FESTA DO AVANTE
DGS não vai divulgar parecer final com regras da Festa do
Avante!
Autoridades de saúde justificam a demora na análise com a
complexidade do evento e dizem que caberá ao PCP divulgar o documento.
Sónia Sapage
Sónia Sapage 30
de Agosto de 2020, 21:05
A Direcção-Geral
da Saúde (DGS) emitiu um comunicado neste domingo à noite no qual reconhece que
já entregou à organização da Festa do Avante! o parecer final com as regras a
aplicar ao evento, mas acrescenta que não o irá divulgar.
“A DGS não
divulgará o conteúdo deste parecer, à semelhança de todos os pareceres técnicos
entregues até ao momento, cabendo à entidade organizadora fazê-lo, se assim o
entender”, lê-se na nota enviada às redacções. Na última quarta-feira, o PCP
informou as redacções de que “cabe à DGS dar a conhecer os relatórios,
pareceres ou outras reflexões que tenha produzido, esteja a produzir ou venha a
produzir”.
Poucas dezenas
manifestaram-se em Lisboa para “desmascarar Portugal”
A informação do
organismo dirigido pela directora-geral da Saúde, Graça Freitas, surgiu horas
depois de Marcelo Rebelo de Sousa pressionar as autoridades de saúde,
criticando a “indefinição" a menos de uma semana antes de o evento
arrancar. “Estamos a cinco dias da realização e não se conhece a posição das
autoridades sanitárias sobre as regras" do jogo, disse o Presidente da
República a partir do Algarve.
“Em 26 de Maio
deste ano, quando promulguei a Lei n.º 19/2020 sobre festivais e festas, chamei
a atenção para três pontos importantes. Primeiro é que quando as autoridades
sanitárias, leia-se DGS, interviessem, interviessem com clareza. A segunda era
que o fizessem de forma atempada, para as pessoas conhecerem com antecedência
as regras de jogo. E a terceira, era que fosse respeitado o princípio de
igualdade. Tinha de se tratar igualmente situações iguais”, continuou o
Presidente.
A direcção-geral
explica agora que “foram realizadas várias reuniões para adequar a organização
do evento às medidas de saúde pública” e aponta a “multivariedade da componente
social” da festa, “assim como a participação de cidadãos de várias gerações”,
para justificar a demora e complexidade na análise do evento.
“Importa destacar
que este é um evento com múltiplos espaços e a que se aplicam regras de áreas
de restauração, eventos culturais e circulação de pessoas. Na realização de
eventos é necessário que estejam assegurados todos os aspectos que permitam
salvaguardar não só a saúde dos participantes, mas também da comunidade, como
um todo, uma vez que, epidemiologicamente, cada evento comporta riscos”, lê-se
no comunicado.
A DGS informa
ainda que “o parecer final”, que foi entregue este domingo à organização da
Festa do Avante!, condensa toda a informação. Até agora, a única coisa que se
conhece é o plano de contingência (que é uma espécie de carta de intenções)
desenhado pelo PCP para a iniciativa. Aí, é assumido que o evento terá uma
lotação máxima de 33 mil pessoas, mas não é claro se os espectáculos terão ou
não lugares sentados, por exemplo.
São José Almeida
OPINIÃO
A superioridade imoral do PCP
O PCP insiste e
insiste e insiste em realizar os três dias de Festa do Avante! recorrendo a um
absurdo discurso de vitimização.
29 de Agosto de
2020, 7:09
https://www.publico.pt/2020/08/29/politica/opiniao/superioridade-imoral-pcp-1929574
A “novela” começou em Maio e tem entretido
muitas pessoas desde então, deixando perplexas outras tantas. O PCP tem ocupado
o espaço noticioso não com reivindicações políticas de aumentos salariais ou de
defesa de direitos dos trabalhadores, não com propostas e exigências de medidas
para serem negociadas com o Governo e vertidas no Orçamento do Estado de 2021,
nem mesmo com a apresentação de ideias que ajudem a combater a pandemia de
covid-19, mas porque insiste e insiste e insiste em realizar a Festa do
Avante!.
Contra tudo o que o bom senso indica, ao
arrepio do que tem sido o comportamento de quase todos os partidos
parlamentares, que praticamente suspenderam comícios, congressos, conferências,
universidades de Verão, rentrées, o PCP insiste em viver num mundo à parte em
que acha que pode fazer tudo. E tem feito. Aliás, um comportamento que tem sido
também o do deputado único e líder do Chega.
Não sei se o PCP acha que o vírus SARS-CoV-2 é
reaccionário e, portanto, não há risco de contaminar um verdadeiro comunista.
Mas parece-me que o PCP não percebe a imagem que está a passar de si para o
país, nem como se está a expor e a dar a ideia de que deixou de ser o partido
institucional, responsável, sério e defensor do que entende ser o interesse
público e nacional. Desde Maio, o PCP insiste e insiste e insiste em ser
excepção, numa tentativa de afirmação que raia o disparate e que irá, muito
provavelmente, causar-lhe sérios danos eleitorais. Esperemos que este não seja
o último acto de liderança de Jerónimo de Sousa. E pior, ao insistir em manter
os três dias de Festa do Avante!, no próximo fim-de-semana, o PCP está a pôr-se
a jeito para vir a ser responsabilizado, na opinião pública, por eventuais
aumentos de contaminados que se verifiquem em Setembro, mesmo que, por milagre,
não haja um contaminado sequer dentro da Quinta da Atalaia.
É certo que há um precedente a que o PCP se
agarrou com unhas e dentes e que responsabiliza o Presidente da República e o
Governo. Trata-se da autorização, em estado de emergência, para a manifestação
do 1.º de Maio da CGTP. É verdade que os direitos políticos não estavam
suspensos, apenas o foi o direito à greve. Mas o bom senso aconselhava a que
não tivesse sido autorizado. No entanto, realizou-se e foi uma demonstração de
poder de rua que ficará na memória do país. Convém, porém, salientar que uma
coisa é encher a Alameda Dom Afonso Henriques, em Lisboa, com distância de
segurança, de sindicalistas treinados e experientes, outra é querer fazer as
Festa do Avante!, achando que conseguem travar os contactos num evento de
massas. Isto quando o PCP podia ter dado novo sinal de força, realizando o
comício de encerramento da Festa do Avante! nos mesmos moldes que foi celebrado
o 1.º de Maio e em que tem feito vários comícios.
E pior, o PCP insiste e insiste e insiste em
realizar a Festa do Avante! recorrendo a um absurdo discurso de vitimização,
chegando ao ponto de se achar no direito de insultar os outros. Vejamos.
Primeiro, em Maio, o secretário-geral, Jerónimo de Sousa, começou por pedir:
“Descansem as almas mais inquietas que isso não seria determinante para as
nossas opções”, referindo-se à acusação de que mantinham a Festa do Avante!
para garantir o financiamento partidário. Quando ela é, de facto, uma
importantíssima fonte de receita para o PCP e permite a leitura de que, para
este partido, a necessidade de arrecadar receita parece estar acima da
preocupação em preservar a saúde pública.
Depois, o PCP atacou o líder do PSD,
acusando-o de “má-fé e desonestidade”, porque Rui Rio lembrou o óbvio, os jogos
de futebol continuam sem público. Isto para além de as discotecas continuarem
sem poder funcionar normalmente e terem sido suspensos os festivais de Verão. E
é bom não esquecer que a Festa do Avante! foi precursora deste tipo de eventos
em Portugal e contém uma quantidade considerável de espectáculos.
Agora, o PCP
vê-se a braços com uma providência cautelar, que classificou de “operação antidemocrática
contra a liberdade, a cultura e os direitos dos trabalhadores e do povo”. E
mantém, há semanas, negociações com a Direcção-Geral da Saúde. Começou por
dizer que o evento levava cem mil pessoas por dia, depois anunciou que apontava
para 33 mil, para, esta semana, continuar a insistir em que a assistência dos
espectáculos possa ficar de pé, quando as regras da DGS apontam para que
estejam sentadas. Levando mesmo Graça Freitas a reconhecer, na quarta-feira,
que há uma real preocupação em evitar “aglomerados de pessoas”.
A soberba com que o PCP está a insistir e a
insistir e a insistir na Festa do Avante! faz lembrar um livro inigualável na
capacidade de autoconvencimento e megalomania, escrito por Álvaro Cunhal, A
Superioridade Moral dos Comunistas. Só que pelos piores motivos, que
provavelmente Álvaro Cunhal não subscreveria. A pandemia está a revelar a
superioridade imoral do PCP.
P.S. – A Semana Política regressa a 3 de
Outubro.
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