Opinião
À procura do povo
Vasco Pulido Valente
16/05/2014 - PÚBLICO
Nesta campanha, até as notabilidades dos grandes partidos
são difíceis de identificar.
A televisão mete agora num canto qualquer dos noticiários
grupos de indivíduos que, segundo parece, andam em campanha eleitoral. A gente
que passa na rua ou está nas lojas não dá obviamente por isso.
Há candidatos (cabeças de lista) que não levam atrás de si
mais do que cinco ou seis pessoas, que com certeza são pessoas de família ou
amigos piedosos. Há outros que lá se arranjam para juntar meia dúzia de
militantes num jantar ou num almoço melancólico, para lhes servir um discurso,
quase sempre entusiástico e sempre absurdo na tristeza geral. Praças vazias,
salas pequenas, cafés de bairro, uma traineira, uma praia, cenários de
circunstância dão um sentimento de solidão e às vezes de angústia a quem
assiste ao esforço dos pregadores, por que ninguém se interessa e ninguém vai
votar.
Ainda por cima, com 16 partidos concorrentes, o cidadão
comum não os distingue, nem sabe da existência deles. É preciso explicar quem
defende animais, quem promete a “unidade da esquerda”, quem quer acabar com o
IVA da restauração, quem não gosta dos socialistas e quem jura, a pés juntos,
que o “despesismo” não voltará jamais. Mas, no meio da confusão, as pessoas,
que já não se interessam, acabam por se perder. De resto, num extraordinário
reconhecimento da verdadeira ordem de prioridades, os candidatos resolveram não
sair de casa por causa de um jogo de futebol. Suponho que terão percebido que
ficavam por aí a vaguear sem sequer a companhia de um primo fiel ou se
arriscavam a levar pedradas se distraíssem o público de coisas sérias.
Segundo os jornais, um grande herói do CDS declarou que o
povo não lhe metia medo. Julgava provavelmente, por influência do dr. Soares,
que o iriam vaiar. Mas não o vaiaram. Os vagos vestígios de povo que por acaso
encontrou nem mesmo o reconheceram. E não admira. Nesta campanha, até as
notabilidades dos grandes partidos são difíceis de identificar, fora do grupo
de jornalistas que por obrigação os segue. Para a generalidade dos portugueses
– em que me incluo – uma cara é uma cara e um político é um intruso que nos
fala sem razão ou autorização. Peço, por isso, aos meus compatriotas, de resto
notáveis pelo seu sentimentalismo, que de quando em quando tratem bem um
político: basta um sorriso, uma palavra, uma palmadinha nas costas. Não custa
nada que o povo se mostre um bocadinho às patéticas criaturas que até 25 de
Maio estão ansiosas por conversar com ele. Verdade que a conversa é inútil. Mas
não custa muito.
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