Governo britânico
acusa Merkel de tornar “impossível” acordo sobre o “Brexit”
Fonte anónima de
Downing Street citada pelos media britânicos diz que Angela Merkel exigiu a
permanência da Irlanda do Norte na união aduaneira “para sempre”. Governo
alemão ainda não divulgou a sua versão da conversa.
Alexandre Martins
Alexandre Martins
8 de Outubro de 2019, 12:24
A apenas 23 dias
do prazo final para a saída do Reino Unido da União Europeia, Londres e
Bruxelas continuam a posicionar-se para não serem vistas como as principais
culpadas de um “Brexit” desordenado. Esta terça-feira, os jornais britânicos
citam uma fonte anónima de Downing Street que atira as culpas para a chanceler
alemã, Angela Merkel, e diz que a obtenção de um acordo é agora “essencialmente
impossível”.
Segundo a fonte,
uma conversa entre Boris Johnson e Angela Merkel, na manhã desta terça-feira,
selou o destino do “Brexit” e “deixou claro” que os líderes europeus “estão
dispostos a destruir o Acordo de Sexta-feira Santa” – o acordo assinado em 1998
que estabelece um plano para a governação autónoma da Irlanda do Norte e
estipula que não pode haver fronteiras na ilha da Irlanda, e que agora está no
centro das divergências entre Londres e Bruxelas.
Nessa conversa,
Merkel terá dito a Johnson que para haver acordo, a Irlanda do Norte terá de
permanecer para sempre na união aduaneira da UE, uma condição inaceitável para
o governo britânico.
“Se isto
representa uma nova posição de base [da UE], significa que um acordo é
essencialmente impossível não apenas agora, mas para sempre”, disse a fonte de
Downing Street.
Mas o Partido
Trabalhista britânico disse que a versão da fonte anónima do Governo britânico
é “uma tentativa cínica de sabotar as negociações”.
O ministro-sombra
do Labour para as negociações do “Brexit”, Keir Starmer, afirmou que o
primeiro-ministro “nunca assumirá a responsabilidade pelo seu próprio
fracasso”, e pediu ao Parlamento britânico “que se una para impedir este
governo imprudente de forçar uma saída desordenada da UE”.
O Governo alemão
ainda não divulgou a sua versão da conversa telefónica entre Boris Johnson e
Angela Merkel.
Vários
correspondentes britânicos em Bruxelas, entre os quais Jenny Hill, da BBC,
sugerem cautela a analisar a versão britânica da conversa com a chanceler alemã.
“Esta
linguagem/estilo de confrontação é pouco usual em Merkel. A Alemanha – mais do
que a maioria dos países – tem sido cautelosa a deixar sair informações e
declarações que possam inflamar a tensão entre o Reino Unido e a União
Europeia.”
Para a correspondente,
o governo alemão “ainda está preparado para encontrar uma solução, porque a
Alemanha não quer uma saída sem acordo”.
No mesmo sentido,
o correspondente do Times, Bruno Waterfield, diz que falou com vários
diplomatas experientes em Bruxelas e com negociadores do “Brexit” que “não
reconhecem a versão de Downing Street sobre a conversa”.
Na semana
passada, o Governo britânico disse que pedirá um adiamento do prazo do “Brexit”
se não houver acordo até ao dia 19 de Outubro – uma medida que é obrigado a
tomar na sequência de uma lei aprovada em Setembro pelo Parlamento britânico.
Mas, ao mesmo
tempo, o primeiro-ministro britânico continua a garantir que o Reino Unido
sairá da UE no dia 31 de Outubro, com ou sem acordo. Para conciliar as duas
vias, Boris Johnson poderá encontrar até lá alguma lacuna na lei, ou então
convencer um dos Estados-membros a opor-se ao pedido de adiamento.
Seja qual for a
versão da conversa entre Johnson e Merkel, parece certo que as negociações
sobre o “Brexit” chegaram a um beco sem saída. Se for mesmo esse o caso, os
deputados britânicos têm agora uma decisão difícil pela frente, como salienta
Mujtaba Rahman, especialista do “Brexit” no Eurasia Group: acreditar que a lei
que aprovaram em Setembro é suficiente para obrigar o Governo a pedir um
adiamento; ou afastar o primeiro-ministro numa moção de censura.
“O problema para
os deputados”, diz o Guardian, “é que perderam a oportunidade para aprovarem
uma moção de censura esta semana”.
“É tarde demais
para convocar uma moção para hoje, e o Parlamento é suspenso esta noite. A nova
sessão começa com o discurso da rainha na segunda-feira. Normalmente, o debate
sobre o discurso dura seis dias, o que pode adiar qualquer moção de censura
para a semana seguinte, ainda que seja possível encontrar uma forma de agendar
uma votação para antes disso”, explica o jornal britânico.
tp.ocilbup@snitram.erdnaxela
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