PSD-Madeira tecnicamente falido
devia 5,9 milhões de euros em 2009
TOLENTINO DE
NÓBREGA 14/05/2014 - PÚBLICO
A estrutura regional liderada por Jardim deve 3,99 milhões de euros a
instituições de crédito, o que representam 80,4% do financiamento bancário
obtido por todo partido.
As dívidas do PSD
na Madeira ascenderam a 5,9 milhões de euros em 2009, correspondendo a um
agravamento de mais 31,1% face ao ano anterior. O balanço das dívidas
acumuladas a fornecedores diversos e a instituições financeiras “continua a
revelar uma difícil situação financeira”, concluiu a Entidade das Contas e
Financiamentos Políticos (ECFP) na análise às contas do PSD respeitantes a
2009.
Este órgão
coadjuvante do Tribunal Constitucional na fiscalização das contas dos partidos
políticos e das campanhas apurou ainda que o capital próprio do PSD-Madeira é
negativo em quatro milhões de euros (era de 3,4 milhões em 2008), o que
configura uma situação de falência técnica.
Na apreciação da
contabilidade da estrutura regional, integrada nas contas nacionais, a ECFP
concluiu que o PSD madeirense deve 3,99 milhões de euros a instituições de
crédito, que representam 80,4% do financiamento bancário obtido por todo
partido. O Banif é o maior financiador dos sociais-democratas madeirenses (3,3
milhões de euros), seguido do Millennium (750 mil).
O saldo devedor
inclui o montante de 216 mil euros referente à dívida da Fundação Social
Democrata (FSD). A ECFP reconhece que “tem dificuldade em compreender” que a
fundação “deva importâncias ao PSD tendo em conta, entre outras razões, ser o
PSD arrendatário, na Madeira, de vários imóveis” que funciona como sedes
locais.
Adicionalmente, a
ECFP verifica que o saldo devedor de fornecedores com letras da Fundação Social
Democrata, no montante de 336 mil euros, encontra-se, também, incluído no saldo
da rubrica de fornecedores, no montante de um milhão e 196 mil euros. Assim, conclui
que o montante a receber da FSD ascende a 553 mil euros. “Caso a dívida
subsista em 2010, os factos em questão aparentam uma duvidosa legalidade”,
adverte a ECFP.
“Trata-se de uma
quantia muito avultada que se mantém no balanço pelo menos desde 2007 e parece
configurar um empréstimo do PSD à Fundação Social Democrata”, frisa a ECFP, que
considera “questionável a legalidade da existência de um empréstimo deste
montante e por este prazo, de um partido político a uma fundação”.
Ao analisar as
despesas com acções partidárias do PSD-Madeira, a ECFP verificou que metade do
saldo de 997 mil euros refere-se à festa do Chão da Lagoa (478 mil em 2009).
Constituindo esta festa “um evento que acarreta custos bastante significativos
para o partido, não se entende porque os proveitos subjacentes apenas
ascenderam a 5.720 euros”, diz a ECFP, que volta questionar a forma de
financiamento do evento.
A entidade
fiscalizadora das contas estranha igualmente que o PSD não tenha entregue ao
Tribunal Constitucional a lista de acções da Madeira, apesar envolverem custos
de 997 mil euros. Regista ainda que, em relação ao Chão da Lagoa, não foi
facultado o contrato com o cantor Tony Carreira, que nesse mesmo ano realizou
quatro espectáculos na Madeira no âmbito das eleições autárquicas. “A situação
poderá indiciar duplicação de registo de custos”, admite a ECFP, entidade à
qual a empresa Regiconcerto recusou apresentar as solicitadas facturas do
contrato assinado para os seis concertos de Tony e Michael carreira.
A fornecedores da
Madeira o PSD apresenta um saldo credor de 1,54 milhões de euros. No topo dos
fornecedores em divida, figura a Grafimadeira (195 mil euros), a Art of Sound
(190 mil), a Estalagem Encumeada (81 mil), a Porto Santo Line (69 mil), a
transportador pública urbana Horários do Funchal (62 mil) e a Inter Tours (59
mil). Ao Jornal da Madeira, propriedade do governo regional, o PSD de Jardim
deve 35 mil euros, e à agencia Controlmedia, de Jaime Ramos, 52 mil euros.
Em 2009, o PSD
transferiu um total de 57 mil euros para contas bancárias de mais de 54
pessoas, “nenhumas delas funcionária do partido” como diz a ECFP, para liquidar
remunerações de colaboradores referentes do ano anterior (férias, subsídios de
férias e respectivos encargos sociais).
Por fim, a ECFP
censura o facto de as contas anuais de 2009 voltarem a integrar a subvenção
estatal, no montante de 3,4 milhões de euros (2,9 em 2008), recebida pelo grupo
parlamentar do PSD da Assembleia da Madeira, o que, sublinha, “contraria a
jurisprudência do Tribunal Constitucional”.
Tais verbas, cuja
devolução está a ser exigida pela secção regional do Tribunal de Contas em
julgamento, não devem ser considerados” financiamentos aos partidos e afectos à
realização dos seus fins próprios, mas sim subvenções geneticamente fundadas no
exercício da actividade parlamentar”, reitera a Entidade das Contas e
Financiamentos Políticos.
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