Portugueses no centro, oposição
na sombra
LEONETE BOTELHO
04/05/2014 - PÚBLICO
Guia de leitura para a nuvem de palavras do discurso do primeiro-ministro.
Ao fazer o
anúncio da saída "limpa”, o primeiro-ministro pesou as palavras e a
análise em nuvem mostra isso mesmo. Tanto pelas repetições como pelas
ausências.
Foi um discurso
dirigido aos portugueses – “todos” –, em que toda a austeridade é colocada no
passado dos verbos (foi, enfrentaram, sofreram, sentiram), mas sem abrir
demasiada esperança à mudança de rumo no futuro. “Foram tempos muito difíceis”,
mas “estamos no caminho certo para construir a sociedade a que os portugueses
aspiram e merecem”, frisou, usando numa frase algumas das ideias mais repetidas
na intervenção.
O caminho,
portanto, é para manter e talvez por isso Passos Coelho nunca se referiu, senão
de passagem, ao alívio das dificuldades – palavra que aparece ao mesmo nível de
“consequências” e “determinação”. Passos sabe que “os portugueses querem ver
concretizados esses resultados” nas suas vidas, mas não se compromete mais do
que dizer que é objectivo do governo garantir que estes “chegarão a todos tão
rapidamente quanto possível”.
Mas foi também um
discurso dirigido à oposição, em especial ao PS, que apesar de nunca ser
mencionada é colocada de fora do sucesso dos "resultados", outra
palavra várias vezes repetida. “Não” aos caminhos do passado, não a novas
perspectivas de “bancarrota”, como no “colapso” de 2011. Sem nunca nomear o PS,
Passos manteve-o sempre presente nas entrelinhas.
Lembrou que
quando o "programa" – outra palavra em destaque, mas também ela
sempre no passado – de 2001 foi negociado, o governo socialista contou com o
apoio dos principais partidos da oposição, hoje no governo. “Infelizmente
quando foi preciso cumprir o programa, um apoio idêntico não existiu”.
Em compensação, a
palavra “parceiros” surge várias vezes, a par de “confiança” e um pouco menos
que “economia”, apontada como a grande prioridade, tal como o emprego.
Da nuvem, uma
leitura instantânea salta à vista: à parte o grosso “não” para os magros
“resgate”, “incerteza”, “colapso” e “emergência”, a aposta em mensagens
positivas: confiança, credibilidade, liberdade, esperança, consenso, construir,
democracia, crescimento, história e expectativas. A última frase é o slogan que
se segue: “Depois do que juntos conseguimos, não há nada que juntos não
possamos alcançar”.
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