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A grade do Adamastor já abriu e soltou elogios e protestos
Depois de mais de
um ano fechado, o Adamastor reabriu há uma semana, com hora marcada para abrir
e fechar. Os moradores dizem que têm agora mais descanso, mas quem sempre
esteve contra a vedação não vai desistir até que a autarquia dali a tire.
Cristiana Faria
Moreira
Cristiana Faria
Moreira 18 de Outubro de 2019, 19:46
Estávamos no
Verão de 2018, a cidade explodia de turistas e o Miradouro de Santa Catarina,
ponto de paragem para quem quer ver uma das mais belas vistas de Lisboa, era um
local sempre sujo, com a sua pedra lioz pichada e pouco cuidado. Nessa altura,
o então vice-presidente da autarquia, Duarte Cordeiro, anunciava que aquele
espaço onde está uma estátua do Adamastor ia ser requalificado, com a promessa
de que seria limpo e devolvido à cidade no fim desse Verão. Mas que voltaria a
abrir com algumas alterações: uma vedação e horário de utilização limitado,
fechando durante a noite.
O miradouro foi
mesmo encerrado e seguiu-se então uma grande onda de contestação, que depressa
fez realçar duas faces da mesma cidade: por um lado, os que defendiam que
aquele espaço deveria continuar aberto e que a vedação seria uma tentativa de
“higienização social"; por outro, os moradores que aplaudiam a iniciativa
da autarquia, reclamando o direito ao descanso — que dizem não conseguir ter
por causa dos que frequentavam o miradouro durante a noite — e acreditando
também que com aquele local fechado os traficantes de droga que constantemente
os assediavam iriam embora.
Um ano e três
meses depois de discussão, de propostas e recomendações das várias forças
políticas nos órgãos autárquicos, de reuniões com ambas as partes, a decisão
inicial da autarquia prevaleceu e as obras acabaram por prosseguir. Há uma
semana, o miradouro reabriu com vedação e horário de funcionamento: está aberto
todos os dias das 7h30 e as 23h30.
A obra deu-lhe um
gradeamento, semelhante ao que existe no Jardim de Santos, dois grandes pilares
que sustentam o portão e um pequeno jardim junto à estátua do Adamastor (também
agora protegido por grades). Uns avisos colocados na área ajardinada pedem que
se respeitem os seus tempos de crescimento: “Espaço verde em consolidação. Não
pisar. Obrigado”, com a respectiva tradução em inglês. Além da limpeza da pedra
lioz, não foram feitas outras alterações de monta. Na manhã de quarta-feira,
estavam ainda a ser feitas pequenas reparações e notava-se que algumas grades
estavam já rabiscadas.
Vigília Lopes,
residente na freguesia da Misericórdia e membro da associação de moradores “A
Voz do Bairro”, foi um dos rostos a favor da construção da vedação e vê “com
agrado a reabertura” do miradouro. “Nós, moradores, podemos usufruir novamente
do espaço”, diz. “É uma zona que se tornou novamente calma”. Para já, quem mais
lá tem acorrido são os turistas, nota a moradora. Ao final da manhã de
quarta-feira, era também isso que o PÚBLICO via no local. Turistas que
aproveitavam para tirar fotografias tendo como pano de fundo uma das mais
bonitas vistas da cidade e enchiam a esplanada do quiosque que também já
reabriu. “São grupos de turistas que não estão lá para destruir. Era isso que a
gente queria”, diz a moradora.
Quando o
miradouro entrou em obras, admite Vigília Lopes, “os problemas diminuíram”.
Refere-se ao ruído de quem ia para ali beber durante a madrugada e também a
traficantes de drogas que se afastaram do miradouro, movendo-se, contudo, para
as ruas adjacentes. “O problema agora está na Bica”, diz a moradora, notando
que a zona continua a ser “problemática”.
Quem vive e
trabalha naquela zona tem-se queixado do mau ambiente que ali se vive por causa
do barulho, do lixo e do assédio constante de traficantes de droga que, por
vezes, resvala para contactos mais violentos. Quem está contra a vedação faz
questão de frisar o mesmo, insistindo que criar “barreiras” não resolverá
problema nenhum.
“A vedação não
resolve qualquer problema de insegurança”, diz ao PÚBLICO Manuel Pessôa-Lopes,
curador artístico e membro do movimento Libertem o Adamastor. Congratula-se que
o espaço tenha sido devolvido à cidade, mas mantém a posição de que o local não
deve ser encerrado. “Não me parece que haja ali um cuidado em transformar um
sítio apelativo para as pessoas se sentirem à vontade. Parece que há uma
varanda em que é autorizada a entrada das pessoas”, nota. “Agora, sim, é uma
espécie de gueto. É muito violento perceber que um espaço público tem uma forma
de controlo”, diz. Se o problema do ruído e da droga se resolver, não será por
causa da vedação, acredita o curador artístico: “Das duas, uma: ou há mais
civismo ou policiamento de proximidade.”
É também isso que
Vigília Lopes tem reclamado junto da autarquia. “Quando fizemos o
abaixo-assinado, e pedimos para fechar o miradouro, pedimos também câmaras de
videovigilância e mais policiamento”, diz a moradora. O vereador da Mobilidade
e Segurança, Miguel Gaspar, garantiu-lhes numa reunião descentralizada da autarquia
que, mal tivesse o aval do Ministério Administração da Interna e da Comissão
Nacional de Protecção de Dados, a zona do Miradouro de Santa Catarina, seria
das primeiras a ter videovigilância.
Uma solução
transitória
Quando o projecto
de requalificação do miradouro do Adamastor foi discutido e votado pelo
executivo municipal, Fernando Medina admitia que a vedação pudesse ser uma
solução “passível de ser transitória”, sendo avaliada pela câmara “num prazo de
um ano da conclusão das obras”.
É pela retirada
das “barreiras” que o movimento Libertem o Adamastor se vai continuar a bater.
“Não se resolve esse problema criando barreiras. Vamos ter de criar portas e
barreiras na cidade toda cada vez que acontece algum problema”, declara Manuel
Pessôa-Lopes.
Vigília Lopes
concorda com esta visão de se reavaliar o gradeamento, pensar se daqui a uns
tempos continuará ou não a fazer sentido. “Nós concordamos com ele [Medina],
mas a avaliação tem de ser feita num espaço de tempo razoável e tendo em conta
o contexto da cidade”, diz a moradora. Isto porque, nota, é preciso olhar para
o que está a acontecer noutras zonas da cidade. “Enquanto as pessoas que vivem
na noite não souberem respeitar a liberdade dos outros não é aceitável que se
reabra”.
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