Passos nega “qualquer convite” ou
sondagem a Jorge Silva Carvalho
Em resposta à deputada Cecília Honório, do Bloco, o primeiro-ministro desmente
as afirmações do espião e ex-líder do SIED
Paulo Pena /
14-5-2014 / PÚBLICO
Jorge Silva
Carvalho, o ex-líder dos Serviços de Informações Estratégicas e de Defesa
(SIED), garantira, no passado dia 23, numa entrevista à revista Sábado, que
fora abordado por colaboradores de Pedro Passos Coelho para que aceitasse ser
indicado como secretário-geral do Serviço de Informações da República
Portuguesa, a cúpula das secretas.
“Normalmente, não
falo de convites, porque têm de ser as pessoas que fazem os convites a falar
deles. Mas uma vez surgiu um convite que me espantou. Já tinha havido eleições
estava-se na fase de constituição do Governo. Fui consultado por um dos
assessores principais de Pedro Passos Coelho, que me perguntou se aceitaria ser
secretário- geral do SIRP. Eu recusei, ele insistiu; eu entendi que, depois de
recusar uma primeira vez, não podia fazê-lo uma segunda. Disse que aceitava
ponderar o regresso se houvesse um convite formal do primeiro-ministro (...) Foi
um período muito curto de duas semanas, em que houve vários contactos com esse
assessor, com outros elementos do gabinete e com pessoas da esfera do Governo a
constituir, para quem a minha ida já era um acto consumado.”
Foram estas as
declarações que motivaram Cecília Honório, deputada do BE, a inquirir o
primeiroministro. Nestes termos: “O senhor primeiro-ministro tem conhecimento
do mencionado convite? Foi o mesmo efectuado por sua indicação? Está o senhor
primeiro-ministro em condições de esclarecer a autoria e a data do convite
dirigido ao dr. Silva Carvalho?”
Resposta de
Passos
A resposta
chegou, assinada pelo chefe de gabinete de Passos Coelho, Francisco Ribeiro de
Menezes. E desmente a versão avançada por Jorge Silva Carvalho: “O
primeiro-ministro não fez qualquer convite, nem em momento algum deu instruções
no sentido de convidar, ou sequer sondar, quem quer que fosse para o cargo de
secretário- geral do SIRP.”
O gabinete do
primeiro-ministro sublinha, aliás, que Passos Coelho “não procedeu à
substituição da direcção do SIRP, manifestando publicamente a sua confiança no
seu secretário- geral, dr. Júlio Pereira.”
Recorde-se que
Pedro Passos Coelho foi eleito no dia 5 de Junho de 2011, e que as primeiras
notícias que denunciavam a actuação suspeita de Jorge Silva Carvalho surgiram,
no Expresso, a 16 de Julho.
Nas semanas
seguintes, Jorge Silva Carvalho foi envolvido num escândalo que resultou numa
acusação judicial em que é suspeito de ter praticado crimes de corrupção
passiva, violação do segredo de Estado, abuso de poder e acesso indevido a
dados pessoais. Na entrevista à Sábado, o ex-espião não concretiza a data do convite.
Mais tarde, já em
2012, a
sua relação próxima com o braço direito de Passos Coelho, Miguel Relvas, foi
conhecida e motivou várias audições, no Parlamento, do ex-ministro, que, por
mais de uma vez, se enredou em contradições e omissões perante os deputados.
Depois de buscas
do Ministério Público, foram apreendidas agendas, telemóveis e computadores
pessoais de Silva Carvalho que provavam os seus contactos pessoais, e
profissionais, com o ex-ministro Adjunto.
A ligação de Jorge Silva Carvalho à maçonaria, e a sua polémica
contratação pela Ongoing estiveram, também, na base das recentes alterações,
aprovadas na generalidade pela Assembleia da República, às regras do Segredo de
Estado e da Lei Orgânica dos Serviços de Informações
Sem comentários:
Enviar um comentário