Não há dúvida nenhuma que o arquitecto João Mateus desfrutava
de uma relação privilegiada com Manuel Salgado. Ora, este ‘esprit de corps’
destes arquitectos criativos transformaram frequentemente as suas actividades numa ameaça ao Património
Arquitectónico.
OVOODOCORVO
O arquiteto Mateus e a “marquise” de Cristiano
João Villalobos
30.05.2021, 09:00
“Para ganhar
elegância a torre [da Portugália] até devia ser mais alta” disse
provocatoriamente ao ‘Expresso’ em 2019, numa entrevista, o arquiteto José
Mateus. Para desfeita do senhor arquiteto e do seu ateliê ARX (as empresas de
arquitetura são sempre ‘ateliês’ como os das costureiras) a “elegância” viria a
soçobrar perante o bom senso. Depois de um alargado debate público e de
críticas da esquerda à direita, a torre do ‘Portugália Plaza’ que o arquiteto
Mateus dizia não ser uma torre, porque era um prédio em cima de outro, foi
mesmo encurtada em 11 metros na altura.
Habituados a
petições públicas contra as suas visões vanguardistas normalmente ao serviço de
multimilionários como o senhor Claude Berda, da Vanguard Properties, os irmãos
José e Nuno Mateus têm tido muita sorte na sua atividade na capital. Exceto
quando têm azar. Por exemplo, estiveram também no centro de uma outra polémica
em cujo zénite o programa de Ana Leal rumou ao Algarve, para aborrecer o então
vereador Manuel Salgado enquanto este descansava na praia. Uma falta de
respeito. Finda a polémica, a autarquia acabaria em decisão unânime por
declarar nulas as aprovações do projeto de arquitetura, do pedido de
licenciamento de obras e até do pedido de informação prévia. E assim, o
trabalho para o palacete do antigo Museu da Rádio e o seu jardim, na Rua do
Quelhas, saiu das mãos da ARX e passou para as de um rival.
Envolvido na
capital em projetos com nomes tão exaltantes da portugalidade como o Condomínio
‘Jungle Lofts Marvila’, o qual “nasce do traço do arquiteto José Mateus, da
ARX, erguendo-se com linhas modernas e arrojadas”, o arquiteto foi agora e de
novo notícia devido a um outro edifício, de mais singela designação. O
‘Castilho 203’. Outra torre. Mas uma torre de “planta cruciforme”. Isto porque,
diz-nos o próprio: “Nesta forma cruciforme, os topos dos braços da cruz, onde
se abrem varandas e vãos, obedecem a uma métrica que procura afirmar a pertença
à cidade enquanto contexto de edifícios ritmados”.
Cristiano
Ronaldo, pelos vistos, é que não esteve para obedecer à métrica e não foi de
modas. Achou que precisava de um resguardo no terraço pelo qual pagara 7
milhões de euros e vai daí, à revelia da Câmara Municipal de Lisboa segundo
declarações de Fernando Medina, optou por acrescentar uma estrutura metálica,
nada cruciforme mas envidraçada, ao terraço dos Mateus. “Sinto profundo
desprezo” por Cristiano Ronaldo, escreveu José Mateus na sua página do Facebook
em reação à notícia do ‘Correio da Manhã’. O que seguiu foi um fartote, como está
bom de ver e o melhor resumo foi o da ‘Sport Witness’: “Drama in Portugal. Ronaldo bought a €7m penthouse in
Lisbon. On his roof he’s constructed a little glass hut to exercise in. This
has left the architect ‘in shock’, and the local council angry”.
“A little
glass hut”, portanto. Choca-se
com facilidade, o arquiteto José Mateus. No fundo é como os cidadãos lisboetas
que também se chocam “facilmente” com várias das obras dele. Mas em mais
rico.
*Consultor de Comunicação
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