Ministério Público investiga Casa
Fernando Pessoa
Processo está em segredo de justiça, mas a Polícia Judiciária já fez várias
diligências. A EGEAC e a câmara não comentam
José António
Cerejo / 10-5-2014 / PÚBLICO
O Ministério
Público está a investigar a gestão da Casa Fernando Pessoa (CFP), cuja
directora artística, Inês Pedrosa, se demitiu no fim do mês passado, depois de
a EGEAC ter aberto um inquérito interno relacionado com factos revelados pelo
PÚBLICO em Janeiro. O processo está em segredo de justiça e a ProcuradoriaGeral
da República (PGR) nada diz enquanto tal situação se mantiver.
Em causa parecem
estar as circunstâncias em que uma pequena empresa que funciona em casa de Inês
Pedrosa foi contratada para fornecer diversos serviços à CFP, entidade tutelada
pela Câmara de Lisboa através da empresa municipal EGEAC. Em análise estará
também a contratação, através de pessoas das relações de Pedrosa, de serviços
jurídicos relativos a um fracassado projecto de criação da Fundação da Casa
Fernando Pessoa, serviços esses que foram integralmente pagos, mas ficaram
longe de ser concluídos.
Informações
recolhidas junto de várias fontes indicam que a Polícia Judiciária desenvolveu
já algumas diligências no âmbito do processo em curso, tendo-se deslocado nas
últimas semanas a vários serviços dependentes da Câmara de Lisboa, incluindo a
sede da EGEAC. Questionada sobre se a ida da PJ às suas instalações teve a ver
com a CFP, a administração da empresa respondeu apenas que “não presta
declarações sobre este assunto”. Já a câmara, à qual o PÚBLICO também pediu um
comentário, nada respondeu.
Por parte da PGR,
a existência da investigação não foi confirmada, mas a sua assessoria de
imprensa informou que “existem casos, como é o presente, em que as disposições
legais não permitem [à PGR] confirmar ou infirmar a existência de qualquer
procedimento”. A mesma fonte acrescentou que “neste caso, a indicação dessas
disposições legais implicaria a violação das mesmas”, referindo-se,
aparentemente, às regras do segredo de justiça. No entanto, em resposta a uma
nova pergunta, esclareceu: “Assim que este estado de coisas se alterar,
prestaremos a informação adequada.”
Há duas semanas,
após a divulgação da sua saída da CFP, Inês Pedrosa disse ao PÚBLICO que
deixava as suas funções porque tinha várias propostas editoriais em carteira,
mas reconheceu que tinha sido alvo de um inquérito na EGEAC. “Ouvi dizer que
lançaram um inquérito, mas nunca me mostraram resultados de inquérito nenhum”,
afirmou.
Os factos que
foram alvo daquele inquérito têm a ver com as adjudicações feitas por ajuste
directo a uma empresa de Gilson Lopes, um designer que vive em casa de Inês
Pedrosa. Tanto o empresário como Inês Pedrosa têm procurado atribuir as
responsabilidades dessas contratações a funcionários da EGEAC que, na prática,
eram subordinados da escritora e seguiam as suas indicações. Fora desse
inquérito ficou a contratação dos serviços jurídicos relativos à projectada
fundação, a qual foi feita directamente pela Direcção Municipal de Cultura.
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