da maioria dos membros da jurisdição constitucional, mas um exercício de liberdade programática limitado pelo respeito pelos direitos fundamentais e princípios estruturantes de uma república de pessoas livres e iguais”, defendem.

 

Gonçalo Almeida Ribeiro e José António Teles Pereira consideram que, “para que um juízo constitucional informado por valores tão abstratos e elásticos se revele um exemplo de razão jurídica, em vez de uma escolha ideológica, deve satisfazer um ónus exigente de fundamentação”, considerando que isso não se verificou nos argumentos do acórdão hoje divulgado.

 

Os dois juízes reconhecem que as opções do legislador relativamente ao direito dos estrangeiros deve “merecer um escrutínio severo ou um controlo intensificado por parte do juiz constitucional”.

 

“Só que um escrutínio judicial intenso não pode ser um pretexto para os juízes transportarem para o plano constitucional as convicções que legitimamente têm enquanto cidadãos – violando a igualdade democrática –, antes constituindo-os num dever acrescido de se inteirarem dos factos pertinentes, examinarem os textos aplicáveis, consultarem doutrina autorizada e articularem argumentos consistentes, cuidadosos, ponderados e persuasivos”, referem.

 

Gonçalo Almeida Ribeiro e José António Teles Pereira reconhecem que isso não é “verdadeiramente viável” neste caso, uma vez que o Presidente da República pediu que o TC se pronunciasse em 15 dias, mas frisam que, perante a urgência desse pedido, “o melhor que se poderia fazer, com sentido de responsabilidade institucional, seria procurar respaldo noutras jurisdições”, como o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos ou o Tribunal de Justiça da União Europeia.

 

“Em vez disso, profere-se um acórdão em que se fazem exigências constitucionais inéditas e se desenha o esboço de um caderno de encargos”, criticam.

 

À semelhança de Gonçalo Almeida Ribeiro e José António Teles Pereira, a juíza conselheira Maria Benedita Urbano também discordou da decisão da maioria relativamente à declaração de inconstitucionalidade das cinco normas.

 

Numa declaração de voto, a juíza considera que o chumbo do diploma “tem como consequência a manutenção de uma política de fronteiras abertas” e a decisão “mostrar-se alheada (ou não tem na devida consideração)” a “realidade socioeconómica atual do país, com setores vitais, como a saúde, a habitação e o ensino, em risco de colapsar”.

 

“Basta viver em Portugal e ter em atenção e, mais do que isso, sentir a realidade que nos rodeia para ter a certeza de que a situação catastrófica que presentemente presenciamos no nosso país, não entra na categoria das ‘fake news’”, aponta.

 

O único outro juiz que discordou da decisão do TC na declaração de inconstitucionalidade das cinco normas foi João Carlos Loureiro, que, numa declaração de voto, defende que, “num quadro de separação de poderes, é irrelevante o que cada juiz constitucional pensa sobre o mérito das soluções resultantes de opções político-legislativas”.

 

Deve “apenas nortear-se por uma avaliação jurídico-constitucional, num quadro marcado por uma relevante internormatividade, em que importam referentes internacionais e supranacionais”, refere.

 

No entanto, João Carlos Loureiro reconhece que a decisão foi tomada “em circunstâncias particularmente difíceis”, numa alusão ao facto de o Presidente da República ter pedido ao Tribunal Constitucional que se pronunciasse num prazo de quinze dias.


Politics

Foreigners law: TC vice-president suggests that decision was based on personal convictions

 

Other dissenting votes of magistrates also suggest that there was greater political than legal weighting in the decision to consider norms unconstitutional.

 

DN/Lusa

Published to:

08 Aug 2025, 23:04

Updated to:

08 Aug 2025, 23:04

https://www.dn.pt/pol%C3%ADtica/lei-de-estrangeiros-vice-presidente-do-tc-sugere-que-decis%C3%A3o-baseou-se-em-convic%C3%A7%C3%B5es-pessoais

 

The vice-president of the Constitutional Court (TC) criticized this Friday, August 8, the declaration of unconstitutionality of the law on foreigners, considering that the measures of the decree are "perfectly reasonable", and suggested that the decision was based on personal convictions.

 

In a joint explanation of vote attached to the TC ruling that declared five provisions of the law on foreigners unconstitutional, the vice-president of the court, Gonçalo Almeida Ribeiro, and the counselor judge José António Teles Pereira say they disagreed with this decision.

 

For the two judges, although some of the rules contained in the decree "are controversial and debatable", they are "perfectly reasonable and legitimate", constituting "a normal expression of the democratic arbitration of political dissent".

 

"Legislation in a constitutional democracy should not be the product of a transaction between the political preferences of the parliamentary majority and the majority of the members of the constitutional jurisdiction, but an exercise of programmatic freedom limited by respect for the fundamental rights and structuring principles of a republic of free and equal people", they argue.

 

Gonçalo Almeida Ribeiro and José António Teles Pereira consider that, "for a constitutional judgment informed by such abstract and elastic values to prove to be an example of legal reason, rather than an ideological choice, it must satisfy a demanding burden of reasoning", considering that this was not the case in the arguments of the judgment released today.

 

The two judges recognize that the legislator's options regarding the right of foreigners must "deserve severe scrutiny or intensified control by the constitutional judge".

 

"But intense judicial scrutiny cannot be a pretext for judges to bring to the constitutional level the convictions they legitimately have as citizens – violating democratic equality – but rather constituting an added duty to be aware of the relevant facts, examine the applicable texts, consult authoritative doctrine and articulate consistent, careful, thoughtful and persuasive arguments",  Refer.

 

Gonçalo Almeida Ribeiro and José António Teles Pereira recognize that this is not "truly viable" in this case, since the President of the Republic asked the TC to rule within 15 days, but stress that, given the urgency of this request, "the best thing that could be done, with a sense of institutional responsibility, would be to seek support in other jurisdictions",  such as the European Court of Human Rights or the Court of Justice of the European Union.

 

"Instead, a judgment is handed down in which unprecedented constitutional requirements are made and the draft of a specification is drawn," they criticize.

 

Like Gonçalo Almeida Ribeiro and José António Teles Pereira, Counsellor Judge Maria Benedita Urbano also disagreed with the majority decision regarding the declaration of unconstitutionality of the five norms.

 

In an explanation of vote, the judge considers that the lead of the diploma "has the consequence of maintaining an open borders policy" and the decision "to be oblivious (or does not take due consideration)" the "current socioeconomic reality of the country, with vital sectors, such as health, housing and education, at risk of collapsing".

 

"It is enough to live in Portugal and pay attention and, more than that, feel the reality that surrounds us to be sure that the catastrophic situation that we are currently witnessing in our country does not fall into the category of 'fake news'", he points out.

 

The only other judge who disagreed with the TC's decision in declaring the unconstitutionality of the five rules was João Carlos Loureiro, who, in an explanation of vote, argues that, "in a framework of separation of powers, it is irrelevant what each constitutional judge thinks about the merits of the solutions resulting from political-legislative options".

 

It should "only be guided by a legal-constitutional assessment, in a framework marked by a relevant internormativity, in which international and supranational referents matter", he says.

 

However, João Carlos Loureiro recognizes that the decision was taken "in particularly difficult circumstances", in an allusion to the fact that the President of the Republic asked the Constitutional Court to rule within fifteen days.

Sem comentários: