OPINIÃO
Greta.
A pergunta fundamental é: já esteve JMT nalguma
marcha pelo Clima? Eu estive. E o que vi foi milhares de Jovens Gretas e
Gretos, sem autismos, mas com as mesmas perguntas impotentes e universais
dirigidas, precisamente, aos políticos e aos líderes mundiais.
António Sérgio
Rosa de Carvalho
10 de Outubro de
2019, 2:13
Uma Santa? Uma Política? Ou, apenas, mensageira e oráculo
de uma Verdade Científica não apenas Inconveniente mas Incontornável?
Estamos todos
“gretados”. Uma das melhores caracterizações da idiossincrática mente de Greta,
e da sua relação rigorosa e sem filtros, com a urgência dos factos
incontornáveis científicos divulgados nos relatórios do IPCC, foi-nos dada num
recente artigo da Spiegel.(1 )
Neste, Greta, é
comparada ao famoso Neo do Matrix, o qual é exposto à escolha entre tomar a
pílula azul que o irá levar ao esquecimento “normalizado” de uma verdade
escondida e a pílula vermelha, que o irá levar ao conhecimento sem filtros da
mesma verdade.
Greta optou pela
pílula vermelha.
Assim, ao acusar
directamente os grandes líderes que a convidam, de torpor e de irresponsável
inacção perante os factos científicos, Greta transformou-se na mensageira da
sua própria geração e das gerações futuras. Um inconveniente e incomodativo
oráculo, que muitos denunciam como perigosa ameaça mistificante, para o mundo
de aparente prosperidade, estabilidade e segurança. Uma ameaça para o Mundo da
pílula azul.
Todos viram o
Video do “How dare you”? Mas, provavelmente poucos viram a mensagem registada
também em vídeo ( 2) de Sir David Attenborough e dirigida aos Líderes do Mundo
presentes a 23 de Setembro na cimeira da ONU.
Nele, Attenborough avisa que foi possível
construir a civilização humana nestes últimos doze mil anos devido à
estabilidade do clima. Essa estabilidade está gravemente ameaçada e uma data
limite e decisiva é 2020, data da “última” cimeira em Londres. “Última" no
sentido do tempo que nos resta para atingir os objectivos e compromissos
tomados pelas nações de diminuir para metade as emissões de C02 até 2030 e
atingir o zero de emissões em 2050, no conhecido limite dos 2 graus.
Na cimeira de 23
de Setembro conseguiu-se concretamente muito pouco além da vaga e tímida
promessa de 70 nações do compromisso de neutralidade de carbono em 2050 e de
implementar os seus planos nacionais que resultam do Acordo de Paris até 2020.
Daí, a indignação
trémula e impotente de uma adolescente que representa uma geração que em nada
contribuiu para o Mundo da Pílula Azul, mas que vai ser obrigada a sobreviver
nas realidades apocalípticas do Mundo da Pílula Vermelha. Neste, o conceito
Viver tal como nós o conhecemos terá então desaparecido.
António Guterres ( 3 ) ilustrou recentemente isto com a frase: “A ciência mostra-nos que se nada for
feito enfrentamos, pelo menos, 3 graus Celsius de aquecimento global até ao
final do século. Eu não estarei cá, mas minhas netas, sim.”
Ora, as acusações
dirigidas a um Movimento Imparável, apolítico e Universal de Consciencialização
que ilustra a Ecologia como o novo Humanismo Universal do século XXI, que
transcende e atravessa diagonalmente as polarizações entre a “Esquerda” e a
“Direita” já chegaram às páginas do PÚBLICO.
Através de JMT,
que nas suas piruetas retóricas baseadas numa ironia que se pretende
libertadora do enfadonho “Politicamente Correcto” pretende representar a
“frescura” de uma geração irreverente.
Assim, Greta é
acusada de ser uma perigosa mistificadora portadora de uma auréola
santificadora e sumo sacerdotisa de uma nova religião verde. E estes
“fundamentalismos” também a comparam a uma perigosa figura da extrema-esquerda
que quer resolver as coisas “à bomba”, num processo de politização da causa
ambiental. Depois seguem-se as classificações de Guterres como patético, da
impossibilidade de conhecer o Futuro e acusação de politização dos Movimentos
da causa Ambiental.
Neste caso, JMT
contribuiu através das suas confusas trapalhadas argumentativas, como ninguém,
precisamente para a polarização e politização deste Movimento Universal que
Guterres classifica, nos seus esforços, como Imparável e Universal. Neutral
politicamente, mas profundamente consciente das profundas reformas necessárias
no nosso modelo económico de mercado e do insustentável mito de crescimento
ilimitado.
A pergunta
fundamental é: já esteve JMT nalguma marcha pelo Clima? Eu estive. Em Haia ( 4 ) a 27
de Setembro. E o que vi foi milhares de Jovens Gretas e Gretos, sem autismos, mas
com as mesmas perguntas impotentes e universais dirigidas, precisamente, aos
políticos e aos líderes mundiais. Foi em nome deles e dos meus netos que estive
presente.
Historiador de Arquitectura
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