Icomos diz que demolição das Cardosas, no Porto, é algo de grave que não se pode repetir
Classificação do centro histórico do Porto não está em causa, mas a UNESCO pode vir a monitorizar a situação, avisa o Icomos
A Comissão Nacional Portuguesa do Conselho
Internacional dos Monumentos e dos Sítios (Icomos-Portugal) teme que a demolição
de património classificado durante a reabilitação do Quarteirão das Cardosas, no
Porto, seja um precedente perigoso. "O que aconteceu ali nas Cardosas é muito
grave. Não se pode demolir património classificado. O que ali aconteceu é um
precedente que espero que não volte a acontecer. Não pode voltar a acontecer",
disse ao PÚBLICO a presidente do Icomos-Portugal, Ana Amendoeira.
A responsável, que não poupa criticas à Sociedade de Reabilitação Urbana
(SRU) Porto Vivo, admite que, face às consequências da intervenção, o "Comité do
Património Mundial da UNESCO pode vir a optar por uma monitorização reactiva e
mais apertada do património" no âmbito da classificação do Porto como Património
Mundial. A ser assim, e se não houver reuniões extraordinárias, a decisão só
será tomada na próxima reunião do comité, em Julho de 2014.Ana Amendoeira, a presidente do órgão consultivo que já em Abril enviou um relatório à UNESCO sobre aquele "caso alarmante", sublinha que o apertar da monitorização "é apenas uma hipótese. Outra seria o centro histórico do Porto vir a perder a classificação de Património Mundial. Hipótese que descarta para já, apesar de defender que se verifica uma "erradicação localizada dos motivos que fazem o Porto merecer o estatuto de Património Mundial".
Ontem, no colóquio "Porto Património Mundial: boas práticas em reabilitação urbana", que decorreu no cinema Passos Manuel, a presidente do Icomos-Portugal acusou a SRU de, em vez de reabilitar, ter "demolido" património no centro histórico do Porto. No seu discurso, disse que a intervenção da SRU foi "de uma profunda transformação e ampla demolição do Património Mundial". "Demolir um quarteirão mantendo apenas alguns elementos, designadamente fachadas, e construir algo semelhante na forma e na função fazendo desaparecer as marcas das épocas - uma das condições da UNESCO - não é cumprir as regras nacionais e internacionais de defesa do bem", salientou ainda. Numa declaração final do colóquio, o Icomos destaca a importância de a situação não se repetir na reabilitação da zona da Sé, em curso no Porto.
A responsável do Icomos-Portugal defendeu que a intervenção realizada nas Cardosas não correspondeu ao defendido no Plano de Gestão do Centro Histórico enviado em 2009 ao Centro do Património Mundial da UNESCO. Além disso, a comissão consultiva critica o facto de Portugal, enquanto Estado que assinou a ratificação do Património Mundial, não ter informado a Comissão Nacional da UNESCO - que funciona no Ministério dos Negócios Estrangeiros - sobre o início das obras.
Manuel Correia Fernandes, vereador do PS na Câmara do Porto (CMP), esteve no colóquio, onde foi apresentado como vereador do Urbanismo "indigitado". Ao PÚBLICO, sublinhou que o modelo actual de reabilitação "não é a solução" e admitiu "preocupação" com a alusão a "demolições". Ressalvou, porém, que falava apenas na qualidade de arquitecto. "Ainda não fui nomeado vereador do Urbanismo", justificou, apesar de a presidente do Icomos lhe ter dado os parabéns por essas funções, manifestando esperança num "novo ciclo" para a reabilitação urbana no Porto.
O PÚBLICO tentou ouvir o novo presidente da CMP e ex-presidente da SRU, Rui Moreira.
Visita ao Porto ... por António Sérgio Rosa de Carvalho. 03/12/2012
É sempre um grande prazer visitar a Ancestral, Granítica, Patrimonialmente rica e Arquitectónicamente erudita, cidade do Porto.
O potencial Patrimonial, Arquitectónico e Cultural do Porto é fabuloso ... mas os desafios de conservação, o estado de abandono e número de prédios devolutos é assustador ...
Depois de, no passado, se ter desenvolvido uma intervenção exemplar na Zona da Ribeira e Barredo, com atenção para materiais e tipologias, o Porto tem tentado através da SRU Sociedade Porto Vivo, desenvolver uma estratégia global e sistemática de Reabilitação Urbana ...
Mas, os resultados têm sido lentos e com qualidades diversas, além das crises internas ... " "Não tive qualquer contacto dos accionistas", diz Rui Moreira, sobre a saída da SRU. O empresário tomou posse como líder da Porto Vivo em Junho de 2011, mas desde o início deste ano que ameaçava demitir-se, por razões relacionadas com a saúde financeira da sociedade, detida em 60% pelo IHRU e em 40% pela Câmara do Porto. A gota de água que levou o também líder da Associação Comercial do Porto a bater com a porta da SRU foi a substituição do representante do IHRU no conselho de administração da Porto Vivo, sem que lhe tenha sido dado qualquer conhecimento.
Em hora de balanço, Rui Moreira garante que "se fizeram bastantes coisas" no ano e meio que esteve na SRU, apesar de haver demasiados engulhos no caminho. "Confesso que quando aceitei a nomeação para a SRU, ainda pelo anterior Governo [de José Sócrates], esperava poder dedicar o meu tempo à reabilitação urbana e perdi muito tempo a lidar com outras questões", diz."( ... ) "Rui Moreira promete continuar atento à reabilitação urbana, até porque, defende, "ela é a única saída para uma cidade envelhecida como o Porto". Contudo, admite que a política seguida pelo actual Governo não o deixa muito sossegado quanto aos próximos tempos. "A sensação que tenho é de que esta intenção de dizer que a reabilitação é o grande investimento público do país não passa de palavra para inglês ver. Não há essa intenção. A câmara está muito interessada na reabilitação, mas isto não pode ser um investimento e trabalho apenas municipal. E parece-me que há uma tentação do Governo de chutar isto para os municípios", diz. ( in "Saída de Rui Moreira deixa a sociedade Porto Vivo sem presidente, por Patrícia Carvalho in Público)
Sente-se a mesma tendência para o "fachadismo", com união interior de parcelas e lotes e consequente demolição dos mesmos interiores, muitas vezes notáveis ...
E no entanto ... a influência inglesa na erudição dos interiores do prédio típico de habitação Portuense é notável desde os finais do Sec.XVIII e estende-se ao longo de todo o Sec.XIX ... começando pela fabulosas tipologias e traçado das suas janelas e estendendo-se a detalhes da sua Arquitectura de Interiores ...
É por isso que decidi ilustrar os Interiores deste edifício onde residi durante a minha estadia e que foi alvo de uma intervenção por um jovem Arquitecto ... que ilustra o que é a Verdadeira Reabilitação Urbana, que adapta e integra com sensibilidade e sentido de detalhe as necessidades contemporâneas, com grande respeito e cuidado pela características históricas do edifício, e respectiva "Ourivesaria Patromonial"...
Ilustro apenas um quarto onde fiquei e respectivas escadas com clarabóia ... outras salas mais eruditas como as do primeiro andar com portadas neo-clássicas e tectos de estuque trabalhados têm que ser deduzidos destas imagens ...
António Sérgio Rosa de Carvalho
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