quinta-feira, 15 de maio de 2014

A troika é mais irracional que a bola


A troika é mais irracional que a bola
Por Ana Sá Lopes
publicado em 15 Maio 2014 in (jornal) i online
Durão Barroso também exige mea culpa a todos os que falaram em segundo resgate

Depois do post "truncado" no Facebook de Cavaco Silva - em que o Presidente destilava o seu infinito fel contra quem anunciou a hipótese de um segundo resgate, esquecendo-se que também o tinha feito - foi ontem a vez de Durão Barroso ser o protagonista de uma esotérica tentação de vendetta muito em voga nesta campanha. Durante um discurso no European Business Summit, Barroso pôs-se na bicha para a recolha do troféu da "saída limpa" e consegue dizer, sem se rir, que "a estabilização da zona euro é um grande sucesso".

É um facto universalmente conhecido que Barroso tem de recuperar terreno num sítio onde o perdeu quando, há dez anos, num Verão igualmente temperado pela euforia futebolística, se demitiu do governo exigindo ao Presidente da República de então a condição de que o país ficasse entregue a Pedro Santana Lopes. Sampaio concordou. Achou-se sem margem para privar o país de, através da personagem Durão, ocupar um cargo que orgulharia os "egrégios avós". E o rebaptizado José Manuel Barroso lá foi, julgando que no regresso teria uma cadeira em Belém à espera. Azar dos Távoras: os portugueses não gostaram de ser abandonados pelo cargo internacional que não lhes deu de comer e a crise de 2008 apanhou Barroso no meio de um turbilhão inédito, com a Europa às aranhas no meio da maior crise económica desde a Segunda Guerra. Barroso não teve muita sorte na vida europeia. Como representante de um país sem importância nenhuma no concerto das nações do euro recolheu- -se no regaço confortável da senhora Merkel e foi vendo a caravana passar, à espera de melhores dias.

Mas agora José Manuel acha que, para efeitos de propaganda, "os melhores dias" estão a chegar e ontem festejou: "O governo português não pediu nem novo programa nem tão-pouco um cautelar. Seis meses antes, quase todos os analistas previam que Portugal necessitaria de um segundo programa. Espero que digam agora 'estávamos enganados', porque ouvi-os todo este tempo a dizerem isso, contra a posição da Comissão, que dizia que Irlanda, Portugal e Espanha eram capazes."


A notícia de que a Comissão andava a discutir a possibilidade de um segundo resgate veio no "Finantial Times". Rui Machete afirmou que o dito segundo resgate só seria evitável se os juros descessem abaixo dos 4,5%. A defesa de um programa cautelar foi feita pelo próprio Barroso - que depois mudou de ideias. O debate sobre futebol é mais racional.

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