quarta-feira, 14 de maio de 2014

Passos nega “qualquer convite” ou sondagem a Jorge Silva Carvalho

A ligação de Jorge Silva Carvalho à maçonaria, e a sua polémica contratação pela Ongoing estiveram, também, na base das recentes alterações, aprovadas na generalidade pela Assembleia da República, às regras do Segredo de Estado e da Lei Orgânica dos Serviços de Informações

Passos nega “qualquer convite” ou sondagem a Jorge Silva Carvalho
Em resposta à deputada Cecília Honório, do Bloco, o primeiro-ministro desmente as afirmações do espião e ex-líder do SIED
Paulo Pena / 14-5-2014 / PÚBLICO

Jorge Silva Carvalho, o ex-líder dos Serviços de Informações Estratégicas e de Defesa (SIED), garantira, no passado dia 23, numa entrevista à revista Sábado, que fora abordado por colaboradores de Pedro Passos Coelho para que aceitasse ser indicado como secretário-geral do Serviço de Informações da República Portuguesa, a cúpula das secretas.
“Normalmente, não falo de convites, porque têm de ser as pessoas que fazem os convites a falar deles. Mas uma vez surgiu um convite que me espantou. Já tinha havido eleições estava-se na fase de constituição do Governo. Fui consultado por um dos assessores principais de Pedro Passos Coelho, que me perguntou se aceitaria ser secretário- geral do SIRP. Eu recusei, ele insistiu; eu entendi que, depois de recusar uma primeira vez, não podia fazê-lo uma segunda. Disse que aceitava ponderar o regresso se houvesse um convite formal do primeiro-ministro (...) Foi um período muito curto de duas semanas, em que houve vários contactos com esse assessor, com outros elementos do gabinete e com pessoas da esfera do Governo a constituir, para quem a minha ida já era um acto consumado.”
Foram estas as declarações que motivaram Cecília Honório, deputada do BE, a inquirir o primeiroministro. Nestes termos: “O senhor primeiro-ministro tem conhecimento do mencionado convite? Foi o mesmo efectuado por sua indicação? Está o senhor primeiro-ministro em condições de esclarecer a autoria e a data do convite dirigido ao dr. Silva Carvalho?”
Resposta de Passos
A resposta chegou, assinada pelo chefe de gabinete de Passos Coelho, Francisco Ribeiro de Menezes. E desmente a versão avançada por Jorge Silva Carvalho: “O primeiro-ministro não fez qualquer convite, nem em momento algum deu instruções no sentido de convidar, ou sequer sondar, quem quer que fosse para o cargo de secretário- geral do SIRP.”
O gabinete do primeiro-ministro sublinha, aliás, que Passos Coelho “não procedeu à substituição da direcção do SIRP, manifestando publicamente a sua confiança no seu secretário- geral, dr. Júlio Pereira.”
Recorde-se que Pedro Passos Coelho foi eleito no dia 5 de Junho de 2011, e que as primeiras notícias que denunciavam a actuação suspeita de Jorge Silva Carvalho surgiram, no Expresso, a 16 de Julho.
Nas semanas seguintes, Jorge Silva Carvalho foi envolvido num escândalo que resultou numa acusação judicial em que é suspeito de ter praticado crimes de corrupção passiva, violação do segredo de Estado, abuso de poder e acesso indevido a dados pessoais. Na entrevista à Sábado, o ex-espião não concretiza a data do convite.
Mais tarde, já em 2012, a sua relação próxima com o braço direito de Passos Coelho, Miguel Relvas, foi conhecida e motivou várias audições, no Parlamento, do ex-ministro, que, por mais de uma vez, se enredou em contradições e omissões perante os deputados.
Depois de buscas do Ministério Público, foram apreendidas agendas, telemóveis e computadores pessoais de Silva Carvalho que provavam os seus contactos pessoais, e profissionais, com o ex-ministro Adjunto.
A ligação de Jorge Silva Carvalho à maçonaria, e a sua polémica contratação pela Ongoing estiveram, também, na base das recentes alterações, aprovadas na generalidade pela Assembleia da República, às regras do Segredo de Estado e da Lei Orgânica dos Serviços de Informações



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