A Madeira afunda-se
Por Eduardo
Oliveira Silva
publicado em 14 Maio
2014 in
(jornal) i online
Há dados que
apontam para a necessidade de um segundo resgate da região
A questão não
está presente na agenda como a do resgate da troika a Portugal no seu todo, mas
proporcionalmente não é menos grave.
Antes de mais,
recordem-se alguns aspectos da situação da Madeira. Menos de meia dúzia de
meses depois de Portugal ter sido resgatado pela troika, nas circunstâncias
dramáticas que todos pagamos e que nos obrigaram a assinar um acordo
humilhante, vinha à baila (que não ao bailinho)
o caso da
Madeira.
Passos Coelho e
Gaspar foram confrontados com o facto de no arquipélago de João Jardim um total
de 1100 milhões de despesas feitas não terem sido reportadas nas contas.
Conhecia-se assim
um buraco monumental, que já se adivinhava desde que Sócrates mudou a lei das
finanças regionais, afectando a Madeira, o que levou inclusivamente Jardim a
demitir-se e a convocar eleições regionais, ameaçando sair se não as ganhasse,
como aconteceu.
Chegava-se assim
à conclusão de que, tal como algumas autarquias do Continente, a Madeira estava
exaurida. Ainda hoje, só as 13 empresas públicas locais tecnicamente falidas
acumulam um passivo da ordem dos 4 mil milhões de euros, segundo dados de 2013.
A situação de
emergência detectada obrigou o governo de Lisboa a fazer de troika e a
emprestar à Madeira qualquer coisa como 1500 milhões de euros para lhe permitir
manter-se à tona de água. Tratou-se de um montante que valeu qualquer coisa
como 1% do PIB português e 20% do que a Madeira produz anualmente.
Tal como a troika
para o governo central, Lisboa impôs condições violentas a uma Madeira objecto
de um duplo resgate. Foi até mais longe, pois além de controlar a despesa impôs
uma limitação nas transferências. Tantos condicionalismos tornaram óbvio que a
Madeira não conseguiria libertar-se e pagar a dívida em tempo útil.
Ainda ontem, no
excelente programa da Antena 1 "Às Voltas com a Troika", o economista
madeirense Ricardo Cabral afirmava que na região se fala da necessidade de
rever o plano de ajustamento. Isto porque toda a economia local se encontra em
dificuldade, porque o desemprego na região é dos mais altos do país (o que
agrava a despesa social e inviabiliza receitas) e os encargos da dívida local
são de cerca de 100 milhões por ano, ou seja, 20% do produto da região.
Como é fácil
verificar, este panorama não augura nada de bom para o futuro imediato do
arquipélago e para a economia portuguesa no seu todo. O tema Madeira tem estado
em banho-maria e pouco ou nada se tem falado do que se passa no arquipélago,
mas os poucos dados conhecidos não indicam que haja algum desagravamento e
recuperação económica e financeira.
Sem comentários:
Enviar um comentário