terça-feira, 25 de maio de 2021

Ryanair prepara novo ataque aos apoios estatais à TAP

 



AVIAÇÃO

Ryanair prepara novo ataque aos apoios estatais à TAP

 

Transportadora aérea irlandesa vai contestar auxílio de 462 milhões de euros à TAP aprovado em Abril pela Comissão Europeia devido aos impactos directos da pandemia.

 

Luís Villalobos

21 de Maio de 2021, 6:08

https://www.publico.pt/2021/05/21/economia/noticia/ryanair-prepara-novo-ataque-apoios-estatais-tap-1963380

 

Apoio de 462 milhões equivale a quase metade das necessidades de financiamento para este ano

 

A Ryanair ganhou a primeira batalha legal contra o apoio de 1200 milhões de euros à TAP junto do Tribunal Geral da União Europeia, e vai avançar também com um recurso da decisão da Comissão Europeia que permite auxiliar a transportadora aérea portuguesa em mais 462 milhões. “Analisaremos e prepararemos o recurso quando a decisão for publicada” oficialmente pela Comissão Europeia, afirmou ao PÚBLICO fonte oficial da Ryanair relativamente à verba autorizada por Bruxelas em Abril.

 

No final do passado mês de Abril, a Comissão Europeia deu “luz verde” a um pedido de auxílio intercalar à TAP no valor de 462 milhões de euros. O apoio tinha sido pedido pelo Governo em Março, e será emprestado de uma só vez.

 

Até à passada terça-feira, no entanto, o dinheiro ainda não tinha sido entregue à TAP, e desconhecem-se ainda as condições associadas, como os juros. Este empréstimo, diz Bruxelas, “pode ser convertido em capital”, à semelhança do que está planeado para os 1200 milhões já aplicados no ano passado.

 

Na altura do anúncio da autorização, Margrethe Vestager, vice-presidente executiva da Comissão Europeia e responsável pela política da concorrência, referiu que o auxílio em causa “permitirá a Portugal compensar a TAP pelos prejuízos sofridos em consequência directa das restrições às viagens que Portugal e outros países de destino tiveram de aplicar para limitar a propagação do coronavírus”.

 

De acordo com o comunicado publicado, e “a fim de garantir que não haverá sobrecompensação”, a medida “prevê que Portugal, até Setembro de 2021, reveja e comunique à Comissão o montante dos prejuízos efectivamente sofridos, na sequência de uma verificação independente baseada nas contas auditadas da empresa”. “Qualquer apoio público recebido pela TAP que exceda os prejuízos efectivamente sofridos terá de ser restituído a Portugal”, alertou a Bruxelas.

 

Estes 462 milhões servem para ajudar a colmatar as necessidades de financiamento da TAP para este ano, enquanto não chega a esperada aprovação da Comissão Europeia ao plano de reestruturação entregue pelo Governo em Dezembro. Só para 2021, o valor das ajudas está estimado em perto de 1000 milhões de euros, faltando depois outros 500 milhões que poderão ser utilizados na forma de garantias públicas para facilitar a angariação de capital no mercado.

 

Ao PÚBLICO, fonte oficial do Ministério das Infra-estruturas já garantiu que, da decisão do Tribunal Geral de anular a decisão da Comissão Europeia que autorizou a ajuda estatal de 1200 milhões à TAP, com efeitos suspensivos, “não há nenhuma consequência sobre aquilo que está a ser negociado com a Comissão Europeia”.

 

Vitórias e derrotas da Ryanair

Esta quarta-feira, a Ryanair teve as suas duas primeiras vitórias contra as ajudas de Estado recebidas por concorrentes na sequência da pandemia, com o Tribunal Geral a considerar que tanto no caso da TAP como da holandesa KLM (mas por diferentes razões) a Comissão Europeia não prestou a necessária fundamentação para autorizar o apoio.

 

Segundo o acórdão, as considerações da Comissão, “não precisam, de modo algum, se as dificuldades do beneficiário lhe eram específicas e não resultavam de uma afectação arbitrária dos custos no âmbito do grupo alegadamente constituído pelo referido beneficiário e os seus accionistas”.

 

“Por outro lado”, sustenta a decisão do tribunal “também não expõem a situação financeira das sociedades accionistas do beneficiário nem a sua eventual capacidade para resolver, mais que não fosse em parte, as dificuldades deste último”.

 

Quando o processo deu entrada, a TAP era ainda controlada pelo consórcio Atlantic Gateway, formado por David Neeleman (via DGN e Azul) e por Humberto Pedrosa (via HPGB), que detinha 45% do capital e a maioria dos direitos económicos. O Estado detinha 50%, mas ficou entretanto com os 22,5% de David Neeleman, passando a controlar a empresa. Os restantes 5% estão com trabalhadores e pequenos accionistas.

 

A Comissão tem agora dois meses para tomar uma nova decisão, período que será alargado se abrir um procedimento formal de exame. Nesse caso, explicou o tribunal “a suspensão manter-se-á durante um período suplementar razoável”.

 

Fonte oficial da Comissão Europeia afirmou ao PÚBLICO que foi tomada nota da decisão do tribunal, e que esta vai ser “analisada cuidadosamente” e será feita uma reflexão sobre os próximos passos.

 

Por parte do Governo, tanto o primeiro-ministro, António Costa, como o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, desvalorizaram a decisão do tribunal geral conhecida na quarta-feira. António Costa disse que, citado pela Lusa, que se Bruxelas precisar do apoio do Governo para tomar a nova decisão, Lisboa está disponível para colaborar. Já Pedro Nuno Santos afirmou não estar preocupado, afirmando que as companhias de bandeira europeias “não sobreviveriam sem auxílio do Estado” no contexto da pandemia.

 

Numa mensagem aos trabalhadores da TAP, o presidente do conselho de administração, Miguel Frasquilho, e o presidente da comissão executiva, Ramiro Sequeira, deram nota da decisão do tribunal, explicando que esta “não terá qualquer impacto imediato no referido auxílio de Estado que foi concedido à TAP”.

 

Ao todo, diz a Ryanair, já foram aplicados cerca de 30 mil milhões de euros em várias companhias aéreas, com destaque para a Air France e para a Lufthansa, mas cuja lista inclui também a açoriana Sata. A Ryanair, que apresentou esta semana um prejuízo anual de 815 milhões de euros (no exercício anterior o lucro foi de 1002 milhões), tem vindo a contestar todos os apoios.

 

O Tribunal Geral já se pronunciou favoravelmente em alguns dos casos como os apoios da Dinamarca e da Suécia à SAS e da Finlândia à Finnair, bem como o auxílio francês (adiando o pagamento de taxas) e da Suécia (via garantias) ao sector, devido aos impactos a pandemia.

 

Em Março, o presidente executivo da Ryanair, Eddie Wilson, afirmou ao PÚBLICO que a empresa ia lutar contra as ajudas de Estado “até às últimas instâncias”. “Estamos a atravessar uma pandemia e há muitos estímulos para vários sectores. E não temos nenhum problema com isso, mas desde que esses apoios sejam entregues às empresas de forma igual, e não porque uma empresa é de um determinado país”, defendeu o gestor.

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