terça-feira, 25 de maio de 2021

Estado passa a deter 97,8% da TAP após injecção de 462 milhões // Governo conta que TAP se financie sozinha no mercado em 2023

 


EMPRESAS PÚBLICAS

Estado passa a deter 97,8% da TAP após injecção de 462 milhões

 

Estado passou de deter uma posição directa na transportadora aérea através de um aumento de capital, após a “luz verde” da Comissão Europeia. Privados diluem participação naquele que é o principal activo do grupo.

 

Luís Villalobos

24 de Maio de 2021, 18:10 actualizado a 24 de Maio de 2021, 21:41

https://www.publico.pt/2021/05/24/economia/noticia/estado-passa-deter-92-tap-apos-apoio-462-milhoes-1963846

 

Estado já detinha 72,5% da TAP SGPS

 

O Governo português entregou 462 milhões de euros à TAP, através de um reforço do seu capital social, o que fez com que o Estado passa a deter directamente “cerca de 92%” da transportadora aérea. Na prática, directa e indirectamente, o Estado fica com 97,8% daquele que é o principal activo do grupo TAP, mesmo mantendo os privados a sua posição na holding, a TAP SGPS.

 

Em comunicado, a empresa diz que esta segunda-feira foi “realizado um aumento de capital da TAP, mediante a realização de uma entrada em dinheiro, no montante quatrocentos e sessenta e dois milhões de euros, pela República Portuguesa”, através da Direcção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF), que subscreveu 92.400.000 novas acções da TAP, cada uma com o valor nominal de cinco euros. 

 

Os outros 8%, diz a empresa, continuam a ser detidos directamente pela TAP SGPS (que engloba também empresas como a Portugália ou a participação na Groundforce), onde a Parpública detém 72,5%, cabendo outros 22,5% a Humberto Pedrosa e 5% a trabalhadores e pequenos investidores.

 

O aumento de capital da companhia aérea, que passa a ter o Estado como accionista directo, traduz-se, diz a empresa, “num reforço da estrutura de capitais da TAP e não altera materialmente o controlo exercido sobre a TAP, na medida em que a República Portuguesa detém actualmente, directa e indirectamente, uma participação de 72,5% do capital social da TAP SGPS, o que significa que o beneficiário efectivo da TAP se mantém inalterado”, diz o comunicado.

 

O capital do Estado na holding da TAP é detido através da Parpública, que detém 50%, e da DGTF, que ficou com os 22,5% que estavam nas mãos de David Neeleman, ex-sócio de Humberto Pedrosa.

 

Por parte de Humberto Pedrosa e dos pequenos investidores, estes acabam por diluir fortemente a sua posição naquele que é o principal activo do grupo, ficando o empresário dono da Barraqueiro com 1,8% da TAP SA, indirectamente, cabendo aos pequenos accionistas uma posição de 0,4%. Outros 5,8% são do Estado, chegando assim aos 8% que a TAP SGPS passa a deter na TAP SA.

 

Ao PÚBLICO, fonte oficial do Ministério das Finanças explicou que o passo que foi dado “resulta também da ausência de disponibilidade privada para participar nos aumentos de capital, no tempo e na dimensão indispensáveis para assegurar a continuidade da actividade e garantir o equilíbrio de balanço da empresa”.

 

Os 462 milhões de euros em causa, verba que que as Finanças assumem ser “indispensável para a tesouraria da TAP, SA num momento em que se começa a assistir a uma gradual retoma da procura”, correspondem ao montante de apoio que Bruxelas autorizou em Abril para “compensar a companhia aérea pelos prejuízos sofridos devido ao surto de coronavírus entre 19 de Março e 30 de Junho de 2020”. A vantagem da opção pelo aumento de capital é que a empresa não terá de aumentar o seu endividamento e pagar os juros.

 

Na altura, Margrethe Vestager, vice-presidente executiva da Comissão Europeia e responsável pela política da concorrência, explicou que o auxílio em causa “permitirá a Portugal compensar a TAP pelos prejuízos sofridos em consequência directa das restrições às viagens que Portugal e outros países de destino tiveram de aplicar para limitar a propagação do coronavírus”.

 

No ano passado, a TAP já foi alvo de um empréstimo estatal de 1200 milhões de euros, o que lhe permitiu continuar a voar. A primeira tranche foi entregue a 17 de Julho, e a última a 30 de Dezembro. Só nesse período, a companhia já pagou 10,8 milhões de euros em juros relativos a este empréstimo.

 

Estes 1200 milhões de euros também podem ser convertidos, no todo ou apenas em parte, em capital social. Neste caso, e conforme ficou acordado na sequência da assembleia geral que se realizou em Setembro, o aumento de capital será ao nível da TAP SGPS. A operação poderá ser realizada “por uma ou mais entradas em espécie”, ou seja, pode ser realizada em diversas etapas. Caso isso aconteça, a posição dos privados, se não acompanharem a operação, ficará ainda mais diluída. Sobre esta questão, o Ministério das Finanças diz que qualquer decisão “apenas poderá ser tomada após aprovação do plano de reestruturação por parte da Comissão Europeia”.

 

As necessidades da empresa para este ano rondam os mil milhões de euros, incluindo os 462 milhões que foram agora injectados, e o Governo conta ainda avançar com mais cerca de 500 milhões que deverão assumir a forma de garantias públicas para ajudar a companhia aérea a financiar-se no mercado.

 

Depois, estão contabilizados mais 800 milhões para capitalizar a transportadora em 2022. Ao todo, a verba chega aos 2970 milhões de euros nestes três anos.

 

Para já, neste momento o Governo não prevê mais apoios à TAP em 2023 e 2024, ano em que se prevê que o plano de reestruturação da TAP, entregue em Bruxelas em Dezembro e que aguarda ainda “luz verde”, chegue ao fim. Assim, a expectativa é a de que, “estando adequadamente capitalizada”, a transportadora aérea possa financiar-se por si só a partir do ano que vem. Se assim não for, as ajudas estatais podem chegar aos 3700 milhões de euros no período em causa.

 


EMPRESAS PÚBLICAS

Governo conta que TAP se financie sozinha no mercado em 2023

 

Prevê-se agora 800 milhões para a transportadora aérea em 2022, quando em Dezembro o valor não ia além dos 503 milhões. UTAO fala em “antecipação” das necessidades de financiamento.

 

Luís Villalobos e Sérgio Aníbal

27 de Abril de 2021, 19:39

https://www.publico.pt/2021/04/27/economia/noticia/governo-conta-tap-financie-sozinha-mercado-2023-1960267

 

João Leão diz que o cenário para 2023 está “sujeito à incerteza”

 

O ministro das Finanças, João Leão, afirmou esta terça-feira, no Parlamento, que, para já, não está prevista qualquer verba de apoio à TAP em 2023. A expectativa é a de que, “estando adequadamente capitalizada”, a transportadora aérea possa financiar-se por si só. E isso inclui uma antecipação das verbas previstas, com a transportadora aérea a receber 800 milhões de euros em 2022, quando em Dezembro o valor estimado para esse ano era de 473 a 503 milhões.

 

Até lá, e além dos 1200 milhões de euros já emprestados no ano passado, que “vão ser afectos à capitalização com o plano de reestruturação”, haverá assim 970 milhões este ano, dos quais 500 milhões “em garantias” do Estado e outros 462 milhões vão ser emprestados directamente pelo Estado – e de uma só vez – após um pedido de auxílio intercalar à TAP, que já recebeu autorização de Bruxelas.

 

De acordo com João Leão, há, depois, mais 800 milhões para capitalizar a TAP em 2022. Ao todo, a verba chega aos 2970 milhões de euros (incluindo aqui os 1200 milhões de 2020). No Programa de Estabilidade 2021-25, recentemente apresentado, não está, de facto, qualquer verba inscrita como despesa com a TAP após 2022.

 

O ministro das Finanças frisou, no entanto, que o cenário para 2023 está “sujeito à incerteza”. Ou seja, poderá ainda ser necessário o apoio financeiro do Estado. “De qualquer modo”, acrescentou João Leão, “a partir de 2023 o que poderá estar em causa são empréstimos à empresa, caso ela não consiga obter financiamento no mercado” e não injecções directas.

 

Mais dinheiro em 2022

Uma das hipóteses de financiamento da empresa é através da emissão de obrigações, com ou sem garantias públicas associadas. Por essa altura o Estado, que já é dono de 72,5% da TAP, já deverá ter perto de 100% do capital (após a conversão de parte ou da totalidade dos 1200 milhões em acções).

 

De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, na conferência da TAP que se realizou na sexta-feira e juntou analistas e investidores, a administração afirmou que a estratégia passa por ir ao mercado em 2022, mas nesse caso seria com o apoio adicional de garantias estatais.

 

Em Dezembro, o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, adiantou que a TAP iria precisar de um financiamento entre 3414 milhões e 3725 milhões de euros até 2024. Na altura, frisou, teria de estar preparado “para os piores cenários”, ou seja, a incapacidade de financiamento da TAP no mercado. Na altura, as contas apontavam para 970 milhões a 1164 milhões de euros em 2021, e entre 473 milhões e 503 milhões em 2022. Já em 2023 o valor passava para 379 a 438 milhões, podendo em 2024 a verba ser de 392 a 420 milhões de euros.

 

"Risco orçamental e financeiro"

Assim, há agora uma maior concentração das verbas entre 2020 e 2022 face ao cenário adiantado pelo ministro das Infra-estruturas no final do ano passado. O PÚBLICO questionou o Governo sobre esta questão, aguardando uma resposta.

 

Na sexta-feira, a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) divulgou um relatório sobre o Programa de Estabilidade no qual destaca precisamente que os dados sobre o apoio à transportadora aérea “apontam para a antecipação e a redução das necessidades de financiamento previstas para a TAP quando comparados com as linhas gerais do plano de restruturação anteriormente apresentado”. A redução acontecerá apenas se não houver apoios de 2023 em diante, enquanto que a antecipação se apresenta como certa. 

 

“A incerteza que rodeia a evolução da pandemia de covid-19 e a recuperação económica faz do processo de reestruturação da TAP patrocinado pelo Estado um risco orçamental e financeiro descendente e considerável” para as administrações públicas, diz a UTAO. Os apoios públicos, diz o relatório disponibilizado ao Parlamento, independentemente de serem efectuados através da emissão de garantias, reforço do capital social ou empréstimos, resultarão em impactos anuais negativos no saldo orçamental”.

 

No relatório e contas de 2020 da TAP SA, também divulgado na sexta-feira, o conselho de administração afirmou que a continuidade das operações depende da aprovação do plano de reestruturação que está a ser analisado pela Comissão Europeia, e, também, “da evolução da pandemia covid-19, tendo em consideração o ritmo global de vacinação e o risco de desenvolvimento/aparecimento de variantes associadas à pandemia, nomeadamente quanto ao cenário de eventual agravamento da mesma para além do que se estima no plano de reestruturação que venha a ser aprovado”.

 

Assim, diz a empresa, estes factores “poderão originar a necessidade de obtenção de recursos financeiros adicionais face ao previsto no plano de reestruturação”, o que representa “uma incerteza material que pode colocar dúvidas sobre a capacidade do grupo em manter a continuidade das suas operações”.

 

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