domingo, 30 de agosto de 2020

Está o PCP acima da Lei ou considera-se detentor de uma superioridade ... que é profundamente imoral ? Onde está António Costa quando a DGS não vai divulgar parecer final com regras da Festa do Avante ?

 


FESTA DO AVANTE

DGS não vai divulgar parecer final com regras da Festa do Avante!

 

Autoridades de saúde justificam a demora na análise com a complexidade do evento e dizem que caberá ao PCP divulgar o documento.

 

Sónia Sapage

Sónia Sapage 30 de Agosto de 2020, 21:05

https://www.publico.pt/2020/08/30/politica/noticia/dgs-nao-vai-dilvulgar-parecer-final-regras-festa-avante-1929764

 

A Direcção-Geral da Saúde (DGS) emitiu um comunicado neste domingo à noite no qual reconhece que já entregou à organização da Festa do Avante! o parecer final com as regras a aplicar ao evento, mas acrescenta que não o irá divulgar.

 

“A DGS não divulgará o conteúdo deste parecer, à semelhança de todos os pareceres técnicos entregues até ao momento, cabendo à entidade organizadora fazê-lo, se assim o entender”, lê-se na nota enviada às redacções. Na última quarta-feira, o PCP informou as redacções de que “cabe à DGS dar a conhecer os relatórios, pareceres ou outras reflexões que tenha produzido, esteja a produzir ou venha a produzir”.

 

Poucas dezenas manifestaram-se em Lisboa para “desmascarar Portugal”

A informação do organismo dirigido pela directora-geral da Saúde, Graça Freitas, surgiu horas depois de Marcelo Rebelo de Sousa pressionar as autoridades de saúde, criticando a “indefinição" a menos de uma semana antes de o evento arrancar. “Estamos a cinco dias da realização e não se conhece a posição das autoridades sanitárias sobre as regras" do jogo, disse o Presidente da República a partir do Algarve.

 

 O chefe de Estado considerou que “não é um bom augúrio a esta distância” ainda não se saber como vai decorrer a Festa. “Acho que isto não é bom para ninguém, não é bom para o Estado. No fundo, Direcção-Geral de Saúde significa Estado”, insistiu Marcelo Rebelo de Sousa.

 

“Em 26 de Maio deste ano, quando promulguei a Lei n.º 19/2020 sobre festivais e festas, chamei a atenção para três pontos importantes. Primeiro é que quando as autoridades sanitárias, leia-se DGS, interviessem, interviessem com clareza. A segunda era que o fizessem de forma atempada, para as pessoas conhecerem com antecedência as regras de jogo. E a terceira, era que fosse respeitado o princípio de igualdade. Tinha de se tratar igualmente situações iguais”, continuou o Presidente.

 

A direcção-geral explica agora que “foram realizadas várias reuniões para adequar a organização do evento às medidas de saúde pública” e aponta a “multivariedade da componente social” da festa, “assim como a participação de cidadãos de várias gerações”, para justificar a demora e complexidade na análise do evento.​

 

“Importa destacar que este é um evento com múltiplos espaços e a que se aplicam regras de áreas de restauração, eventos culturais e circulação de pessoas. Na realização de eventos é necessário que estejam assegurados todos os aspectos que permitam salvaguardar não só a saúde dos participantes, mas também da comunidade, como um todo, uma vez que, epidemiologicamente, cada evento comporta riscos”, lê-se no comunicado.

 

A DGS informa ainda que “o parecer final”, que foi entregue este domingo à organização da Festa do Avante!, condensa toda a informação. Até agora, a única coisa que se conhece é o plano de contingência (que é uma espécie de carta de intenções) desenhado pelo PCP para a iniciativa. Aí, é assumido que o evento terá uma lotação máxima de 33 mil pessoas, mas não é claro se os espectáculos terão ou não lugares sentados, por exemplo.

 


São José Almeida

OPINIÃO

 

A superioridade imoral do PCP

 

 O PCP insiste e insiste e insiste em realizar os três dias de Festa do Avante! recorrendo a um absurdo discurso de vitimização.

 

29 de Agosto de 2020, 7:09

https://www.publico.pt/2020/08/29/politica/opiniao/superioridade-imoral-pcp-1929574

 

 A “novela” começou em Maio e tem entretido muitas pessoas desde então, deixando perplexas outras tantas. O PCP tem ocupado o espaço noticioso não com reivindicações políticas de aumentos salariais ou de defesa de direitos dos trabalhadores, não com propostas e exigências de medidas para serem negociadas com o Governo e vertidas no Orçamento do Estado de 2021, nem mesmo com a apresentação de ideias que ajudem a combater a pandemia de covid-19, mas porque insiste e insiste e insiste em realizar a Festa do Avante!.

 

 Contra tudo o que o bom senso indica, ao arrepio do que tem sido o comportamento de quase todos os partidos parlamentares, que praticamente suspenderam comícios, congressos, conferências, universidades de Verão, rentrées, o PCP insiste em viver num mundo à parte em que acha que pode fazer tudo. E tem feito. Aliás, um comportamento que tem sido também o do deputado único e líder do Chega.

 

 Não sei se o PCP acha que o vírus SARS-CoV-2 é reaccionário e, portanto, não há risco de contaminar um verdadeiro comunista. Mas parece-me que o PCP não percebe a imagem que está a passar de si para o país, nem como se está a expor e a dar a ideia de que deixou de ser o partido institucional, responsável, sério e defensor do que entende ser o interesse público e nacional. Desde Maio, o PCP insiste e insiste e insiste em ser excepção, numa tentativa de afirmação que raia o disparate e que irá, muito provavelmente, causar-lhe sérios danos eleitorais. Esperemos que este não seja o último acto de liderança de Jerónimo de Sousa. E pior, ao insistir em manter os três dias de Festa do Avante!, no próximo fim-de-semana, o PCP está a pôr-se a jeito para vir a ser responsabilizado, na opinião pública, por eventuais aumentos de contaminados que se verifiquem em Setembro, mesmo que, por milagre, não haja um contaminado sequer dentro da Quinta da Atalaia.

 

 É certo que há um precedente a que o PCP se agarrou com unhas e dentes e que responsabiliza o Presidente da República e o Governo. Trata-se da autorização, em estado de emergência, para a manifestação do 1.º de Maio da CGTP. É verdade que os direitos políticos não estavam suspensos, apenas o foi o direito à greve. Mas o bom senso aconselhava a que não tivesse sido autorizado. No entanto, realizou-se e foi uma demonstração de poder de rua que ficará na memória do país. Convém, porém, salientar que uma coisa é encher a Alameda Dom Afonso Henriques, em Lisboa, com distância de segurança, de sindicalistas treinados e experientes, outra é querer fazer as Festa do Avante!, achando que conseguem travar os contactos num evento de massas. Isto quando o PCP podia ter dado novo sinal de força, realizando o comício de encerramento da Festa do Avante! nos mesmos moldes que foi celebrado o 1.º de Maio e em que tem feito vários comícios.

 

 E pior, o PCP insiste e insiste e insiste em realizar a Festa do Avante! recorrendo a um absurdo discurso de vitimização, chegando ao ponto de se achar no direito de insultar os outros. Vejamos. Primeiro, em Maio, o secretário-geral, Jerónimo de Sousa, começou por pedir: “Descansem as almas mais inquietas que isso não seria determinante para as nossas opções”, referindo-se à acusação de que mantinham a Festa do Avante! para garantir o financiamento partidário. Quando ela é, de facto, uma importantíssima fonte de receita para o PCP e permite a leitura de que, para este partido, a necessidade de arrecadar receita parece estar acima da preocupação em preservar a saúde pública.

 

 Depois, o PCP atacou o líder do PSD, acusando-o de “má-fé e desonestidade”, porque Rui Rio lembrou o óbvio, os jogos de futebol continuam sem público. Isto para além de as discotecas continuarem sem poder funcionar normalmente e terem sido suspensos os festivais de Verão. E é bom não esquecer que a Festa do Avante! foi precursora deste tipo de eventos em Portugal e contém uma quantidade considerável de espectáculos.

 

Agora, o PCP vê-se a braços com uma providência cautelar, que classificou de “operação antidemocrática contra a liberdade, a cultura e os direitos dos trabalhadores e do povo”. E mantém, há semanas, negociações com a Direcção-Geral da Saúde. Começou por dizer que o evento levava cem mil pessoas por dia, depois anunciou que apontava para 33 mil, para, esta semana, continuar a insistir em que a assistência dos espectáculos possa ficar de pé, quando as regras da DGS apontam para que estejam sentadas. Levando mesmo Graça Freitas a reconhecer, na quarta-feira, que há uma real preocupação em evitar “aglomerados de pessoas”.

 

 A soberba com que o PCP está a insistir e a insistir e a insistir na Festa do Avante! faz lembrar um livro inigualável na capacidade de autoconvencimento e megalomania, escrito por Álvaro Cunhal, A Superioridade Moral dos Comunistas. Só que pelos piores motivos, que provavelmente Álvaro Cunhal não subscreveria. A pandemia está a revelar a superioridade imoral do PCP.

 

 P.S. – A Semana Política regressa a 3 de Outubro.

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