Concertos, comícios e campismo: o que muda na Festa do
Avante!
Inicialmente, o PCP não previa reduzir a lotação total de
100 mil visitantes para a Festa do Avante!. Esta segunda-feira passou a menos
de 17 mil. Mas há mais mudanças.
Liliana Borges
Liliana Borges 31
de Agosto de 2020, 20:40
Depois de um
ziguezague entre a Direcção-Geral da Saúde e a organização da Festa do Avante!
foram conhecidas esta segunda-feira as normas de segurança que orientarão o
festival comunista no próximo fim-de-semana. Mais área útil e menos liberdade
de circulação são as novidades do evento, que não irá impor o uso obrigatório
de máscara à excepção de pontos de venda e acesso a serviços, nomeadamente
casas de banho. O campismo também terá limitações, mas ainda não são
conhecidas. O Espaço Criança e as actividades desportivas são duas das
ausências desta 44.ª edição. O PÚBLICO reuniu as principais diferenças que os
visitantes podem esperar.
Lotação máxima de
16.563 pessoas e álcool proibido depois das 20h. DGS revela indicações para a
Festa do Avante!
Este ano:
O recinto da
Festa conta com vias de circulação formalizadas com asfalto, num total de 5,2
km, com largura entre os 6 e os 16 metros que terão sinalização vertical e
horizontal para evitar o cruzamento de pessoas;
A DGS recomenda a
lotação máxima de 16.563 (e de uma pessoa por cada 8m² em espaços abertos). O
PCP, que tinha anunciado uma redução de 100 mil para 33 mil participantes não
com se pronunciou sobre o número máximo de visitantes em simultâneo sugerido
pela DGS, mas garante que a lotação respeitará o limite de uma pessoa por 8m²
de área disponível.
Abertura do
recinto:
Este ano: Para
evitar aglomerações nas entradas, as portas abrirão, para os visitantes, às
16h.
Acampamento
Em edições
anteriores:
O acampamento
realizou-se no Parque do Serrado;
A pré-inscrição
para o acampamento era obrigatória para autocaravanas e caravanas por razões de
lotação;
Sem informação
sobre distância entre tendas.
Este ano:
As tendas deverão
ser instaladas nos locais a indicar pela organização e reservar dois metros de
distância entre si;
As autocaravanas,
caravanas, atrelados e viaturas equiparadas são instaladas em espaço próprio
com distanciamento de três metros;
A máscara não é
obrigatória (apenas no acesso aos sanitários e no bar de apoio), mas
recomendada. A utilização da máscara em recinto aberto é obrigatória no acesso
aos sanitários e no bar de apoio;
PCP diz que a
lotação de campistas irá ser limitada, mas não esclarece quanto.
Debates e
comícios
Em edições
anteriores: No último ano, a Festa contou mais de cinco dezenas de debates e
comícios.
Espectáculos
Em edições
anteriores:
No total existiam
dez palcos ao longo do recinto;
As plateias ao ar
livre não tinham limitação;
Os concertos
podiam ser assistidos em pé;
Permitido beber
álcool.
Este ano:
As plateias
passam a estar delimitadas a uma área de espectáculo (que aumenta para garantir
o distanciamento);
Os lugares deixam
de ser em pé e passam todos a ser sentados;
As cadeiras serão
higienizadas após cada utilização;
Haverá marcação
de lugares com a colocação generalizada de cadeiras, afastadas dois metros em
si (excepto no caso de participantes que coabitam):
A circulação será
feita por um só sentido;
Área do recinto
da plateia: Palco 25 de Abril terá uma plateia de 16000m², o Auditório 1º de
Maio terá cerca de 5000m², o Palco Paz 2000m²;
O teatro e cinema
(Avanteatro e o Cineavante) passam a ser ao ar livre;
Não será
permitido o consumo de bebidas alcoólicas nos recintos do espectáculo;
É criada a função
de assistente de plateia, que irá intervir sempre que existam aglomerados.
Desporto
Em edições
anteriores:
Este ano:
Exposições
Em edições
anteriores:
As exposições não
eram controladas à entrada;
Existiam
equipamentos interactivos;
Este ano:
Haverá limitação
do número de visitantes;
Número de paredes
diminui 40%
As exposições são
dispostas em circuitos lineares, com entrada e saída e controlo de entrada
assegurado pela organização;
Não existirão
equipamentos interactivos por serem de uso comum e toque frequente;
Uso de máscara é
obrigatório.
Espaço criança
Anos anteriores:
Este ano:
Haverá espaços de
conto de histórias, peças com marionetas e fantoches, ateliers, gincanas,
teatro;
Será instalado um
carrossel de pequenas dimensões e será assegurada a sua higienização após cada
utilização.
Restauração
Anos anteriores:
Podia ser
consumido álcool a qualquer hora;
Este ano:
As refeições
serão consumidas exclusivamente em esplanadas (e não ao balcão);
A venda de álcool
é proibida depois das 20h, à excepção se for para acompanhar uma refeição;
O acesso aos
balcões para pré-pagamento deve ser feito de máscara e preferencialmente com
cartão bancário contactless (para dispensar o toque);
OPINIÃO
Costa e a festa do Avante!: é “cúmplice” e é responsável
A autorização da Festa do Avante é um enorme acto de
desrespeito e de desprezo por todos os cidadãos.
PAULO RANGEL
1 de Setembro de
2020, 0:42
https://www.publico.pt/2020/09/01/opiniao/opiniao/costa-festa-avante-cumplice-responsavel-1929878
1. A autorização da realização da Festa do
Avante!, nos exactos moldes em que vai ter lugar, é um acto de desrespeito e de
desprezo pelo povo português. Nem mais nem menos: desrespeito e desprezo.
Primeiro, por parte do PCP, que não tem a decência nem a sensibilidade para
abdicar, por uma vez, num contexto verdadeiramente excepcional, de uma das suas
iniciativas emblemáticas. E depois, por parte do Governo e do primeiro-ministro
Costa, que, do alto da sua arrogância e por razões obscuras, permitem ao PCP o
que não autorizam a mais ninguém.
2. A concentração
de dezenas de milhares de pessoas, num mesmo espaço e nesta precisa altura, é,
antes do mais, uma ameaça colossal à saúde pública. Se não pode haver festivais
de música nem concertos, se não pode haver público nos estádios de futebol, se
se cancelaram festas e romarias por todo o país, mesmo quando os seus
potenciais organizadores ofereciam garantias razoáveis de segurança, por que
razão pode ter lugar um evento que em nada se distingue deles? E que, aliás,
até associa e junta características de todos eles? O risco de surtos é por
demais evidente. E é um risco com uma enorme probabilidade de disseminação
nacional, já que os militantes e os participantes vêm de todo o país e
regressarão ao país todo. O risco de efeito multiplicador é sério. Diante desta
evidência, não há ninguém que compreenda porque temos de suportar este risco
exponencial.
Mesmo que tudo
corra pelo melhor e, por milagre, nada aconteça, os efeitos sobre a imagem de
Portugal são altamente prejudiciais.
3. Mesmo que tudo
corra pelo melhor e, por milagre, nada aconteça, os efeitos sobre a imagem de
Portugal são altamente prejudiciais. O Governo e, designadamente, o ministro
dos Negócios Estrangeiros, a dado momento, andaram a fazer uma triste figura
por causa dos gravíssimos prejuízos que o condicionamento de fronteiras trouxe
ao nosso turismo. Alimentaram novelas e teorias da conspiração, que a realidade
se encarregou de desmentir. Quando os nossos pérfidos competidores passaram a
números vermelhos, afinal também levaram com fecho e condicionamento de
fronteiras (os casos da Espanha e da Grécia, em menor grau, falam por si). E
assim que Portugal melhorou os seus números, as condicionantes foram
levantadas. Agora, pergunta-se: como verão os nossos mercados potenciais a
autorização de um enorme festival às portas de Lisboa (que foi precisamente a
área mais visada pelas restrições e que tem o nosso maior aeroporto)? Como é
que o mesmo Governo que se dizia altamente preocupado com o turismo autoriza um
evento de massas que nos causará um brutal dano reputacional? Que imagem dá do
país aos mercados turísticos a organização de uma festa bombástica com a
chancela do Governo português? Será que Costa e os seus ministros pensaram nos
efeitos sobre o turismo no mês de Setembro?
4. Mas ainda que
não saia um único infectado deste insalubre festival e ainda que não se perca
com ele um só turista, haverá sempre desrespeito e desprezo pelos portugueses.
Autorizar a infausta Festa do Avante! é fazer tábua rasa do sacrifício que
estão a fazer e por que estão a passar os artistas, os técnicos, as empresas de
eventos e todas os sectores de actividade que lhes estão associados. Muitos
desses trabalhadores já estão ou estarão em breve sem emprego, muitas dessas
empresas já estão ou estarão dentro de pouco em insolvência. O sacrifício de
toda esta gente foi feito – está a ser feito – em nome de um bem maior: a
saúde. Mas, para o PCP e para a sua corte, não há proibições nem sacrifícios. O
Governo, sabe-se lá a troco de quê, autoriza e ainda põe recursos ao serviço de
uma festa de excepção. Sim, impressiona a quantidade de recursos que a
Direcção-Geral de Saúde afectou à organização deste evento particular do PCP.
Quando a Direcção-Geral de Saúde devia estar focada e concentrada no começo do
ano lectivo, andou a desperdiçar recursos para planear um evento festivaleiro,
que representará, ainda assim e sempre, um enorme risco sanitário. O PCP devia
pagar ao Estado todo o dispêndio de recursos com o planeamento da sua
festividade.
5. O Governo e o
primeiro-ministro não têm desculpas nem escapatórias: são cúmplices e são
responsáveis pela Festa do Avante!. O PCP só pode organizar as coisas como está
a organizar porque conta com o apoio político directo de António Costa. Esta
atitude surpreendente e incompreensível do primeiro-ministro mostra algo que se
tem tornado cada vez mais notório e evidente. António Costa já “descolou” do sentir
e da sensibilidade do povo português. Se muito poucos simpatizaram com a sua
sanha contra os médicos, não há ninguém que não esteja indignado com o
privilégio dado ao PCP. Na rua, os portugueses estão indignados com esta
ligeireza e leviandade. E mais ainda com o duplo critério e o duplo padrão de
Costa, do Governo e do PS. Senhor primeiro-ministro: “Com a saúde não se
brinca.” Eis um dito popular de que, não tarda muito, Costa se vai lembrar.
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