CORONAVÍRUS
Lusitano, colectividade histórica lisboeta, fecha sede
que ocupava há apenas três anos
Como todos os pequenos clubes de Lisboa, colectividade
com 115 anos ficou sem receitas durante a pandemia e não consegue pagar a
renda. “Algumas colectividades se calhar não abrem mais”, diz dirigente
associativo. PCP pede apoios da câmara.
João Pedro Pincha
João Pedro Pincha
26 de Agosto de 2020, 19:47
Há três anos, com
ordem de marcha da sua sede histórica no coração de Alfama, o Lusitano Clube
subiu um pouco a colina e foi instalar-se nas Escolas Gerais, pronto a cativar
novo bairro e a prolongar ali uma existência já então centenária. Agora, a
colectividade está de saída dessas instalações.
A decisão de
encerrar a sede foi recentemente tomada, confirma o dirigente João Campos,
sublinhando que a pandemia tornou difícil garantir as verbas suficientes para
pagar a renda. “Isto ainda não é a extinção do clube”, frisa.
A actual sede do
Lusitano, nos números 25 a 29 das Escolas Gerais, é um espaço arrendado à
Câmara de Lisboa. Em 2017, mais de um ano depois de o senhorio ter comunicado
ao clube que teria de abandonar a sede da Rua de São João da Praça, que ocupava
desde 1905, a autarquia ajudou o Lusitano a encontrar esta nova casa.
Já não era o
coração de Alfama onde o clube nascera, se desenvolvera e definhara antes de
ganhar novo dinamismo por via de uma direcção mais jovem, mas era ainda centro
histórico da cidade e fervilhavam as ideias para captar novos públicos e
mostrar como um clube de bairro ainda podia ser relevante.
“A renda era
difícil de suportar. Fomo-nos mantendo à tona”, desabafa João Campos. O
Lusitano, ainda assim, teve alguma programação cultural e as receitas do bar
foram ajudando a lidar com as despesas correntes.
Até que chegou a
covid-19. Esta terça-feira, em comunicado enviado às redacções, os vereadores
do PCP revelaram que o Lusitano Clube quer “rescindir o contrato de
arrendamento” com a câmara e apontaram a pandemia como principal culpada: “A
situação que o país atravessa actualmente veio trazer problemas acrescidos a
estas colectividades, não permitindo uma actividade regular das suas
actividades tão importantes nos bairros históricos de Lisboa.”
Muitas vezes com
quotas irrisórias ou até sem elas, os pequenos clubes dependem dos habitués de
bairro que religiosamente passam para uma partida de cartas ou dos
aniversariantes que procuram fugir ao circuito mais corriqueiro dos jantares de
grupo.
Pedro Franco,
presidente da Associação das Colectividades do Concelho de Lisboa (ACCL),
confirma que “o que sustenta muitas colectividades são os bares e festas”. Por
isso, com os sócios metidos em casa e as sedes fechadas por causa do
coronavírus, o dinheiro vai escasseando. “Algumas colectividades se calhar não
abrem mais. Para algumas vai ser muito difícil”, diz Pedro Franco.
Durante o estado
de emergência, a câmara aprovou medidas de apoio financeiro às colectividades
lisboetas e o dirigente da ACCL diz ter conhecimento de clubes que apresentaram
candidaturas, mas não sabe em que ponto estão. Sabe é que os clubes não podem
continuar fechados, sob pena de se perderem de vez. “Não há ainda autorização
para que as colectividades possam abrir e estamos a tentar junto das entidades
obter mais informações”, garante Pedro Franco.
Nos últimos anos,
por fim dos contratos de arrendamento ou por desaparecimento dos seus últimos
sócios, várias colectividades de Lisboa fecharam e outras estiveram em risco de
encerrar. Aconteceu, entre mais, com os Amigos do Minho, com o Ginásio do Alto
do Pina, com os Leais Amigos, com o Sport Clube Intendente, com o Grupo
Excursionista do Castelo.
Num requerimento
que enviaram a Fernando Medina, os vereadores do PCP argumentam pela
“importância social, cultural e económica das colectividades de cultura,
recreio e desporto na cidade”, pedindo à autarquia “apoio efectivo” para que
possam continuar a trabalhar.
O Lusitano Clube,
para já, regressa à situação em que esteve quando saiu da Rua São João da Praça
e ainda não tinha casa nova. Dessa sede pôde despedir-se com um histórico
concerto do cantor romântico Marante, que nessa ocasião actuou pela primeira
vez em Alfama. Para estas instalações não há adeus público – só uma porta
fechada.
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