segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Concertos, comícios e campismo: o que muda na Festa do Avante! // Costa e a festa do Avante!: é “cúmplice” e é responsável

 

DGS reconhece “risco real” de contágios na Festa do Avante!

31.08.2020 14:06 por Mariana Branco

Direção-Geral da Saúde divulgou esta segunda-feira o Parecer Técnico do evento.

 https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/dgs-reconhece-risco-real-de-contagios-na-festa-do-avante?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=cruzados&utm_content=CM&fbclid=IwAR3VBPlzrEE5zflh2Y53JWfxKl7trnGakcK4YK-xmbz9oZ1-hVXvhfseaow

 

A menos de uma semana da realização da Festa do Avante! a Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgou o Parecer Técnico do evento. No documento, reconhece que existe um "risco real" de contágio: "No contexto atual da epidemia em Portugal e, em particular, na AML, em situação de contingência, verifica-se, pois, um risco real de que, durante o evento, circulem pessoas infetadas, com ou sem sintomas", lê-se no parecer enviado às redações.

 

Parecer da DGS é mais exigente com Festa do Avante! do que com outras iniciativas, diz PCP

Parecer da DGS é mais exigente com Festa do Avante! do que com outras iniciativas, diz PCP"A tipologia do evento acarreta diferentes riscos, não só pelo número de participantes mas também pelas caraterísticas, comportamento esperado, local do evento, duração, atividades disponíveis, circuitos de circulação de pessoas, situação epidémica, entre outros múltiplos critérios", refere o documento.

 

De forma a minimizar os riscos de contágio, a DGS considera que o recinto só pode receber 16.563 pessoas em simultâneo - quase metade do número anunciado anteriormente pelo PCP (33 mil).

 

Já o uso de máscara é recomendado a todas as pessoas com mais de dez anos e em todo o recinto. "Com base na aplicação do princípio da precaução em saúde pública e como medida de proteção adicional às referidas na alínea e, recomenda-se o uso de máscara por todas as pessoas com idade superior a dez (10) anos, em todo o recinto, incluindo os espaços destinados a atividades específicas, durante todo o tempo que neles permaneçam, com exceção das regras aplicáveis aos espaços de restauração e similares", pode ler-se.

O consumo de álcool após as 20h00 está proibido, excluindo se for consumido durante a refeição.

 

Também contrariando o PCP, a DGS define que os espaços destinados a espetáculos devem ter lugares sentados: "Os espaços destinados a espetáculos devem estar organizados em plateia, com lugares sentados, cumprindo a lotação e ocupação mencionadas" no parecer.

 

Questionado sobre a decisão da DGS de divulgar o parecer - após ter sido anunciado no domingo que não iria divulgar o conteúdo da versão final do parecer técnico e que esta decisão caberia ao PCP -, o secretário de Estado da Saúde defendeu que o Avante! "adquiriu um caráter excecional do ponto de vista social e mediático". "Não existe qualquer tipo de discriminação, nem positiva nem negativa, porque as competências da DGS são técnico-normativas", salientou António Lacerda Sales em conferência de imprensa. E a diretora-geral da Saúde ressalvou: "Antes da divulgação recolhemos a concordância da respetiva organização para não criar qualquer tipo de precedente".

 

   


Concertos, comícios e campismo: o que muda na Festa do Avante!

 

Inicialmente, o PCP não previa reduzir a lotação total de 100 mil visitantes para a Festa do Avante!. Esta segunda-feira passou a menos de 17 mil. Mas há mais mudanças.

 

Liliana Borges

Liliana Borges 31 de Agosto de 2020, 20:40

https://www.publico.pt/2020/08/31/politica/noticia/concertos-comicios-campismo-muda-festa-avante-1929874

 

Depois de um ziguezague entre a Direcção-Geral da Saúde e a organização da Festa do Avante! foram conhecidas esta segunda-feira as normas de segurança que orientarão o festival comunista no próximo fim-de-semana. Mais área útil e menos liberdade de circulação são as novidades do evento, que não irá impor o uso obrigatório de máscara à excepção de pontos de venda e acesso a serviços, nomeadamente casas de banho. O campismo também terá limitações, mas ainda não são conhecidas. O Espaço Criança e as actividades desportivas são duas das ausências desta 44.ª edição. O PÚBLICO reuniu as principais diferenças que os visitantes podem esperar.

 

Lotação máxima de 16.563 pessoas e álcool proibido depois das 20h. DGS revela indicações para a Festa do Avante!

 

Este ano:

 A área total cresceu 10 000 m2, para 300 000 m2;

O recinto da Festa conta com vias de circulação formalizadas com asfalto, num total de 5,2 km, com largura entre os 6 e os 16 metros que terão sinalização vertical e horizontal para evitar o cruzamento de pessoas;

A DGS recomenda a lotação máxima de 16.563 (e de uma pessoa por cada 8m² em espaços abertos). O PCP, que tinha anunciado uma redução de 100 mil para 33 mil participantes não com se pronunciou sobre o número máximo de visitantes em simultâneo sugerido pela DGS, mas garante que a lotação respeitará o limite de uma pessoa por 8m² de área disponível.


Abertura do recinto:

 Em anos anteriores: 19h

Este ano: Para evitar aglomerações nas entradas, as portas abrirão, para os visitantes, às 16h.


Acampamento

Em edições anteriores:

 

O acampamento realizou-se no Parque do Serrado;

A pré-inscrição para o acampamento era obrigatória para autocaravanas e caravanas por razões de lotação;

Sem informação sobre distância entre tendas.


Este ano:

 O modelo de pré-inscrição é igual à edição anterior, mas campistas com tenda e caravanas e autocaravanas entram por locais diferentes;

As tendas deverão ser instaladas nos locais a indicar pela organização e reservar dois metros de distância entre si;

As autocaravanas, caravanas, atrelados e viaturas equiparadas são instaladas em espaço próprio com distanciamento de três metros;

A máscara não é obrigatória (apenas no acesso aos sanitários e no bar de apoio), mas recomendada. A utilização da máscara em recinto aberto é obrigatória no acesso aos sanitários e no bar de apoio;

PCP diz que a lotação de campistas irá ser limitada, mas não esclarece quanto.


Debates e comícios

Em edições anteriores: No último ano, a Festa contou mais de cinco dezenas de debates e comícios.

 Este ano: Não se registam diferenças significativas na programação, sendo que estão programados aproximadamente 50 iniciativas, espalhadas pelo auditório e pavilhões do recinto. O PCP não diz se os debates e comícios serão também serão com lugares sentados.

 

Espectáculos

Em edições anteriores:

 

No total existiam dez palcos ao longo do recinto;

As plateias ao ar livre não tinham limitação;

Os concertos podiam ser assistidos em pé;

Permitido beber álcool.


Este ano:

 Os palcos passam de dez para três;

As plateias passam a estar delimitadas a uma área de espectáculo (que aumenta para garantir o distanciamento);

Os lugares deixam de ser em pé e passam todos a ser sentados;

As cadeiras serão higienizadas após cada utilização;

Haverá marcação de lugares com a colocação generalizada de cadeiras, afastadas dois metros em si (excepto no caso de participantes que coabitam):

A circulação será feita por um só sentido;

Área do recinto da plateia: Palco 25 de Abril terá uma plateia de 16000m², o Auditório 1º de Maio terá cerca de 5000m², o Palco Paz 2000m²;

O teatro e cinema (Avanteatro e o Cineavante) passam a ser ao ar livre;

Não será permitido o consumo de bebidas alcoólicas nos recintos do espectáculo;

É criada a função de assistente de plateia, que irá intervir sempre que existam aglomerados.

Desporto

 

Em edições anteriores:

 No último ano, à semelhança dos anteriores, o programa teve bastante actividade desportiva, incluindo um sarau gímnico, boxe, torneio de malha, uma yoga, gala de dança desportiva, torneios de futsal, jogos de basquetebol em cadeira de rodas, demonstração de skate feminino, corridas e caminhadas.


Este ano:

 Por recomendação da DGS, não se realiza actividade desportiva


Exposições

Em edições anteriores:

 A feira do livro da Festa do Avante! decorria numa tenda;

As exposições não eram controladas à entrada;

Existiam equipamentos interactivos;


Este ano:

 Espaço do Livro passa a funcionar ao ar livre “numa área ampla e com sombra”

Haverá limitação do número de visitantes;

Número de paredes diminui 40%

As exposições são dispostas em circuitos lineares, com entrada e saída e controlo de entrada assegurado pela organização;

Não existirão equipamentos interactivos por serem de uso comum e toque frequente;

Uso de máscara é obrigatório.


Espaço criança

Anos anteriores:

 Espaço de ar livre com escorrega, baloiço, cesto, molas e escalada;


Este ano:

 Por orientação da DGS, estes cinco equipamentos não serão usados;

Haverá espaços de conto de histórias, peças com marionetas e fantoches, ateliers, gincanas, teatro;

Será instalado um carrossel de pequenas dimensões e será assegurada a sua higienização após cada utilização.


Restauração

Anos anteriores:

 A comida podia ser consumida ao balcão;

Podia ser consumido álcool a qualquer hora;


Este ano:

 Haverá 77 espaços de restauração;

As refeições serão consumidas exclusivamente em esplanadas (e não ao balcão);

A venda de álcool é proibida depois das 20h, à excepção se for para acompanhar uma refeição;

O acesso aos balcões para pré-pagamento deve ser feito de máscara e preferencialmente com cartão bancário contactless (para dispensar o toque);

tp.ocilbup@segrob.anailil



OPINIÃO

Costa e a festa do Avante!: é “cúmplice” e é responsável

 

A autorização da Festa do Avante é um enorme acto de desrespeito e de desprezo por todos os cidadãos.

 

PAULO RANGEL

1 de Setembro de 2020, 0:42

https://www.publico.pt/2020/09/01/opiniao/opiniao/costa-festa-avante-cumplice-responsavel-1929878

 

 1. A autorização da realização da Festa do Avante!, nos exactos moldes em que vai ter lugar, é um acto de desrespeito e de desprezo pelo povo português. Nem mais nem menos: desrespeito e desprezo. Primeiro, por parte do PCP, que não tem a decência nem a sensibilidade para abdicar, por uma vez, num contexto verdadeiramente excepcional, de uma das suas iniciativas emblemáticas. E depois, por parte do Governo e do primeiro-ministro Costa, que, do alto da sua arrogância e por razões obscuras, permitem ao PCP o que não autorizam a mais ninguém.

 

2. A concentração de dezenas de milhares de pessoas, num mesmo espaço e nesta precisa altura, é, antes do mais, uma ameaça colossal à saúde pública. Se não pode haver festivais de música nem concertos, se não pode haver público nos estádios de futebol, se se cancelaram festas e romarias por todo o país, mesmo quando os seus potenciais organizadores ofereciam garantias razoáveis de segurança, por que razão pode ter lugar um evento que em nada se distingue deles? E que, aliás, até associa e junta características de todos eles? O risco de surtos é por demais evidente. E é um risco com uma enorme probabilidade de disseminação nacional, já que os militantes e os participantes vêm de todo o país e regressarão ao país todo. O risco de efeito multiplicador é sério. Diante desta evidência, não há ninguém que compreenda porque temos de suportar este risco exponencial.

 

Mesmo que tudo corra pelo melhor e, por milagre, nada aconteça, os efeitos sobre a imagem de Portugal são altamente prejudiciais.

 

3. Mesmo que tudo corra pelo melhor e, por milagre, nada aconteça, os efeitos sobre a imagem de Portugal são altamente prejudiciais. O Governo e, designadamente, o ministro dos Negócios Estrangeiros, a dado momento, andaram a fazer uma triste figura por causa dos gravíssimos prejuízos que o condicionamento de fronteiras trouxe ao nosso turismo. Alimentaram novelas e teorias da conspiração, que a realidade se encarregou de desmentir. Quando os nossos pérfidos competidores passaram a números vermelhos, afinal também levaram com fecho e condicionamento de fronteiras (os casos da Espanha e da Grécia, em menor grau, falam por si). E assim que Portugal melhorou os seus números, as condicionantes foram levantadas. Agora, pergunta-se: como verão os nossos mercados potenciais a autorização de um enorme festival às portas de Lisboa (que foi precisamente a área mais visada pelas restrições e que tem o nosso maior aeroporto)? Como é que o mesmo Governo que se dizia altamente preocupado com o turismo autoriza um evento de massas que nos causará um brutal dano reputacional? Que imagem dá do país aos mercados turísticos a organização de uma festa bombástica com a chancela do Governo português? Será que Costa e os seus ministros pensaram nos efeitos sobre o turismo no mês de Setembro?

 

4. Mas ainda que não saia um único infectado deste insalubre festival e ainda que não se perca com ele um só turista, haverá sempre desrespeito e desprezo pelos portugueses. Autorizar a infausta Festa do Avante! é fazer tábua rasa do sacrifício que estão a fazer e por que estão a passar os artistas, os técnicos, as empresas de eventos e todas os sectores de actividade que lhes estão associados. Muitos desses trabalhadores já estão ou estarão em breve sem emprego, muitas dessas empresas já estão ou estarão dentro de pouco em insolvência. O sacrifício de toda esta gente foi feito – está a ser feito – em nome de um bem maior: a saúde. Mas, para o PCP e para a sua corte, não há proibições nem sacrifícios. O Governo, sabe-se lá a troco de quê, autoriza e ainda põe recursos ao serviço de uma festa de excepção. Sim, impressiona a quantidade de recursos que a Direcção-Geral de Saúde afectou à organização deste evento particular do PCP. Quando a Direcção-Geral de Saúde devia estar focada e concentrada no começo do ano lectivo, andou a desperdiçar recursos para planear um evento festivaleiro, que representará, ainda assim e sempre, um enorme risco sanitário. O PCP devia pagar ao Estado todo o dispêndio de recursos com o planeamento da sua festividade.

 

 Pior do que tudo isto: a autorização da Festa do Avante! é um enorme acto de desrespeito e de desprezo por todos os cidadãos. Todos os portugueses fizeram e continuam a fazer enormes renúncias para salvaguardar o bem maior da saúde pública. A grande maioria vai mergulhar numa terrível crise económica por causa dessas restrições e renúncias. Mas o primeiro-ministro Costa e o seu Governo, dando ao PCP este inqualificável privilégio, desrespeitam e votam ao desprezo essa fantástica atitude e disposição do povo português. Para usar uma expressão cara ao primeiro-ministro: os portugueses têm como prémio do seu comportamento extraordinário durante a pandemia poderem usufruir da inigualável Festa do Avante!. Nem toda a gente parou para pensar. Mas, se se vir bem, a Festa do Avante! tem um tratamento mais privilegiado e muito mais permissivo do que teve a Liga dos Campeões. Se a Liga dos Campeões era para recompensar os médicos, entretanto caídos em desgraça; a Festa do Avante! só pode ser para compensar a totalidade do povo português. Tamanho prémio não podia ter outro destino.

 

5. O Governo e o primeiro-ministro não têm desculpas nem escapatórias: são cúmplices e são responsáveis pela Festa do Avante!. O PCP só pode organizar as coisas como está a organizar porque conta com o apoio político directo de António Costa. Esta atitude surpreendente e incompreensível do primeiro-ministro mostra algo que se tem tornado cada vez mais notório e evidente. António Costa já “descolou” do sentir e da sensibilidade do povo português. Se muito poucos simpatizaram com a sua sanha contra os médicos, não há ninguém que não esteja indignado com o privilégio dado ao PCP. Na rua, os portugueses estão indignados com esta ligeireza e leviandade. E mais ainda com o duplo critério e o duplo padrão de Costa, do Governo e do PS. Senhor primeiro-ministro: “Com a saúde não se brinca.” Eis um dito popular de que, não tarda muito, Costa se vai lembrar.

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