OPINIÃO
O desapontamento
VASCO PULIDO
VALENTE 11/05/2014 - PÚBLICO
O 25 de Maio, de que tanto se fala, não passará provavelmente de um
desapontamento tanto para a esquerda como para a direita. Merecido, de resto.
Nunca percebi bem
como Seguro foi parar a secretário-geral do PS, na ressaca da derrota de 2011. Provavelmente,
os bandos da casa, que Sócrates cuidadosamente desfizera, ainda se não tinham
redefinido e armado e preferiram escolher por um tempo uma personagem inócua,
incapaz de tomar sozinha conta do partido.
Mas, para seu mal
há uma espécie de mediocridade tenaz que não se remove com facilidade. Seguro
repetiu até agora os lugares-comuns que se esperavam dele, sem se enganar
catastroficamente, apesar de algumas mudanças de estratégia que as
circunstâncias pediam. Claro que, com o seu ar de menino de escola papagueando
a lição, Seguro não entusiasma ninguém e muitos militantes desconfiam que ele
não vai conseguir esmagar o CDS e o PSD, como acto preparatório para as
legislativas.
Só que Seguro já
despachou para a “Europa” os rivais que eram para ele um verdadeiro perigo
(excepto António Costa), para evitar sarilhos no caso de um (sempre relativo)
fracasso e para dividir as responsabilidades desse fracasso, se ele, por azar,
acontecer. De qualquer maneira, o PS vive num dilema de que é difícil sair. Por
um lado, precisa de evitar um radicalismo que o faça perder a confiança dos
mercados e dos donos da “Europa”, porque sem eles não governará dois dias. E,
por outro, precisa de amansar a opinião radical, desde o dr. Mário Soares,
ainda uma grande influência, a umas centenas de “socráticos”, fracos mas
persistentes, quE esperam a sua hora. Daí que Seguro balance entre uma atitude
às vezes razoável e uma ocasional brutalidade contra o governo, sem objecto,
nem consequência.
Sucede que o
cidadão comum vê as coisas como elas são. Percebe, por exemplo, que o PS, se
chegar ao governo, não lhe vai trazer nenhum alívio e que seguirá em grosso a
política de Passos Coelho e Paulo Portas. Percebe que a esquerda do partido só
serve para irritar os credores e para perder os votos de um eleitorado pacífico
e, principalmente, farto de aventuras e de aventureiros. E percebe o perigo de
confiar as finanças do Estado e uma economia exangue a um partido que vocifera
contra os mercados e contra o que ele chama “neo-liberalismo”. Quem tem
dinheiro debaixo da almofada não o arriscará um tostão (um voto) nos
socialistas, notoriamente inclinados para trapalhadas de dinheiro e maus negócios.
O 25 de Maio, de que tanto se fala, não passará provavelmente de um
desapontamento tanto para a esquerda como para a direita. Merecido, de resto.
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