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EDITORIAL
Governo arrisca e escolhe Centeno sem surpresa
Sempre que houver um problema com um banco, o que
infelizmente não é improvável, Mário Centeno será visto como alguém do círculo
próximo de António Costa e não como um quadro com altas referências académicas
ou pergaminhos políticos no mundo das Finanças.
MANUEL CARVALHO
26 de Junho de
2020, 5:30
https://www.publico.pt/2020/06/26/opiniao/editorial/governo-arrisca-escolhe-centeno-surpresa-1921968
Estava há meses
escrito nas estrelas e, esta quinta feira, o primeiro-ministro demoliu as
últimas dúvidas que pudessem subsistir: Mário Centeno vai ser governador do
Banco de Portugal. Vai sê-lo perante críticas sobre a sua opção por sair do
Governo; vai sê-lo quando o Parlamento aprovou na generalidade uma proposta de
lei que visa criar um período de nojo para travar o trânsito directo entre o
Governo e entidades reguladoras; vai sê-lo contra a opinião dos partidos com
assento parlamentar. Para um Governo minoritário, a decisão é uma prova de
força, de confiança ou de soberba. António Costa tinha levado longe de mais a
defesa do seu ex-ministro das Finanças para poder recuar sem ter de pagar o
ónus de uma derrota política.
O que importa
agora saber é se esta decisão fecha um capítulo ou se abre uma nova página no
clima político. A nomeação de Mário Centeno tem a seu favor um currículo,
principalmente o que foi preenchido ao longo de cinco anos no Ministério das
Finanças. É uma garantia de competência, mas não basta para reunir todas as
condições para um cargo frequentemente exposto às influências das políticas do
Governo. Centeno nomeou os auditores que o vão fiscalizar, decidiu sobre o Novo
Banco ou sobre a CGD, pronunciou-se sobre o Montepio e agora vai ter muito
provavelmente de decidir como supervisor sobre as suas próprias decisões
enquanto ministro. Fá-lo-á com competência, certamente; usará todo o escrúpulo,
não se duvida; perseguirá o interesse público, com certeza. Mas na alta esfera
da regulação seria sempre melhor encontrar alguém sem um passado a defender.
O Governo não
quis seguir esta leitura e tem legitimidade para assim decidir. Mas pagará um
preço político pela sua decisão. Sempre que houver um problema com um banco, o
que infelizmente não é improvável, Mário Centeno será visto como alguém do
círculo próximo de António Costa e não como um quadro com altas referências
académicas ou pergaminhos políticos no mundo das Finanças. Numa altura em que
precisa mais do que nunca de apoios (agora à esquerda, mais à frente do PSD)
para governar em acalmação, criou um pequeno espinho que vai irritar os seus
parceiros e ainda mais os seus adversários. Por muito que Centeno não desmereça
o lugar, há no ar muitas opções que desaconselhavam a sua escolha. O
primeiro-ministro não foi por aí e a sua escolha não é o fim do mundo: é apenas
uma opção politicamente errada, que nem protege a credibilidade da supervisão
bancária, nem a consistência do Governo.
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