Barclays despede 14 mil pessoas e
sai de Portugal
RAQUEL ALMEIDA
CORREIA 08/05/2014 – PÚBLICO
Operação em Portugal, que emprega 1600 pessoas, será vendida ou
simplesmente fechada.
O Barclays
anunciou nesta quinta-feira um profundo plano de reestruturação, que só este
ano conduzirá à eliminação de 14 mil postos de trabalho. A estratégia passa
pela criação de um veículo que agregará as actividades complementares da
instituição financeira, que pretende assim focar-se em apenas quatro grandes
áreas de negócio. De fora fica a operação em Portugal, que será vendida ou
suspensa.
Para o Barclays
Non-Core, uma espécie de bad bank onde serão agregados os activos que o grupo
não considera estratégicos ou que não estão a gerar o retorno desejado, serão
transferidas, por exemplo, as operações de retalho em Portugal, Espanha, Itália
e França. No comunicado divulgado no site da instituição financeira refere-se
que o grupo "procurará sair ou liquidar" estes negócios, a médio
prazo.
Numa nota
interna, a que o PÚBLICO teve acesso, o presidente executivo do negócio de
retalho na Europa escreve que se pretende continuar o "excelente trabalho
feito até agora", mas isto "independentemente de quem o venha a deter
ou a administrar". O comunicado assinado por Curt Hess dá, por isso, a
entender que estas actividades deverão ser alienadas.
Depois de uma
primeira reestruturação a nível europeu, que levou ao fecho de cerca de 100
balcões e à saída de 400 pessoas em Portugal, o Barclays tem hoje 147 agências
no país, onde trabalham perto de 1600 funcionários.
Fonte oficial do
Barclays respondeu ao PÚBLICO que o negócio de retalho na Europa "continua
a ser um negócio forte, progredindo no caminho para o crescimento e isso
mantém-se inalterado", acrescentando que "o foco do banco continua a
ser o de servir os seus clientes, bem como construir um banco premier
forte".
Sindicato quer
reunião com Barclays
“Surpreendidos,
mas não muito”, foi assim que o presidente da Federação do Sector Financeiro
(Febase) acolheu o anúncio vindo do Reino Unido na manhã desta quinta-feira. O
presidente, Rui Riso, espera que as operações existentes em Portugal sejam
compradas por outro banco e que, desta forma, os trabalhadores sejam integrados
nessa instituição financeira. Segundo o sindicalista, a federação “irá fazer
todos os esforços para que isso aconteça” e, caso não se venha a concretizar
uma transferência, irão entregar o caso ao Banco de Portugal para que “tomem
conta do assunto”.
A Febase já
contactou a UNI Global Union, uma plataforma internacional de sindicatos, com o
objectivo de agendar uma reunião com a administração do Barclays em Londres. A
intenção é perceber os impactos do plano de reestruturação anunciado pelo
banco.
Segundo o
presidente da direcção da Febase, o Barclays “ganhou muito dinheiro em
Portugal”. No entanto, com a crise, passou a considerar a operação em
território nacional "não estratégica”. Rui Riso adiantou que o grupo
chegou a empregar 2300 pessoas no país.
14 mil
despedimentos este ano
O bad bank, que
ficará com activos avaliados em 400 mil milhões de libras (487 mil milhões de
euros, ao câmbio actual), terá ainda sob sua alçada uma parte do negócio de
banca de investimento do Barclays, bem como "outros activos e operações
não estratégicas", lê-se no plano.
Esta decisão fará
com que o grupo se concentre em actividades específicas, como o retalho no
Reino Unido, o sistema de cartões de crédito Barclaycard, o negócio bancário em
África e a banca de investimento. "O Barclays será reposicionado,
simplificado e reequilibrado para melhorar o retorno significativamente",
refere o comunicado divulgado no site da instituição financeira.
A estratégia
elevará o nível de eliminação de postos de trabalho, que o grupo tinha fixado
entre dez e 12 mil no início do ano. Para 2014, as previsões apontam para a
perda de 14 mil empregos (10% do total), embora este número deva aumentar ainda
mais. Só na área da banca de investimento está estimada uma redução de sete mil
trabalhadores até 2016.
“Iremos ser um
banco internacional focado, vamos operar apenas em áreas em que tenhamos
capacidade, escala e vantagem competitiva”, afirmou Anthony Jenkins, presidente
executivo do Barclays, numa conferência com analistas que ocorreu na manhã
desta quinta-feira, noticiou a BBC.
Este anúncio
surge depois de o banco ter registado uma queda de 5% nos lucros no primeiro
trimestre deste ano. O negócio de banca de retalho fora do Reino Unido melhorou
os resultados, mas ainda assim gerou um prejuízo de 69 milhões de libras (cerca
de 84 milhões de euros).
Apesar deste
anúncio, as acções do Barclays não sofreram impactos negativos e continuam
nesta quinta-feira a valorizar-se mais de 5%.
com Salomé
Ferreira
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