Cidadãos dizem que há património em
risco no Palácio dos Marquês de Tancos
Forum Cidadania Lisboa escreveu ao
vereador do Urbanismo e à Direcção-Geral do Património Cultural pedindo que
intervenham no restauro “escandaloso” dos interiores do palácio.
CRISTIANA FARIA MOREIRA 4 de Outubro de 2017, 21:51
Um grupo de cidadãos que pertencem ao Fórum Cidadania Lisboa
pediu esta quarta-feira à autarquia a intervenção na obra de restauro que está
a decorrer no Palácio do Marquês de Tancos, na zona da Costa do Castelo.
Numa carta dirigida à directora-geral do Património
Cultural, Paula Silva, e ao vereador do Urbanismo da câmara de Lisboa, Manuel
Salgado, o movimento considera “escandaloso” o restauro que está a ser feito
nos interiores daquele “palácio emblemático” da cidade, que está classificado
como Imóvel de Interesse Público desde 1996. Em causa estará a preservação de
um conjunto de painéis de azulejos, datados do século XVIII, que estão a ser
“entalados” por placas cerâmicas mais recentes.
Agora, aquele grupo de cidadãos argumenta que a autarquia
“justificou a aprovação do processo de alterações e ampliação apresentado pelo
promotor (…) como contemplando a recuperação e o restauro que se impunham ao
palácio”.
“Não se trata de matéria apenas de mau gosto, mas de
atentado ao património ali existente, mormente ao seu património azulejar,
escrevem os signatários na carta, recordando que essa é precisamente “a sua
maior mais-valia patrimonial”.
O edifício, que era propriedade da câmara de Lisboa, foi
vendido em hasta pública em Outubro de 2014, rendendo cerca de 5,5 milhões de
euros (partindo de uma base de licitação de cinco milhões) à autarquia.
O edifício foi adquirido pelo grupo francês Repotel, através
da 2 I Inter Investissements, que, na altura, comprou também o Palácio de Monte
Real, onde funcionava um lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia, por três
milhões de euros.
De acordo com a informação que consta no site da câmara de
Lisboa, as origens do Palácio do Marquês de Tancos remontam a 1539, para ser a
residência da família Ataíde. Sobreviveu ao terramoto que assolou Lisboa em
1755. Foi passando de mãos em mãos durante cerca de século e meio, mas grande
parte do recheio original do edifício, em particular as dezenas painéis de
azulejos do final do século XVII a meados do século XVIII, que serão da autoria
de Raimundo do Couto e lhe compõe o interior, foram sobrevivendo à passagem no
tempo.
Por fora, o edifício, mesmo depois de recuperado, mantém a
estrutura original: a fachada horizontal, de linhas sóbrias, rasgada por longas
fileiras de janelas rectangulares e pelas varandas balaustradas em ferro e um
último andar reservado a águas furtadas.
O imóvel acabou por ser comprado pela câmara de Lisboa em
1981, que o cederia à Companhia de Dança de Lisboa, que lá permaneceu até 2007,
altura em que a autarquia ordenou o despejo de bailarinos e do espólio da
companhia por existir “perigo iminente de uma catástrofe”, dado o mau estado
das instalações. Depois disso, o edifício albergou também de sede da empresa
municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC).
No apelo, assinado por 24 cidadãos, o Fórum Cidadania pede à
Direcção-Geral do Património Cultural e à câmara de Lisboa que intervenham na
obra em curso e que, caso apurem que se trata de “um ‘restauro’ à margem do
aprovado” por estas entidades, a empreitada seja mesmo embargada e o promotor
sancionado. E recomendam ainda que, no futuro, a autarquia reveja “os critérios
acerca da venda do seu património, mormente do seu património classificado”.
Questionada pelo PÚBLICO, a câmara de Lisboa referiu que, na
sequência da do apelo feito pelo Fórum Cidadania, "os serviços de
fiscalização da autarquia já foram alertados".
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