Câmara de Lisboa vai inspeccionar alterações ao
apartamento de Cristiano Ronaldo
Arquitecto do imóvel na Rua Castilho mostrou-se indignado
com a alteração ao seu projecto e anunciou que não vai “assistir parado”.
João Pedro Pincha
e Lusa
28 de Maio de
2021, 10:29
A Câmara de
Lisboa vai inspeccionar o apartamento adquirido por Cristiano Ronaldo para
averiguar se a ‘marquise’ colocada no terraço está legal. Apesar de garantir
que não chegou aos serviços de Urbanismo "qualquer pedido ou autorização
posterior a 2020, solicitando alterações ao projecto desenhado pelo arquitecto
José Mateus”, a autarquia quer fiscalizar primeiro e tirar conclusões depois.
Isso mesmo disse
Fernando Medina à SIC Notícias na quinta-feira à noite, depois de o Correio da
Manhã ter revelado a existência de uma estrutura fechada no último piso da
penthouse que o futebolista comprou na Rua Castilho.
Em resposta ao
PÚBLICO e outros órgãos, a câmara diz que o último pedido de alteração ao
projecto foi feito em Outubro de 2019 e previa, entre outras coisas, “a
alteração do material das guardas das varandas (que passaram de vidro a
serralharia pintada)”. A autarquia diz também que houve uma fiscalização ao
imóvel em Fevereiro de 2020, “não tendo sido proposta a adopção de qualquer
medida.”
O edifício, cuja
construção foi promovida pela Vanguard Properties, recebeu alvará de utilização
em Janeiro deste ano e, de acordo com o Correio da Manhã desta sexta-feira,
Ronaldo assinou a escritura em Fevereiro. O apartamento terá custado mais de
sete milhões de euros.
Em declarações à
SIC Notícias, Fernando Medina disse que “durante a obra foram feitas alterações
ao processo licenciadas pelo município” e que a autarquia “vai inspeccionar o
que está feito” e, mediante o que encontrar, “tudo será regularizado de acordo
com a lei”. “Não sabemos exactamente o que é que está feito, a câmara ainda não
inspeccionou o que está feito, porque a informação que temos é da notícia de um
jornal, não havia nenhuma denúncia relativamente a isso, não tinha havido
nenhuma inspecção”, disse o autarca socialista.
José Mateus, o
arquitecto do edifício 203 Castilho, pronunciou-se na quinta-feira no seu
Facebook sobre o assunto, anunciando que não vai “assistir parado” ao
“desrespeito e à conspurcação de forma ignóbil” daquele edifício “sem ter
cumulativamente a anuência dos arquitectos, dos vizinhos e sem projecto
aprovado” pela autarquia.
Num texto a que
chamou “o autogolo de CR7”, o arquitecto do atelier ARX disse que a sua
admiração por Ronaldo “desmoronou-se num ápice” e prometeu reagir. “Há cultura,
há autorias, há regras, há respeito pelos outros e pelo trabalho dos outros, há
civismo, há princípios que não admito que sejam atropelados. Seja por quem
for.”
Câmara não autorizou "marquise" de CR7 que
indignou arquiteto
Sara Oliveira e
Sofia Cristino
Ontem às 17:40
Foi com nítido
desagrado que o arquiteto José Mateus avaliou a "marquise" no luxuoso
duplex que Cristiano Ronaldo comprou num edifício projetado pelo seu ateliê, em
Lisboa. Descreve as alterações efetuadas pelo craque como "o autogolo de
CR7". A Câmara diz que não recebeu qualquer pedido para a realização da
obra nem queixas.
"A admiração
e respeito que tinha por Cristiano Ronaldo, um atleta exímio e inspirador, um
exemplo para todos que muitas vezes referi perante os meus filhos e alunos,
desmoronou-se num ápice", escreveu José Mateus nas redes sociais.
O arquiteto
acrescentou que o craque "comprou um apartamento no edifício Castilho 203,
cuja arquitetura foi desenhada pela ARX". "Atelier que fundei com o
meu irmão Nuno em 1991 e que baseia o seu trabalho, tal como CR7, numa
dedicação extrema, níveis de exigência altíssimos, trabalho diário
duríssimo", sublinhou.
Por isso,
"assistir ao desrespeito e à conspurcação de forma ignóbil do nosso
trabalho, da nossa arquitetura, sem ter cumulativamente a anuência dos
arquitetos, dos vizinhos e sem projeto aprovado pela CML, construindo à bela
"maneira antiga" uma marquise no coroamento do edifício, é algo a que
não vou assistir parado", declarou.
Contactada pelo
JN, a Câmara de Lisboa confirmou não existir "qualquer pedido ou
autorização posterior a 2020, solicitando alterações ao projeto desenhado pelo
arquiteto José Mateus", adiantando também não ter recebido "qualquer
queixa" a propósito da "marquise". O Executivo de Fernando
Medina notou ainda que "não deixará de fiscalizar as situações reportadas,
através de queixa de cidadãos ou de relatos na imprensa, e de pugnar pelo
cumprimento da legalidade urbanística".
Entretanto, em
declarações a uma televisão, Medina afirmou que "não tinha havido nenhuma
inspeção" anterior à casa, na qual "foram feitas alterações ao
licenciado no município". "Brevemente será feita uma inspeção e a
legalidade será reposta com tranquilidade e normalidade", acrescentou o
autarca.
"Hoje marcou
um autogolo"
José Mateus
parece disposto a ir até às últimas consequências: "há cultura, há
autorias, há regras, há respeito pelos outros e pelo trabalho dos outros, há
civismo, há princípios que não admito que sejam atropelados. Seja por quem
for".
"Inúmeras
vezes vibrei com a arte de CR7, emocionei-me com os seus golos extraordinários.
Hoje marcou um autogolo, aquele que me ficará gravado para sempre, na minha
arquitetura, e sob a forma de um profundo desprezo", concluiu o
responsável pelo projeto arquitetónico original.
Ronaldo comprou a
penthouse por mais de sete milhões, já com várias comodidades incluídos, mas
ainda lhe acrescentou detalhes que estão agora a causar polémica. A
"marquise" da discórdia serve de ginásio, como Georgina mostrou num
vídeo partilhado esta quinta-feira.
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