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ECONOMIA
David Neeleman garante “empenho dos privados” na TAP e
agradece “muito” o apoio do Estado
29.06.2020 às
10h55
David Neeleman defende que a emissão de divida garantida
era o caminho mais adequado e mais rápido para financiar a TAP e que o Estado
não estaria a aumentar significativamente o risco
GONÇALO ROSA DA
SILVA
Após “meses de silêncio”, o empresário garante que os
privados estão “disponíveis para aceitar a participação do Estado na Comissão
Executiva imediatamente e mesmo antes de uma eventual capitalização do
empréstimo
LUSA
O acionista da
TAP David Neeleman garantiu esta segunda-feira o "empenho dos
privados" no futuro da companhia, agradecendo "muito" o
empréstimo de emergência do Estado português e afirmando aceitar a entrada imediata
deste na Comissão Executiva da empresa.
"Apesar de
não ter sido essa a nossa proposta, agradecemos muito o apoio do Estado
português através de um empréstimo de emergência à TAP e aceitamos obviamente
as medidas de controlo da utilização desse empréstimo", afirma Neeleman
numa declaração escrita enviada à agência Lusa.
Após "meses
de silêncio", o empresário justifica esta tomada de posição com a
necessidade de "rejeitar as declarações sobre o empenho dos privados no
futuro da TAP", garantindo que estes estão "disponíveis para aceitar
a participação do Estado na Comissão Executiva imediatamente e mesmo antes de
uma eventual capitalização do empréstimo".
"Estamos
também disponíveis para capitalizar os nossos créditos na companhia no momento
da aprovação do plano de reestruturação que será negociado com a Comissão
Europeia", acrescenta.
Na nota enviada à
Lusa, Neeleman diz ter "optado pelo silêncio nos últimos meses por estar
concentrado em ajudar a Comissão Executiva da TAP a trabalhar para encontrar
soluções nesta fase muito complexa relativamente ao futuro da TAP".
"No entanto,
e porque há limites, não posso deixar de rejeitar as declarações sobre o
empenho dos privados no futuro da TAP", sustenta.
"O nosso
empenho -- garante - é o mesmo de 2015, quando ganhámos a privatização e
salvámos a TAP de uma situação de insolvência, e após cinco anos de trabalho
muito duro transformámos a TAP numa companhia renovada, de maior dimensão e
preparada para o futuro. Continuamos a acreditar na TAP apesar desta enorme
crise que afetou toda a economia e em particular o setor da aviação".
Segundo David
Neeleman -- que com Humberto Pedrosa, através da Atlantic Gateway, detém 45% da
TAP -- "desde o início da crise a equipa executiva tem trabalhado noite e
dia em conjunto com os fornecedores, tendo negociado e obtido apoios
importantes na ordem de centenas de milhões de euros".
"O nosso
foco não é apenas garantir que a TAP sobreviva, mas que recupere a rota de
crescimento que vinha percorrendo e que prospere para que possamos cuidar dos
nossos trabalhadores e clientes", defende.
Neeleman recorda
que a TAP precisa "da ajuda do Estado Português" tal "como todas
as outras companhias aéreas na Europa" e afirma que "todo o
investimento feito pelo Estado" na empresa "tem um retorno garantido,
multiplicado por muitas vezes".
Isto para além de
"um significativo impacto na economia portuguesa, quer pela estabilidade
económica" dos trabalhadores da companhia e da respetiva "cadeia de
valor de fornecedores e parceiros portugueses", como pelos "milhões
de visitantes" que anualmente transporta para Portugal.
"A TAP é
muito importante para o País e estou certo que o Governo português saberá
respeitar os compromissos assumidos com quem acreditou e transformou a
companhia", afirma.
Na passada
quinta-feira, o ministro das Infraestruturas disse confiar no Conselho de
Administração da TAP para fazer o plano de reestruturação da companhia, mas
considerou que "o atual CEO [Antonoaldo Neves] da TAP valoriza em demasia
a briga".
Numa entrevista
ao 'podcast' "Política com Palavra", do Partido Socialista, Pedro
Nuno Santos disse que lhe faz "muita confusão que o CEO de uma empresa que
está de mão estendida ache que se possa relacionar com o Estado" desta
maneira.
"Como se nos
estivessem a fazer um favor", criticou o governante.
Dois dias antes,
na terça-feira, o presidente executivo da TAP, Antonoaldo Neves, admitiu que a
Comissão Executiva da transportadora está disponível para aceitar um membro
indicado pelo Estado, que atualmente só está presente no Conselho de
Administração.
Antonoaldo Neves,
que falava na comissão parlamentar de Economia, Inovação, Obras Públicas e
Habitação, na Assembleia da República, em Lisboa, sublinhou não ver
"qualquer problema" que o Estado, enquanto acionista da TAP, esteja
também representado na Comissão Executiva, considerando até uma opção
"produtiva".
O ministro
acrescentou ao 'podcast' do PS que viu as declarações de Antonoaldo Neves com
"alguma perplexidade", já que quem "vai fazer a injeção" de
capital na empresa é o Estado português, logo, não "era a atual Comissão Executiva
que estaria a fazer um favor ao demonstrar disponibilidade para aceitar um
membro da Comissão Executiva".
Pedro Nuno Santos
disse, no entanto, que o importante, "nesta fase", é "garantir o
que se faz a cada cêntimo" que vai ser injetado na TAP e que o sistema de
controlo e de monitorização que foi proposto "é muito mais eficaz do que
simplesmente ter um membro numa Comissão Executiva" onde o Estado não
seria maioritário.
A Comissão
Europeia aprovou em 10 de junho um "auxílio de emergência português"
à companhia aérea TAP, um apoio estatal de 1.200 milhões de euros para
responder às "necessidades imediatas de liquidez" com condições
predeterminadas para o seu reembolso.
Uma vez que a TAP
já estava numa débil situação financeira antes da pandemia de covid-19, a
empresa "não é elegível" para receber uma ajuda estatal ao abrigo das
regras mais flexíveis de Bruxelas devido ao surto, que são destinadas a
"empresas que de outra forma seriam viáveis".
Aos deputados,
Antonoaldo Neves disse que não esperava "nada menos do que uma Comissão
Europeia extremamente dura" nas contrapartidas exigidas à companhia aérea
pelo auxílio que vai receber e lamentou não ter sido dado à TAP auxílio estatal
em forma de garantias, para pagamento de empréstimos com os bancos privados.
O presidente
executivo considerou mesmo "injusta" a decisão da Comissão Europeia
de não permitir que a TAP recorra ao mecanismo especial de apoio às companhias
aéreas, no contexto da pandemia de covid-19, por considerar que a
transportadora que lidera estava já com problemas antes do surto.
O presidente
executivo também disse ser "óbvio" que a TAP não tem condições para
pagar o empréstimo que vai receber de até 1.200 milhões de euros e que quer
apresentar o plano de reestruturação em três meses.
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