OPINIÃO
Come chocolates, Portugal, come
Costa, nas reacções à candidatura da Ucrânia à UE, tem
demonstrado grande nervosismo, pois trata-se de uma enxurrada de candidaturas
que se estendem até aos Balcãs. Uma fila de espera impaciente de um grupo
crescente que também “quer ir ao banco”.
António Sérgio Rosa de Carvalho
13 de Julho de 2022,
6:13
https://www.publico.pt/2022/07/13/opiniao/opiniao/come-chocolates-portugal-come-2013463
A última década
de Portugal, pode ser definida sinteticamente através de duas simples frases,
proferidas por dois primeiro-ministros: “Emigrem” e “Já posso ir ao banco?”
Na primeira,
Passos Coelho reconhecia explicitamente a impotência de Portugal para oferecer
futuro, expectativas e sonhos para toda uma geração formada em liberdade.
Perante o
paradoxo e o drama, formulei aqui no PÚBLICO a pergunta: “Quando vai Portugal
pousar a mala e levantar a cabeça?” ( 1 )
Pelos vistos, não
será brevemente. Os que ficaram constituem uma geração perdida, sem capacidade
financeira para adquirir habitação, sem trabalho e, consequentemente, sem
capacidade para constituir família, num país devastado por um enorme problema
demográfico.
Nem sei se ainda
se pode denominar Portugal um país, esta região Ibérica reduzida a um
protectorado da Europa e assumidamente subsídiodependente. Dependência
oficialmente e explicitamente reconhecida pela frase de Costa : “Já posso ir ao
banco?”
Em 2019, o
crescimento do PIB potencial de Portugal rondava 1,5% ao ano, um dos mais
baixos da União Europeia, com uma perda progressiva de produtividade e
competitividade. Nos últimos 20 anos, Portugal cresceu 0,5% ao ano.
PIB, completamente
dependente do Turismo e da espiral inflacionada do Imobiliário. PIB, ou seja,
turismo de massas e golden visas, fenómenos altamente destruidores da
identidade local e dos necessários equilíbrios quotidianos de vivência e
estabilidade residencial. A isto, foram acrescentadas vantagens fiscais
oferecidas ao investidores internacionais, em profundo contraste com a
esmagadora carga fiscal dos autóctones que usufruem, na melhor das hipóteses,
de ordenado médio de 1500 euros mensais.
O já incomportável
custo de vida vai ser fortemente agravado pela tempestade perfeita futura da
conjugação de inflação galopante com a inevitável correcção do BCE com aumento
progressivo das taxas de juro.
Que tenciona
fazer António Costa com o apoio total a fundo perdido de 15.628 milhões de
euros proporcionado pela protectora Europa através do PRR?
Apesar das
preocupações expressas por Christine Lagarde sobre os perigos de fragmentação a
que a Europa do Sul está exposta, todos sabemos que a grande fonte de
preocupação reside na fragilidade da Itália e da sua dívida, devido à
importância da escala da economia deste país fundador do mercado comum, capaz
na sua implosão de levar à extinção do euro.
Não se trata,
portanto, do insignificante e periférico Portugal, país que reduziu os seus
habitantes a estalajadeiros e guias turísticos, mas da Itália.
Portugal reduziu os seus habitantes a estalajadeiros e
guias turísticos
Costa tem, nas
suas reacções à volta da Ucrânia e da candidatura desta à adesão à UE,
demonstrado grande nervosismo, pois trata-se de toda uma enxurrada de
candidaturas que se estendem até aos Balcãs. Uma fila de espera intensa e
impaciente de um grupo crescente que também “quer ir ao banco”.
Come chocolates,
Portugal, come. Come e cala-te, periférico!
( 1 ) https://www.publico.pt/2014/01/12/opiniao/opiniao/pousar-a-mala-e-levantar-a-cabeca-1619300
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