sábado, 29 de maio de 2021

A Albufeira dos ingleses: beber em contra-relógio, sem máscaras e sob o olhar da polícia

 


Enquanto no Reino Unido se restabelecem zonas de lockdown devido à variante indiana do Covid, no Algarve é “sempre a bombar”… Para sábado, o aeroporto de Faro espera 260 voos.

Government advice has emerged urging people not to travel into and out of areas hit by the coronavirus variant first found in India, unless necessary.

The guidance for Kirklees, Bedford, Burnley, Leicester, Hounslow and North Tyneside says people in these areas should try to avoid meeting indoors

https://www.bbc.co.uk/news/uk-england-57232728

 

REPORTAGEM CORONAVÍRUS

A Albufeira dos ingleses: beber em contra-relógio, sem máscaras e sob o olhar da polícia

 

Jovens ingleses fazem filas à porta dos bares da Oura. Os estabelecimento abertos são ainda pouco mais de uma dezena — número reduzido para tanta secura de álcool e liberdade (sem máscara).

 

Idálio Revez

28 de Maio de 2021, 21:37

https://www.publico.pt/2021/05/28/sociedade/reportagem/albufeira-ingleses-beber-contrarelogio-mascaras-olhar-policia-1964530

 

A maioria dos bares de Albufeira ainda não reabriu, mas na rua da Oura já se festeja o regresso à normalidade da noite sem barreiras nem fronteiras. Grupos de jovens ingleses bebem em contra-relógio, como se não houvesse amanhã. Batem as 22h30, chega a polícia municipal e manda encerrar os estabelecimentos, depois entra a GNR e toca a dispersar. Quando a presença da patrulha local não é suficiente, entra em campo a Unidade de Intervenção e tudo muda de figura. “Let’s go”, dizem. Poucas palavras e muita presença parece ser a estratégia da polícia para evitar que os excessos de goles de cerveja deslizem para cenas de batalha campal.

 

A época balnear arranca na próxima semana, mas o “jogo” de força entre turistas e polícia já começou. À medida que o calor aperta, aumenta o relaxamento das medidas anticovid-19. O ambiente torna-se mais leve e há sinais de um Verão à grande e à inglesa. Para sábado, o aeroporto de Faro espera 260 voos.

 

Dos milhares de turistas que saem à noite para se divertirem, contam-se pelos dedos aqueles que ainda se vêem na rua a usar máscara. Os agentes turísticos, depois de tão longo período de paragem, pedem que se carregue no acelerador da economia, permitindo o alargamento do horário de funcionamento das casas comerciais.

 

“O período em que facturamos é de apenas cerca de uma hora e meia — não há tempo para as pessoas conviverem”, lamenta o gerente do bar Legend's, Miguel Duarte, enquanto ergue os braços dentro do estabelecimento, dando a indicação para encerrar a porta, por ordem da polícia municipal. Aproxima-se a carrinha da Unidade de Intervenção e as resistências a cumprir ordens são apenas verbais e de pouca duração. Ao longo da noite, são feitas duas ou três abordagens a jovens por suspeita de consumo de estupefacientes. Uma rapariga foi levada ao posto da GNR.

 

Cá fora, na rua frente ao Legend's, Elizabeth Brown, de vestido curto e saltos altos, protesta: “Sabia que fechava às 22h30, mas passei a maior parte da noite na rua, não havia lugar lá dentro”. Porém, o tempo que terá passado ao balcão, com mais três amigas, foi o suficiente para ingerir álcool ao ponto de quase perder o equilíbrio.

 

Miguel Duarte defende que o “horário [de abertura dos bares] deveria ser alargado, não haveria tanta aglomeração”. Para dar resposta à procura, exemplificou, em vez de ter quatro empregados, alargou para sete o número de pessoas a despachar copos. Depois de ter havido alguma confusão na quarta-feira à noite com dois clientes de um bar que teimavam em não abandonar as instalações depois da ordem de fecho, a GNR  reforçou o dispositivo e a polícia municipal também passou a ser estar no terreno

 

A maioria dos bares da Oura ainda não reabriu, mas aqueles que estão a funcionar — pouco mais de uma dezena — estão a abarrotar. A lotação máxima, na generalidade dos casos, não é cumprida. “Seria melhor para todos mais tempo de funcionamento”, insiste Miguel Duarte, lembrando que o Sol se põe perto das 21h. Logo, o período de animação e convívio que resta fica reduzido a uma hora e meia, menos de metade do tempo de um jogo de futebol.

 

“Ouvimos música, mas não podemos dançar”, diz Isaac, cozinheiro num restaurante de referência de Albufeira. Saiu de capa para “ver o ambiente”, confessa, ficou rendido ao glamour da primeira vaga turística. “Estamos no início, mas acho que vai ser muito interessante”, diz. Guineense de 29 anos, trabalhador da construção civil, Issufi Sanha passeou pela Oura “só para apreciar as modas”. “É tudo muito bonito, só estou em Portugal há dois anos”, conta.

 

Ao fim da rua, antes de se entrar na praia da Oura, Fátima Gomes, tem um tuk-tuk encostado à espera de clientes. “Sou uma mulher do Norte”, apresenta-se, fazendo um comentário: “Albufeira sem os ingleses não é nada.” Após o confinamento, regressou esta semana ao trabalho: “Fiz uma média de oito serviços por dia, ainda muito pouco.” Para a semana, começam as férias dos estudantes no Reino Unido e “a coisa vai animar”.

 

Fátima trabalhou, entre 2004 e 2005, nas cantinas da Universidade de Oxford. “Tiro o chapéu aos ingleses, são muito educados, mas aqueles que aqui encontro são diferentes – chegam cá e isto para eles é o mundo da diversão”. Porém, o hábito de dar de beber aos calores da noite não tem nacionalidade. “O último serviço que fiz hoje foram duas raparigas portuguesas, perdidas de bêbadas — fui deixá-las num apartamento em Montechoro.”

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