Sindicato Independente dos Médicos reage às palavras de
Costa: “Os médicos do SNS são médicos no SNS, não são médicos em lares”
Bruno Gonçalves
JORNAL I
23/08/2020 15:17
Em causa está um
vídeo divulgado nas redes sociais em que António Costa chama
"cobardes" aos médicos, a propósito do caso do lar de Reguengos de
Monsaraz.
Um vídeo
divulgado nas redes sociais mostra segundos de uma conversa informal entre o
primeiro-ministro e jornalistas do Expresso, ouvindo-se as seguintes palavras
de António Costa: “É que o presidente da ARS mandou para lá os médicos fazerem
o que lhes competia e os gajos, cobardes, não fizeram”.
Em comunicado, o
Sindicato Independente dos Médicos, referiu que “os médicos do SNS são médicos
no SNS, não são médicos em lares, nem para protegerem as costas a amigos
políticos seja de que cor forem”. “A determinação da ARS Alentejo de alocar ao
lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva equipas de médicos do
Agrupamento de Centros de Saúde Alentejo Central e do Hospital Espírito Santo
de Évora estava ferida de ilegalidade face às convenções coletivas de
trabalho”, acrescentou o SIM.
O Expresso já
reagiu também à divulgação do vídeo, através de uma nota da direção, explicando
que o vídeo se refere a “uma recolha de imagens de uma conversa off the record,
privada, do primeiro-ministro com jornalistas do Expresso”. EDIÇÃO SEMANAL
Jornal “Expresso” vai investigar divulgação de conversa
privada com António Costa
Ânia Ataíde 23
Agosto 2020, 13:29
O semanário vai
abrir uma investigação à divulgação da gravação de um vídeo de uma conversa em
off com o primeiro-ministro sobre a resposta dos médicos à pandemia, cujas
declarações diz estarem descontextualizadas.
O semanário
“Expresso” vai investigar a divulgação de uma conversa privada com o
primeiro-ministro, António Costa, que circula nas redes sociais e publicada no
canal do youtube do partido Chega!.
Em causa estão
sete segundos de um vídeo, após a conclusão da entrevista que o Chefe do
Executivo deu ao semanário, publicada no sábado, em off, na qual diz que “o
Presidente da ARS mandou para lá os médicos fazerem o que lhes competia. E os
gajos cobardes não fizeram”.
O “Expresso” já
se demarcou da divulgação ilegal da gravação, cujo conteúdo diz estar
descontextualizado. “Uma gravação amadora de um ecrã de computador, que
reproduz uma recolha de imagens de uma conversa off the record, privada, do
primeiro-ministro com jornalistas do Expresso, foi divulgada nas redes sociais
sem autorização e conhecimento deste jornal”, refere a direção do semanário, na
nota publicada este domingo.
“O Expresso repudia
absolutamente esta divulgação, pela qual não tem responsabilidade”, acrescenta,
salientando que “os sete segundos do vídeo ilegal descontextualizam quer a
entrevista, quer a conversa que o primeiro-ministro teve com o Expresso”.
A direção do
semanário diz ainda que irá desencadear, “de imediato, os procedimentos
internos e externos para apurar o que aconteceu e os responsáveis pelo
sucedido” e “sendo esta gravação amadora ilegal, o Expresso reserva-se ao
direito de desencadear também os imprescindíveis mecanismos jurídicos para
processar os responsáveis pela sua difusão”.
“Tratando-se de
uma conversa já fora do âmbito da entrevista, e apesar de a sua divulgação ter
fugido ao controlo do jornal, a direcção do Expresso lamenta profundamente o
ocorrido e pede, consequentemente, as devidas desculpas ao primeiro-ministro
pela quebra de confiança, ainda que involuntária”, acrescenta.
Manuel Carvalho
EDITORIAL CORONAVÍRUS
Numa democracia nunca há fiscalização a mais
O país ganha por
haver organizações profissionais, sociais ou outras interessadas em averiguar e
fiscalizar o desempenho do Estado. Se há um problema grave em Portugal é a
anomia da sociedade civil e das suas instâncias representativas.
22 de Agosto de
2020, 22:20
https://www.publico.pt/2020/08/22/sociedade/editorial/democracia-ha-fiscalizacao-1928988
As críticas do
primeiro-ministro à Ordem dos Médicos na sequência do relatório devastador
sobre o funcionamento do lar de Reguengos, onde morreram 18 pessoas, merecem
reflexão. Para António Costa, as ordens profissionais “não existem para
fiscalizar o Estado”, mas “para regular o exercício da actividade dos seus
profissionais, ponto”, disse numa entrevista ao Expresso. Logo, o seu empenho
em auditar o que aconteceu em Reguengos é um censurável abuso de poder. Até
porque, de acordo com o primeiro-ministro, “é fácil ficar no nosso consultório
e passar o dia a falar por videoconferência para as televisões”.
Esta visão
restritiva da missão de uma ordem profissional suscita duas discussões. A
primeira é saber se numa democracia existem limites legais ou outros que
condicionem a fiscalização do Estado, do Governo ou do sector social. A segunda
é questionar se uma ordem que representa os médicos tem competências para
verificar se as boas práticas de saúde foram ou não aplicadas num lar. Quanto a
esta questão, o que sabemos é que há algumas fragilidades no relatório
divulgado – quando, por exemplo, se afirma que a autoridade de saúde pública
não visitou o lar sem explicar que o delegado de saúde integra um grupo de
risco relativo à covid-19. Quanto a poder fiscalizar um lar objecto de um
natural alarme social, parece que o Artigo 3.º dos seus estatutos a obriga a
essa missão, quando diz que a Ordem deve “contribuir para a defesa da saúde dos
cidadãos e dos direitos dos doentes”.
O país ganha por
haver organizações profissionais, sociais ou outras interessadas em averiguar e
fiscalizar o desempenho do Estado. Se há um problema grave em Portugal é a
anomia da sociedade civil e das suas instâncias representativas. Sempre que uma
ordem ou uma associação se interessam em indagar sobre o que corre bem ou mal
no país, todos ficamos a ganhar.
Se os resultados
desse interesse são consistentes ou dão origem a conclusões erradas, enviesadas
ou falaciosas, só a posteriori poderemos saber. O que não podemos nem devemos é
tentar condicionar a participação de médicos, advogados ou empresários no
esclarecimento das questões de interesse geral. Notar falhas e denunciar erros
é a melhor forma de fazer com que os problemas se resolvam. Como, de resto,
aconteceu neste caso, com o Governo a ter de fazer o balanço das medidas que
aprovou para os lares e a anunciar o seu reforço. Estamos no tempo em que, como
diz António Costa, devemos evitar “polémicas inúteis”. Discutir um relatório de
médicos que traça um cenário preocupante num lar privado está longe de cair
nessa categoria.
tp.ocilbup@ohlavrac.leunam
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