“Os moradores de
Lisboa estão fartos. À porta de suas casas há enchentes de pessoas de
auscultadores nos ouvidos a tirar fotografias.”
FOTOGRAFIA
Lisboa: um
retrato dos “engarrafamentos turísticos” por um ex-condutor de tuk-tuk
Durante dois
anos, Janine Barreto foi guia turístico e condutor de tuk-tuk e fotografou o
que viu. “Corremos o risco de Lisboa se transformar apenas numa montra sem
identidade.”
P3 22 de Outubro
de 2019, 13:23
“Há dias em que
chegam a Lisboa, ao mesmo tempo, dois ou três cruzeiros. De repente, dez mil
turistas entram na cidade de uma só vez e tudo se transforma no caos.” Janine
Barreto, ex-guia turístico e ex-condutor de tuk-tuk em Lisboa, recorda a
azáfama vivida no centro da cidade quando trabalhava no sector. “Tudo cheio. Ao
ponto de considerar que a cidade estava no limite da sua capacidade.” Em 2017,
ainda havia espaço para todos os profissionais, o trabalho era mais rentável e
mais desafogado, explica. No ano seguinte, surgiram mais empresas turísticas,
“muito mais concorrência”. E a resposta da autarquia, no que toca a
infra-estruturas, manteve-se igual. “Tornou-se manifestamente insuficiente.
Havia, por exemplo, muito mais tuk-tuks do que lugares de aparcamento para os
mesmos.”
Janine Barreto
regressou à Figueira da Foz, de onde é natural, no início de 2019. Abandonou a
área, tornou-se num céptico do turismo de massas. “Os moradores de Lisboa estão
fartos. À porta de suas casas há enchentes de pessoas de auscultadores nos
ouvidos a tirar fotografias.” Por isso, durante os dois anos de trabalho,
retratou quem visitava Lisboa para lançar um alerta: “tem de haver regras, tem
de haver limites”. “Sobretudo para proteger quem vive em bairros típicos, como
Alfama, Mouraria, para que os locais não fiquem descaracterizados, para que não
percam o que está no interior. Corremos o risco de Lisboa se transformar apenas
numa montra sem identidade.”
Janine, hoje com
31 anos, recorda a sua própria vida, em Belém, entre a enchente de turistas.
“Enquanto morador, chateava-me o tempo que perdia nas deslocações, nas filas.
Incomodavam-me os transportes sempre a abarrotar, as filas intermináveis para
os pastéis de nata, para a entrada no Mosteiro dos Jerónimos.” “Verdadeiros
engarrafamentos turísticos”, que hoje recorda sem saudade.
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