sábado, 27 de junho de 2020

A periferia urbana de Lisboa, a covid-19 e o atraso do Governo / The Metropolitan Area of Lisbon (AML) is now subject to more restrictive measures in an attempt to contain new Covid-19 cases.


OPINIÃO
A periferia urbana de Lisboa, a covid-19 e o atraso do Governo

Os dois problemas já estavam lá antes, daí que seja estranho não ter havido a sensibilidade política e social no Governo

SÃO JOSÉ ALMEIDA
27 de Junho de 2020, 7:21

Finalmente, o Governo aprovou medidas específicas para monitorizar de perto as pessoas com casos activos de covid-19, nas zonas em que há surtos significativos com risco de contaminação comunitária, concretamente em 19 freguesias da Área Metropolitana de Lisboa (AML): todas as freguesias da Amadora, todas as de Odivelas, seis freguesias urbanas de Sintra, duas de Loures e uma de Lisboa. Decidiu bem o Governo em agir, embora tenha demorado a fazê-lo. Voltou alguma imagem de autoridade do Estado e de preocupação com a saúde pública, depois das atitudes e das mensagens contraditórias do Governo, do primeiro-ministro e do Presidente da República e da cedência à pressão da economia.

É certo que, como frisou o Presidente, no final da reunião no Infarmed, na quinta-feira, a situação não está descontrolada, mesmo nestas freguesias, e também é verdade que o fim do confinamento aumentou as contaminações, como alegou o primeiro-ministro. Mas não se percebe porque é que, quando era visível há semanas que permanecia um problema em alguns concelhos da AML e quando foi anunciada na semana passada a reunião com os presidentes destas câmaras, ela só se realizou na segunda-feira e só na quinta-feira o novo quadro legal foi finalizado. Mas mais vale tarde do que nunca.

Pelo que se percebe das notícias, os próprios especialistas, que participam nas reuniões no Infarmed, não têm certezas sobre as razões pelas quais permanecem surtos nestas 19 freguesias. Perante uma pandemia inédita, há poucas certezas sobre como enfrentar o problema, mas é possível que um trabalho de inquérito epidemiológico, bem como o trabalho em equipa dos serviços de saúde, da Segurança Social, da Protecção Civil, municípios e forças de segurança, poderá contribuir para que se conheça melhor as razões e para que haja um mais sério e rigoroso acompanhamento e prevenção de contágios. É pena é que seja só agora que a decisão foi tomada.

É certo que os comportamentos sociais, como festas e ajuntamentos ilegais, são uma origem de surtos. Mas, de acordo com o perfil traçado pelos especialistas, a maioria das actuais contaminações decorre maioritariamente num contexto de coabitação, ou seja, em casa, por pessoas que vão trabalhar usando transportes públicos.

Um perfil que torna cristalino o quadro de desigualdades, de pobreza e de má qualidade de vida, que existe nas zonas periféricas da capital, com a degradação do padrão das habitações e com os graves constrangimentos crónicos dos transportes públicos. Só que estes dois problemas já estavam lá antes, daí que seja estranho não ter havido a sensibilidade política e social no Governo e nas autoridades para a atenção necessária em relação a estas zonas mais expostas à pandemia.

Claro que não é possível exigir que o Governo fizesse novos bairros de um dia para o outro. Mas é importante que esta questão entre nas agendas políticas como prioridade nacional, em nome da defesa da dignidade da vida humana. E é de saudar a criação do Programa Bairros Saudáveis, que irá ser dirigido por Helena Roseta, um projecto, aliás, decalcado do que já fez enquanto vereadora da Câmara de Lisboa.

Menos compreensível parece ser que só esta semana tenham existido acções concretas ao nível dos transportes rodoviários na AML. E que só na quinta-feira tenha sido fechado, com as empresas rodoviárias privadas que ligam estas periferias à capital, o acordo para reforço de carreiras em 90% do serviço normal anterior à pandemia, a partir de 1 de Julho.


Isto porque era sabido que estas rodoviárias tinham recorrido ao layoff e baixado a prestação de serviço às populações em cerca de metade da anterior circulação, desde que foi decretado o estado de emergência em 18 de Março. É incompreensível a demora de quase três meses. Mesmo assim, os 18 municípios da AML irão avançar com o pagamento extra de dez milhões de euros por mês, dinheiro que receberão do orçamento suplementar.

No meio de tanta incerteza, o regresso de medidas graduadas em três patamares — 19 freguesias, AML e país — pode dar alguma tranquilidade à população, mas não vai acabar com a pandemia, nem colocar o Governo em estado de graça. Aliás, o discurso político assumido pelos partidos à saída da reunião do Infarmed é exemplar. De um lado, Presidente da República e secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, a salientarem a forma como a situação está controlada. Do outro lado, o deputado do PSD Ricardo Baptista Leite e o presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, a alertarem para o facto de um especialista ter admitido que pode estar a desenhar-se uma segunda vaga da pandemia. O espírito de concórdia partidária poderá estar a chegar ao fim, mas a pandemia não, nem os desequilíbrios sociais do país. É importante que os políticos sejam céleres na acção face à pandemia, mas é essencial que sejam tomadas medidas de fundo contra a precariedade das condições de vida na periferia urbana de Lisboa.

tp.ocilbup@adiemla.esoj.oas

The Metropolitan Area of Lisbon (AML) is now subject to more restrictive measures in an attempt to contain new Covid-19 cases.
in News · 26-06-2020 01:00:00

The new rules mean that there is once again a limit of a gathering of a maximum of 10 people, unless they belong to the same family, “the access, circulation or permanence of people in spaces frequented by the public, as well as the concentrations of people on the public road” in the AML.
“All retail and service establishments, as well as those in commercial units”, are to now close at 8pm in the AML, according to the new resolution approved by the government.
The only exception is restaurants, “exclusively for the purpose of serving meals in the establishment itself”, and also restaurants with a take-away service or home delivery service, “which cannot supply alcoholic beverages within the scope of this activity”.
The sale of alcoholic beverages is also prohibited “in service areas or at fuel filling stations” by AML.
The consumption of alcoholic beverages is also prohibited “in open spaces of public access”, except on the terraces of properly licensed restaurants and drinks establishments, which can only be kept open until 8pm.
The new rules also highlighs the reinforcement of the operational activity of the AML security and service forces and rescue services, which, if necessary, “can be reinforced” by “personnel from other geographical areas, in conjunction with the municipal structure of civil protection”.
“Whoever does not respect any of these four rules, and as a result of the first violation, the crime of disobedience will be determined. The person indicated will be immediately fined,” a government source told Lusa.
AML is integrated by the municipalities of Alcochete, Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisbon, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra and Vila Franca de Xira.
On 25 June, the Government is to approve, in the Council of Ministers, the list of administrative offenses applicable to situations of non-compliance with the containment rules.
The executive will also specify which parishes in the municipalities of Lisbon, Sintra, Amadora, Loures and Odivelas are the target of reinforcement measures in terms of civil protection.
Prime Minister, António Costa, referred to a provisional estimate of 15 parishes in these five municipalities in the northern area of the Lisbon Metropolitan Area.
The Prime Minister met on 22 June in São Bento with the mayors of Lisbon, Fernando Medina, Sintra, Basílio Horta, Loures, Bernardino Soares, Odivelas, Hugo Martins, and Amadora, Carla Tavares, as well as representatives of health authorities.
This meeting, which lasted more than four hours, was also attended by the Ministers of Internal Administration, Eduardo Cabrita, and Minister of Health, Marta Temido, as well as the Secretary of State for Parliamentary Affairs, Duarte Cordeiro, who coordinates by the executive the fight against Covid-19 in the region of Lisbon and Vale do Tejo.
Based on the bulletins released by the Directorate-General for Health (DGS) between 7 and 21 June, the municipalities of Amadora, Lisbon, Loures, Odivelas and Sintra accumulated 50.2 percent of the total new cases in this period in Portugal, representing a total of 4,440 .
Sintra, with 695 new infections, was the most affected municipality, followed by Lisbon with 521, Loures with 414, Amadora with 397, and Odivelas with 203.
The numbers in these five counties, which bring together approximately 1.4 million inhabitants, correspond to a ratio of 154 new cases per 100 thousand inhabitants - a value three and a half times higher than that verified throughout the country, which stood at 43.3.
Amadora is, in this indicator, the most affected municipality, with 219 new infections per 100 thousand inhabitants in the last two weeks, ahead of Loures with 196, Sintra with 179, Odivelas with 128, and Lisbon with 103.
The capital is the one that has the record closest to the average of the Metropolitan Area of Lisbon, which added 3,055 new cases in the period analysed (68.8 percent of the total), which corresponds to about 107 per 100 thousand inhabitants, in a region with a population of around 2.8 million.
With 83.1 percent of new infections registered between 7 and 21 June, that is, 3,689, the region of Lisbon and Vale do Tejo presents a ratio of 101 new cases per 100 thousand inhabitants, in a population of approximately 3.6 million.

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