“Seria um desastre o país perder a TAP. Quem acha que
não, não percebe patavina”, diz Pedro Nuno Santos
Rita Neto
10:23
O ministro das Infraestruturas e da Habitação está a ser
ouvido no Parlamento, no dia em que o Expresso avança que a TAP vai ser
nacionalizada dada a falta de acordo entre o Estado e os privados.
Pedro Nuno Santos está a ser ouvido esta terça-feira
na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, sendo que um dos
temas quentes será a TAP. Isto porque, minutos antes de a audição arrancar, o
Expresso avançou que a companhia aérea |
TAP vai ser nacionalizada. Privados chumbam proposta do
Governo em conselho de administração da companhia
Rita Neto e
António Costa
10:06
A TAP vai ser nacionalizada porque os privados não
aceitam as condições impostas pelo Governo. Neste momento, decorre assembleia
geral da empresa e está a ser feito último esforço para haver acordo.
ATAP vai ser
nacionalizada, avança o Expresso e confirmou o ECO junto de fontes que conhecem
as negociações. Depois de um conselho de administração da companhia aérea ao
longo da tarde e noite de segunda-feira, a proposta com as condições exigidas
pelo Estado para avançar com um empréstimo até 1.200 milhões de euros foi
chumbada pelos administradores indicados pela Atlantic Gateway de David
Neeleman e Humberto Pedrosa. E agora só um volta-face de última hora poderá
impedir a publicação do decreto de nacionalização, que deverá suceder
provavelmente já amanhã.
A Atlantic
Gateway, que tem 45% da TAP, rejeitou as condições esta segunda-feira à noite o
empréstimo de até 1.200 milhões de euros que o Estado português ia fazer.
Empréstimo esse ao qual até a Comissão Europeia já tinha dado luz verde. E a
principal razão está na exigência do Governo de que 217 milhões de prestações
acessórias dos privados passem a capital social, condição que David Neeleman
não aceita.
Neste momento,
sabe o ECO, decorre uma assembleia geral de acionistas da TAP e está a ser
feito um último esforço, incluindo da parte de Humberto Pedrosa, para convencer
o sócio David Neeleman a aceitar as condições do Estado que permitiriam evitar
a nacionalização. “Ainda temos o dia de hoje para tentar ultrapassar este
impasse”, disse ao ECO uma fonte que acompanha as negociações.
A solução para
evitar uma nacionalização poderia também passar por uma recompra da posição
acionista de David Neeleman, mas o empresário exigiu 65 milhões de euros, o que
foi considerado inviável pelo Governo.
O ECO contactou o
Ministro das Infraestruturas e Habitação, que remeteu esclarecimentos para a
audição de Pedro Nuno Santos, que está a decorrer esta manhã na Comissão de
Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação. Já fonte oficial da
transportadora aérea diz desconhecer esta informação, uma vez que não integram
as negociações.
EDITORIAL
A TAP e a política de “mão estendida”
Colocada fora de questão a nacionalização ou a falência,
a sobrevivência da TAP só aconteceria se quem paga a conta escolhesse o menu.
MANUEL CARVALHO
30 de Junho de
2020, 6:44
O lamentável
folhetim da TAP está prestes a chegar ao fim com o epílogo que se adivinhava:
com o triunfo da lei do mais forte. Após meses de resistência, os accionistas
privados foram forçados a capitular e o Estado prepara-se para garantir a
capitalização na condição de senhor absoluto. Já se sabia que ia ser assim
porque nestes jogos manda quem tem o controlo do dinheiro e obedece e agradece
quem dele depende para sobreviver.
Mas esta
constatação não tinha de demorar tanto tempo a acontecer. Entre a bizarra
tentativa dos privados em obter capital para manter tudo como estava e a
atitude do Estado que os quis vergar à condição de mendigos, entre o tempo que
se levou a apresentar um pedido à Comissão Europeia e os incompreensíveis
lamentos da administração sobre uma possível “injustiça”, perdeu-se tempo, a
TAP desvalorizou-se e os cidadãos foram obrigados a assistir um filme algures
entre o western-spaghetti e o drama passional.
Não tinha de ser
assim e só o foi porque entre o ministro Pedro Nuno Santos e David Neeleman,
Humberto Pedrosa e Antonoaldo Neves se foi acumulando nos últimos anos um clima
de mal-estar insuportável. Na troca de argumentos, todos tiveram a sua parte de
razão, que é o mesmo que dizer que todos tiveram uma parte nas
responsabilidades.
A TAP era, antes
da pandemia, uma empresa com mais futuro, mas dera saltos imponderados; a TAP
era comandada por privados, mas o Estado tinha mais capital; a TAP tinha gestão
privada, mas, como é natural, o Estado exige-lhe a prestação de serviços
públicos. Numa circunstância normal, os choques poderiam passar despercebidos.
Numa crise grave, tinha de haver ajuste de contas.
Colocada fora de
questão a nacionalização ou a falência, a sobrevivência da TAP só aconteceria
se quem paga a conta escolhesse o menu. Não sabemos se a reestruturação imposta
pela Comissão Europeia era mesmo inevitável ou se Pedro Nuno Santos teve um
papel nessa imposição, ao sugerir que a empresa estava em crise antes da crise.
Sabemos, sim, que
em tudo o resto, e no geral, o ministro fez o que tinha de fazer: exigiu que os
empréstimos dos accionistas à TAP ficassem no capital da empresa; determinou
que, com a ajuda, o Estado tinha de entrar no conselho executivo; e impôs que
os créditos do Estado que não forem pagos se transformarão em capital.
Tudo, portanto,
acabou por correr como era inevitável. O que se lamenta é que a salvação da
companhia não se tivesse feito de forma mais pacífica e natural.
tp.ocilbup@ohlavrac.leunam
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