Veneza declara
guerra às lojas de souvenirs de “pechisbeque”
Como acontece em
muitos centros turísticos, as lojas de recordações e cópias baratas de produtos
proliferam por Veneza. A cidade quer mudar o cenário e tem um plano.
Luís J. Santos
Luís J. Santos 4
de Outubro de 2019, 18:31
Veneza aprovou
novas directivas destinadas a reorganizar os negócios das zonas mais nobres da
cidade dos canais. Entre os objectivos da resolução aprovada pela autarquia,
que ainda terá de ser ratificada pelo Governo Regional, está um muito
específico e que dá muitas dores de cabeça a cidades turísticas pelo mundo: o
controlo da proliferação de lojas de souvenirs que vendem produtos anódinos e
considerados de baixa qualidade, particularmente cópias para consumo rápido dos
turistas.
Depois de uma
série de regulamentações destinadas a controlar os fluxos turísticos e até o
comportamento dos visitantes, incluindo novas taxas turísticas, torniquetes e
multas pesadas, enquanto tenta gerir os grandes cruzeiros, a cidade quer
limitar e controlar a abertura de novas lojas durante os próximos três anos,
noticia o La Repubblica. E, para já, começa por controlar as montras e lojas
das zonas da Praça de São Marcos e ponte de Rialto. Mas é possível que esta
normativa seja alargada a toda a cidade.
“Em Veneza, stop
à venda de souvenirs de qualidade e proveniência dúbias, a começar por São
Marcos e Rialto. Aprovada uma deliberação para combater a contrafacção e
salvaguardar o nosso artesanato”, escreveu no seu Twitter o presidente da
câmara de Veneza, Luigi Brugnaro.
As categorias
aceites para novos negócios nas zonas nobres são de comércio de retalho e moda
(gama alta, alfaiataria), antiquários e oficinas de restauro, livrarias e
galerias/lojas de arte, coleccionismo (filatelia, numismática), relojoaria e
joalharia, design e mobiliário, de produtos de artesanato “típico, tradicional
e histórico” ou criativo. Isto é, só serão aceites negócios “compatíveis com as
necessidades de protecção e valorização do património cultural da cidade
antiga”, indica o jornal Corriere della Sera. Um resumo detalhado das normas
pode ser lido (em italiano) no site do município.
Não às montras
low cost
As regras,
aprovadas no final de Setembro, foram delineadas também para “melhoramentos”
nas lojas já existentes. Nas áreas abrangidas, estas terão seis meses para se
rearranjarem: as lojas não poderão ter produtos espalhados pela rua, nem em
expositores, nem em portas ou fachadas, os caixilhos das janelas devem ser de
metal ou madeira, as luzes e/ou neóns exteriores terão limites para o brilho e
intensidade, nas janelas das lojas de artesanato deve ser exposta informação
sobre a origem dos produtos – embora não explícita na regulamentação desejada
pela cidade, esta “indicação de origem” é também um ataque aos made in China de
muito destes produtos.
"Veneza diz stop às montras low cost de
São Marcos e Rialto”, titula a agência de notícias italiana Ansa,
acrescentando, mais precisa e directamente, um alvo: “Nenhuma moda low cost ou
souvenir de gama baixa made in China”, interpretam. Quem quiser abrir uma loja
terá de respeitar as restrições da resolução aprovada por unanimidade,
referindo-se que as medidas pretendem proteger e valorizar o património
cultural local, “para que a cidade antiga não perca a sua identidade autêntica”,
sublinham, citando a autarquia.
A medida foi
aplaudida por algumas das associações de artesãos e fabricantes locais.
“Finalmente! Esta é uma medida positiva e necessária, e esperamos que tenha
impacto imediato”, comenta Luciano Gambaro, presidente do Consorzio Promovetro
Murano, que representa meia centena de fabricantes do célebre vidro de Murano.
“Se estes produtos que não são de origem e não
têm qualidade estão a ser vendidos na cidade, e os turistas compram estas
coisas no meio desse caos, isso acaba por prejudicar não só a economia, como
também a nossa imagem”, acrescenta Gambaro. “Ofende e degrada a nossa
identidade, tradições, história e cultura”, remata.
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