São José Almeida
OPINIÃO
A superioridade imoral do PCP
O PCP insiste e insiste e insiste em realizar os três
dias de Festa do Avante! recorrendo a um absurdo discurso de vitimização.
29 de Agosto de
2020, 7:09
https://www.publico.pt/2020/08/29/politica/opiniao/superioridade-imoral-pcp-1929574
A “novela”
começou em Maio e tem entretido muitas pessoas desde então, deixando perplexas
outras tantas. O PCP tem ocupado o espaço noticioso não com reivindicações
políticas de aumentos salariais ou de defesa de direitos dos trabalhadores, não
com propostas e exigências de medidas para serem negociadas com o Governo e
vertidas no Orçamento do Estado de 2021, nem mesmo com a apresentação de ideias
que ajudem a combater a pandemia de covid-19, mas porque insiste e insiste e
insiste em realizar a Festa do Avante!.
Contra tudo o que
o bom senso indica, ao arrepio do que tem sido o comportamento de quase todos
os partidos parlamentares, que praticamente suspenderam comícios, congressos,
conferências, universidades de Verão, rentrées, o PCP insiste em viver num
mundo à parte em que acha que pode fazer tudo. E tem feito. Aliás, um
comportamento que tem sido também o do deputado único e líder do Chega.
Não sei se o PCP
acha que o vírus SARS-CoV-2 é reaccionário e, portanto, não há risco de
contaminar um verdadeiro comunista. Mas parece-me que o PCP não percebe a
imagem que está a passar de si para o país, nem como se está a expor e a dar a
ideia de que deixou de ser o partido institucional, responsável, sério e
defensor do que entende ser o interesse público e nacional. Desde Maio, o PCP
insiste e insiste e insiste em ser excepção, numa tentativa de afirmação que
raia o disparate e que irá, muito provavelmente, causar-lhe sérios danos
eleitorais. Esperemos que este não seja o último acto de liderança de Jerónimo
de Sousa. E pior, ao insistir em manter os três dias de Festa do Avante!, no
próximo fim-de-semana, o PCP está a pôr-se a jeito para vir a ser responsabilizado,
na opinião pública, por eventuais aumentos de contaminados que se verifiquem em
Setembro, mesmo que, por milagre, não haja um contaminado sequer dentro da
Quinta da Atalaia.
É certo que há um
precedente a que o PCP se agarrou com unhas e dentes e que responsabiliza o
Presidente da República e o Governo. Trata-se da autorização, em estado de
emergência, para a manifestação do 1.º de Maio da CGTP. É verdade que os
direitos políticos não estavam suspensos, apenas o foi o direito à greve. Mas o
bom senso aconselhava a que não tivesse sido autorizado. No entanto,
realizou-se e foi uma demonstração de poder de rua que ficará na memória do
país. Convém, porém, salientar que uma coisa é encher a Alameda Dom Afonso
Henriques, em Lisboa, com distância de segurança, de sindicalistas treinados e
experientes, outra é querer fazer as Festa do Avante!, achando que conseguem
travar os contactos num evento de massas. Isto quando o PCP podia ter dado novo
sinal de força, realizando o comício de encerramento da Festa do Avante! nos
mesmos moldes que foi celebrado o 1.º de Maio e em que tem feito vários
comícios.
E pior, o PCP
insiste e insiste e insiste em realizar a Festa do Avante! recorrendo a um
absurdo discurso de vitimização, chegando ao ponto de se achar no direito de
insultar os outros. Vejamos. Primeiro, em Maio, o secretário-geral, Jerónimo de
Sousa, começou por pedir: “Descansem as almas mais inquietas que isso não seria
determinante para as nossas opções”, referindo-se à acusação de que mantinham a
Festa do Avante! para garantir o financiamento partidário. Quando ela é, de
facto, uma importantíssima fonte de receita para o PCP e permite a leitura de
que, para este partido, a necessidade de arrecadar receita parece estar acima
da preocupação em preservar a saúde pública.
Depois, o PCP
atacou o líder do PSD, acusando-o de “má-fé e desonestidade”, porque Rui Rio
lembrou o óbvio, os jogos de futebol continuam sem público. Isto para além de
as discotecas continuarem sem poder funcionar normalmente e terem sido
suspensos os festivais de Verão. E é bom não esquecer que a Festa do Avante!
foi precursora deste tipo de eventos em Portugal e contém uma quantidade
considerável de espectáculos.
Agora, o PCP
vê-se a braços com uma providência cautelar, que classificou de “operação
antidemocrática contra a liberdade, a cultura e os direitos dos trabalhadores e
do povo”. E mantém, há semanas, negociações com a Direcção-Geral da Saúde.
Começou por dizer que o evento levava cem mil pessoas por dia, depois anunciou
que apontava para 33 mil, para, esta semana, continuar a insistir em que a
assistência dos espectáculos possa ficar de pé, quando as regras da DGS apontam
para que estejam sentadas. Levando mesmo Graça Freitas a reconhecer, na
quarta-feira, que há uma real preocupação em evitar “aglomerados de pessoas”.
A soberba com que
o PCP está a insistir e a insistir e a insistir na Festa do Avante! faz lembrar
um livro inigualável na capacidade de autoconvencimento e megalomania, escrito
por Álvaro Cunhal, A Superioridade Moral dos Comunistas. Só que pelos piores
motivos, que provavelmente Álvaro Cunhal não subscreveria. A pandemia está a
revelar a superioridade imoral do PCP.
P.S. – A Semana
Política regressa a 3 de Outubro.
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