domingo, 23 de agosto de 2020

Sindicato Independente dos Médicos reage às palavras de Costa: “Os médicos do SNS são médicos no SNS, não são médicos em lares” // Jornal “Expresso” vai investigar divulgação de conversa privada com Costa // Numa democracia nunca há fiscalização a mais

 

Sindicato Independente dos Médicos reage às palavras de Costa: “Os médicos do SNS são médicos no SNS, não são médicos em lares”

 

Bruno Gonçalves

JORNAL I

23/08/2020 15:17

https://ionline.sapo.pt/artigo/706612/sindicato-independente-dos-medicos-reage-as-palavras-de-costa-os-medicos-do-sns-sao-medicos-no-sns-nao-sao-medicos-em-lares-?seccao=Portugal&fbclid=IwAR3iWhK3zhS25ApMXgLN3DTJx_jIssND_n_yxxgZokL3rWyoyQRBkKc4XRA

 

Em causa está um vídeo divulgado nas redes sociais em que António Costa chama "cobardes" aos médicos, a propósito do caso do lar de Reguengos de Monsaraz.

 

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra segundos de uma conversa informal entre o primeiro-ministro e jornalistas do Expresso, ouvindo-se as seguintes palavras de António Costa: “É que o presidente da ARS mandou para lá os médicos fazerem o que lhes competia e os gajos, cobardes, não fizeram”.

 

Em comunicado, o Sindicato Independente dos Médicos, referiu que “os médicos do SNS são médicos no SNS, não são médicos em lares, nem para protegerem as costas a amigos políticos seja de que cor forem”. “A determinação da ARS Alentejo de alocar ao lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva equipas de médicos do Agrupamento de Centros de Saúde Alentejo Central e do Hospital Espírito Santo de Évora estava ferida de ilegalidade face às convenções coletivas de trabalho”, acrescentou o SIM.

 

O Expresso já reagiu também à divulgação do vídeo, através de uma nota da direção, explicando que o vídeo se refere a “uma recolha de imagens de uma conversa off the record, privada, do primeiro-ministro com jornalistas do Expresso”. EDIÇÃO SEMANAL

 

Jornal “Expresso” vai investigar divulgação de conversa privada com António Costa

 

https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/jornal-expresso-vai-investigar-divulgacao-de-conversa-privada-com-antonio-costa-628268

 

Ânia Ataíde 23 Agosto 2020, 13:29

 

O semanário vai abrir uma investigação à divulgação da gravação de um vídeo de uma conversa em off com o primeiro-ministro sobre a resposta dos médicos à pandemia, cujas declarações diz estarem descontextualizadas.

 

O semanário “Expresso” vai investigar a divulgação de uma conversa privada com o primeiro-ministro, António Costa, que circula nas redes sociais e publicada no canal do youtube do partido Chega!.

 

Em causa estão sete segundos de um vídeo, após a conclusão da entrevista que o Chefe do Executivo deu ao semanário, publicada no sábado, em off, na qual diz que “o Presidente da ARS mandou para lá os médicos fazerem o que lhes competia. E os gajos cobardes não fizeram”.

 

O “Expresso” já se demarcou da divulgação ilegal da gravação, cujo conteúdo diz estar descontextualizado. “Uma gravação amadora de um ecrã de computador, que reproduz uma recolha de imagens de uma conversa off the record, privada, do primeiro-ministro com jornalistas do Expresso, foi divulgada nas redes sociais sem autorização e conhecimento deste jornal”, refere a direção do semanário, na nota publicada este domingo.

 

“O Expresso repudia absolutamente esta divulgação, pela qual não tem responsabilidade”, acrescenta, salientando que “os sete segundos do vídeo ilegal descontextualizam quer a entrevista, quer a conversa que o primeiro-ministro teve com o Expresso”.

 

A direção do semanário diz ainda que irá desencadear, “de imediato, os procedimentos internos e externos para apurar o que aconteceu e os responsáveis pelo sucedido” e “sendo esta gravação amadora ilegal, o Expresso reserva-se ao direito de desencadear também os imprescindíveis mecanismos jurídicos para processar os responsáveis pela sua difusão”.

 

“Tratando-se de uma conversa já fora do âmbito da entrevista, e apesar de a sua divulgação ter fugido ao controlo do jornal, a direcção do Expresso lamenta profundamente o ocorrido e pede, consequentemente, as devidas desculpas ao primeiro-ministro pela quebra de confiança, ainda que involuntária”, acrescenta.

 

Manuel Carvalho

EDITORIAL CORONAVÍRUS

Numa democracia nunca há fiscalização a mais

O país ganha por haver organizações profissionais, sociais ou outras interessadas em averiguar e fiscalizar o desempenho do Estado. Se há um problema grave em Portugal é a anomia da sociedade civil e das suas instâncias representativas.

 

22 de Agosto de 2020, 22:20

https://www.publico.pt/2020/08/22/sociedade/editorial/democracia-ha-fiscalizacao-1928988

 

As críticas do primeiro-ministro à Ordem dos Médicos na sequência do relatório devastador sobre o funcionamento do lar de Reguengos, onde morreram 18 pessoas, merecem reflexão. Para António Costa, as ordens profissionais “não existem para fiscalizar o Estado”, mas “para regular o exercício da actividade dos seus profissionais, ponto”, disse numa entrevista ao Expresso. Logo, o seu empenho em auditar o que aconteceu em Reguengos é um censurável abuso de poder. Até porque, de acordo com o primeiro-ministro, “é fácil ficar no nosso consultório e passar o dia a falar por videoconferência para as televisões”.

 

Esta visão restritiva da missão de uma ordem profissional suscita duas discussões. A primeira é saber se numa democracia existem limites legais ou outros que condicionem a fiscalização do Estado, do Governo ou do sector social. A segunda é questionar se uma ordem que representa os médicos tem competências para verificar se as boas práticas de saúde foram ou não aplicadas num lar. Quanto a esta questão, o que sabemos é que há algumas fragilidades no relatório divulgado – quando, por exemplo, se afirma que a autoridade de saúde pública não visitou o lar sem explicar que o delegado de saúde integra um grupo de risco relativo à covid-19. Quanto a poder fiscalizar um lar objecto de um natural alarme social, parece que o Artigo 3.º dos seus estatutos a obriga a essa missão, quando diz que a Ordem deve “contribuir para a defesa da saúde dos cidadãos e dos direitos dos doentes”.

 

O país ganha por haver organizações profissionais, sociais ou outras interessadas em averiguar e fiscalizar o desempenho do Estado. Se há um problema grave em Portugal é a anomia da sociedade civil e das suas instâncias representativas. Sempre que uma ordem ou uma associação se interessam em indagar sobre o que corre bem ou mal no país, todos ficamos a ganhar.

 

Se os resultados desse interesse são consistentes ou dão origem a conclusões erradas, enviesadas ou falaciosas, só a posteriori poderemos saber. O que não podemos nem devemos é tentar condicionar a participação de médicos, advogados ou empresários no esclarecimento das questões de interesse geral. Notar falhas e denunciar erros é a melhor forma de fazer com que os problemas se resolvam. Como, de resto, aconteceu neste caso, com o Governo a ter de fazer o balanço das medidas que aprovou para os lares e a anunciar o seu reforço. Estamos no tempo em que, como diz António Costa, devemos evitar “polémicas inúteis”. Discutir um relatório de médicos que traça um cenário preocupante num lar privado está longe de cair nessa categoria.

 

tp.ocilbup@ohlavrac.leunam

 

 

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